quarta-feira, 24 de junho de 2009

João Vasconcelos candidato em Portimão


Em sessão realizada na Biblioteca Municipal, com a presença de Francisco Louçã, o Bloco de Esquerda apresentou os seus candidatos autárquicos no município de Portimão: João Vasconcelos será candidato à Câmara, Luisa Penisga lidera a lista à Assembleia Municipal e Simeão Quedas concorre à Assembleia de Freguesia da cidade. Leia na íntegra a intervenção de João Vasconcelos.

Car@s amig@s e companheir@s,

Aqui estamos de novo para protagonizar uma candidatura bloquista à Câmara de Portimão, Assembleia Municipal e Assembleias de Freguesia de Portimão, Alvor e Mexilhoeira Grande.

Não têm sido tempos fáceis, têm sido sim, muito difíceis. Mas já contávamos com isso. Fomos à luta, não vergámos, aumentámos a simpatia dos Portimonenses pelo Bloco e, até, conquistámos o respeito dos nossos adversários.

Como todos sabem, o Partido Socialista governa os destinos desta Câmara já vai para 33 anos. Transformou a cidade e o concelho numa autêntica “coutada” onde, para se conseguir um emprego, mesmo precário que seja, tem que se ter o cartão do partido. O polvo alastra, o clientelismo e a mexicanização não param. A cidade de Portimão foi descaracterizada, a betonização ocupa todos os espaços livres, os espaços verdes são uma miragem, as grandes superfícies proliferam e destroem o que resta do comércio tradicional.

Enquanto se agravam as condições de vida da população local, fruto da crise mas, principalmente, das políticas de desastre nacional do governo Sócrates, gastam-se milhões em fogos de artifício, em festas de pompa e circunstância e show of televisivo. Há fome em Portimão e há pessoas à míngua de uma habitação condigna, ou a viver em casas degradadas. Os bairros periféricos da cidade foram abandonados pelo poder local e funcionam como uma “bomba relógio ao retardador”. Aí grassa a insegurança, a marginalidade e a exclusão social. Portimão figura em número um a nível do desemprego do Algarve e ocupa um dos índices mais elevados de pessoas sem trabalho no país.

Já não bastavam as benesses e os privilégios concedidos pelo Executivo a grandes grupos económicos privados. Já não bastavam as dezenas de milhões concedidos e a conceder a esses grupos por meio de patrocínios escandalosos (quando não há uns míseros patacos para pagar um vigilante para fazer segurança nas escolas). Já não bastavam todas estas Empresas Municipais e Sociedades Anónimas criadas – cerca de 10! Empresa de Águas e Resíduos; Portimão Turismo, para os eventos; Mercado Municipal, para as frutas e legumes; Portimão Renovada, para a reabilitação urbana; Expo-Arade Estrutura para gerir o Pavilhão Arena, as festas e os espectáculos; Rio Adentro, para tratar da reabilitação da zona ribeirinha; Pavilhão Arade, para os fados e concertos; uma empresa para tratar dos parques subterrâneos; uma Fundação, que está difícil de criar, para gerir o Teatro. E no fim temos uma super empresa que se substitui à Câmara Municipal e que vai superintender praticamente todas as outras – a Portimão Urbis, uma sociedade de gestão urbana. A Câmara de Portimão está transformada numa enorme S. A., onde os interesses privados se sobrepõem ao bem público. São mais despesas, mais conselhos de administração, mais regalias, só para alguns, claro. Um autêntico regabofe, meus senhores.

Não bastava tudo isto, minhas senhores e meus senhores, agora a situação é bem mais grave. Como já não tem capacidade de endividamento – fala-se em 250 milhões de dívidas – a Câmara Municipal vai vender, alienar grande parte do seu património: os Paços do Concelho, o Teatro Municipal, a Casa das Artes, a Piscina, a Biblioteca, o Pavilhão Gimnodesportivo, o Auditório Municipal, o Pólo da Universidade do Algarve, o Complexo de Ténis e o Polidesportivo dos Montes de Alvor. E até se fala já em vender escolas do 1º ciclo, infantários, creches, blocos camarários e por aí fora. A Câmara vende, depois aluga os imóveis e paga uma renda, o que é extraordinário! Esta delapidação dos bens públicos é inaceitável e ofende a consciência e a dignidade dos cidadãos e de todos os Portimonenses! Além de hipotecar o futuro dos Portimonenses por força de uma dívida astronómica.

Com mais autarcas do Bloco eleitos, incluindo um vereador, isto não acontecerá. Grande parte da oposição que por aí gesticula e barafusta, afinal também aprovou estas negociatas.

Com um vereador do Bloco eleito não seria assinado um vergonhoso Protocolo – como aquele que foi assinado pelo Executivo e por todos os vereadores da oposição – com a Butwell, proprietária da Quinta da Rocha (Ria de Alvor), que é como «pôr o lobo a guardar os cordeirinhos», depois dos atentados ambientais cometidos.

Antes de avançar com alguns objectivos e prioridades da nossa candidatura, também é tempo de se fazer um breve balanço do que tem sido a actuação, ao longo destes últimos 4 anos, dos 3 autarcas eleitos pelo Bloco – 2 na Assembleia Municipal e 1 na Assembleia de Freguesia de Portimão.

O Bloco de Esquerda, com representantes eleitos na Assembleia Municipal e na Assembleia de Freguesia de Portimão tem feito uma oposição frontal, construtiva, tem apresentado alternativas credíveis e necessárias e denunciado o pretenso rumo que caracteriza a governação do PS no nosso concelho. Ao longo destes últimos 4 anos o Bloco de Esquerda fez várias intervenções e apresentou mais de 100 documentos, entre moções, requerimentos, recomendações e outras intervenções, muitas delas aprovadas, em defesa dos mais necessitados e por uma melhor qualidade de vida, em prol do concelho de Portimão e dos seus habitantes. Vejamos algumas dessas propostas:

- construção de uma passagem aérea para peões no Bairro Cruz da Parteira, sobre a antiga Estrada 125;

- construção de um terminal rodoviário há dezenas de anos prometido;

- saudação aos trabalhadores contra o Código do Trabalho;

- saudação às lutas dos professores contra a famigerada avaliação;

- a favor da 1ª hora de estacionamento gratuito nos parques subterrâneos automóveis como forma de dinamizar o comércio local;

- contra as propostas de executivos autárquicos monocolores;

- a criação de um Conselho Municipal de Imigrantes e Minorias Étnicas, que contribua para a sua legalização, trabalho com direitos, residência, cultura e integração;

- a oposição à nova Lei das Finanças Locais, visto agravar a dependência financeira das autarquias dos chamados impostos do “betão”;

- diversas propostas para a redução das taxas do IMI e contra os aumentos absurdos e exagerados dos aumentos das tarifas da água, saneamento e resíduos sólidos;

- construção de uma sede condigna para a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, que se reúne na esquadra da PSP;

- oposição à construção de novas superfícies comerciais no perímetro da cidade, o que vai destruir o que resta do pequeno comércio tradicional;

- a defesa acérrima da Ria de Alvor e condenação dos crimes ambientais aqui praticados;

- pela construção de um novo Centro de Apoio a Idosos, de serviço público;

- pela requalificação dos bairros periféricos da cidade, como a Coca-Maravilhas, Cardosas, Cruz da Parteira e Bairro Pontal;

- uma proposta declarando Portimão livre de transgénicos;

- reprovação das linhas de alta tensão sobre as localidades de Alcalar e do Poio;

- contra o encerramento do SAP de Portimão;

- desconto no Vai Vem aos cidadãos portadores de deficiência;

- construção de ciclovias e vias cicláveis pela cidade e no concelho;

- por uma protecção junto ao rio na zona ribeirinha;

- a defesa dos moradores do Bairro Pontal contra projectos de realojamento em blocos de betão;

- promover a valorização da Casa das Artes;

- condenação da construção de betão e mais betão na cidade, assim como nas falésias e arribas;

- a defesa de uma reabilitação equilibrada e sustentada ambientalmente na Praia da Rocha;

- a proposta para a implementação de um orçamento participativo;

- uma melhor cultura e desporto para as camadas jovens;

- pela implementação de um Plano Verde;

- pela construção de uma nova ETAR;

- as proposta em defesa da pesca lúdica e pela construção de um matadouro regional no Algarve;

- alguns meses atrás a proposta de criação de um Gabinete Anti-Crise e que foi aprovada por unanimidade, com a finalidade de se atenuar e resolver situações de pobreza, exclusão social, endividamento de famílias e de pequenas empresas.

Esta é a política do Bloco de Esquerda em Portimão (e por todo o país), bem diferente do rumo do Partido Socialista. Uma política alternativa necessária e de esquerda socialista e popular.

Temos objectivos: senão derrotar, pelo menos retirar a maioria absoluta ao Partido Socialista com a conquista de um vereador e de mais autarcas bloquistas. Continuar a trabalhar em defesa dos interesses dos Portimonenses e de Portimão – as pessoas em primeiro lugar! Apenas prometemos trabalho e mais trabalho. Com determinação, responsabilidade e confiança.

As nossas principais prioridades irão assentar em torno de 6 grandes linhas de actuação:

- promoção e reforço das políticas sociais para vencer a crise;
- pela defesa ambiental e qualidade de vida para todos, sem exclusões;
- por um desenvolvimento sustentável;
- pela transparência absoluta e contra a corrupção;
- aposta e dinamização numa cultura e desporto ao serviço de todos e não só para alguns – jovens, mulheres, adultos e terceira idade;
- reforço da cidadania participativa.

Iremos construir o nosso programa eleitoral com as pessoas, ouvindo as suas reivindicações e propostas. Com as associações e outras instituições.

Quanto às políticas sociais é de urgência premente acudir aos mais carenciados, àqueles que têm fome, que estão desempregados e que vivem com grandes dificuldades. Que se tenha em conta o endividamento das famílias e das pequenas empresas. Só assim será possível vencer a crise. Em vez de se gastar tantos milhões em patrocínios, festas e espectáculos, a prioridade é investir mais nas pessoas, resolvendo, ou pelo menos atenuando as suas dificuldades.

Portimão necessita de um Programa Polis para a requalificação e reabilitação social dos bairros das áreas suburbanas, que contemple infra-estruturas e apoios sociais adequados, combatendo a exclusão social e a formação de guetos.

Continuaremos o nosso persistente trabalho em defesa e preservação da Ria de Alvor, uma das áreas húmidas mais importantes do Algarve e do país. E que o proprietário da Quinta da Rocha cumpra aquilo que se exige – a reposição, a suas expensas, dos habitats e espécies destruídas, tal como defendem as associações ambientalistas e o que foi aprovado, por unanimidade, na Assembleia Municipal. Oposição a qualquer projecto de betonização da Ria e que toda esta área seja declarada zona de paisagem protegida. Estaremos alerta e contra qualquer tipo de PIN’s, ditos de “potencial interesse nacional”.

Defenderemos uma moratória contra a construção de novas grandes superfícies comerciais, em particular no perímetro da cidade, o que só conduz à destruição do que resta do pequeno comércio tradicional. Defenderemos a implementação de um programa de urgência de apoio a este tipo de actividade.

Somos a favor de um autêntico Plano Verde, ciclovias e vias cicláveis que tenha em conta o equilíbrio ambiental e a qualidade de vida dos cidadãos.

Não admitiremos a alienação do património municipal. Por um Plano de reestruturação e extinção de Empresas Municipais e S. A.’s – Transparência absoluta é o que continuaremos a exigir.

Construção de uma gare rodoviária, há 30 anos prometida. Promoção de uma política desportiva que favoreça os mais jovens e outros cidadãos em prol de uma melhor saúde e adopção de uma política cultural que beneficie toda a população. E continuar a defender todas as nossas propostas anteriormente apresentadas e que não vingaram.

Continuaremos a ser uma energia alternativa e uma esquerda de confiança. Podem contar connosco, nós esperamos continuar a merecer a vossa confiança. O nosso lema será: “As pessoas em primeiro lugar”.

[bloco.org]

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Apresentação dos cabeças-de-lista/BE aos órgãos autárquicos de Portimão e análise dos resultados das Europeias


Reunida este fim-de-semana, a Comissão Coordenadora Concelhia do Bloco de Esquerda de Portimão, entre outros assuntos, analisou os resultados eleitorais obtidos por esta força política nas eleições europeias. Em primeiro lugar, a Concelhia congratula-se vivamente pelos resultados conseguidos a nível nacional e pela eleição de 3 eurodeputados, destacando a excelente percentagem no Algarve – cerca de 15% - e, muito particularmente, os votos contabilizados no concelho de Portimão – 17,09%.


Em segundo lugar, a Concelhia local agradece a todas as mulheres e a todos os homens Portimonenses a confiança depositada no Bloco de Esquerda, expressa com os seus votos. Confiança que não será defraudada. O Bloco irá retribuir, continuando a trabalhar pela defesa dos mais fracos, do ambiente, da justiça social e na economia, pela transparência absoluta, contra as políticas neo-liberais de destruição dos serviços públicos, por um modelo de sociedade alternativo ao actual, injusto e desigual.


Em Portimão, como por todo o país, as políticas absolutistas e anti-nacionais do governo Sócrates/PS também foram derrotadas e o Bloco contribuiu decisivamente para essa derrota. Também é possível derrotar Sócrates nas Legislativas. E estão criadas melhores condições para derrotar, ou pelo menos, retirar a maioria absoluta ao PS de Portimão, que governa este concelho há 33 anos! Só o Bloco de Esquerda o conseguirá fazer, pois a restante oposição não existe, ou revela-se demasiado fraca, face aos diversos interesses partilhados com o poder.


Com mais autarcas do Bloco eleitos não terão lugar patrocínios escandalosos de dezenas de milhões de euros ao Autódromo do Algarve, enquanto há tantas pessoas na miséria e a passar fome e quando o índice de desemprego é dos mais elevados a nível nacional e o maior no Algarve.


Com mais autarcas do Bloco eleitos não seria assinado um vergonhoso Protocolo – como foi pelo Executivo e por todos os vereadores da oposição – com a Butwell, proprietária da Quinta da Rocha (Ria de Alvor), que é como «pôr o lobo a guardar as ovelhas», depois dos atentados ambientais cometidos.


Com mais autarcas do Bloco eleitos não sucederá o regabofe actual que se verifica à volta da criação de tantas S. A.’s e Empresas Municipais e a alienação, também vergonhosa e escandalosa, do património da Câmara Municipal, que é de todos nós, onde vão ser vendidos 10 imóveis – os Paços do Concelho, o Teatro Municipal, a Casa das Artes, a Piscina, a Biblioteca, o Pavilhão Gimnodesportivo, o Auditório Municipal, o Pólo da Universidade do Algarve, o Complexo de Ténis e o Polidesportivo dos Montes de Alvor. A Câmara vende, depois aluga os imóveis e paga uma renda, o que é extraordinário! Esta delapidação dos bens públicos é inaceitável e ofende a consciência e a dignidade dos cidadãos e de todos os Portimonenses! Estes são apenas alguns exemplos.


As pessoas em primeiro lugar! Juntos, vamos conseguir. Com determinação, responsabilidade e confiança. Chegou a hora dos Portimonenses apostarem com mais força numa esquerda nova, socialista e popular – o Bloco de Esquerda.


Eleitos por unanimidade na assembleia concelhia, serão apresentados publicamente os primeiros candidatos pelo BE aos órgãos autárquicos de Portimão, no próximo dia 23 de Junho (Terça-Feira), a partir das 21.30 horas, na Biblioteca Municipal Manuel Teixeira Gomes.


Esta apresentação contará com a presença do deputado Francisco Louçã.


Desde já se agradece aos diversos órgãos de comunicação social que estejam presentes na referida sessão pública.



A Comissão Coordenadora Concelhia


do BE/Portimão

terça-feira, 9 de junho de 2009

Celebrar a vitória e... voltar a colocar os pés no chão...


Os resultados foram óptimos, no entanto as autárquicas são outra coisa. Tenho amigos que votaram BE e que nas autárquicas pensam votar PSD , julgam que o voto no PSD é uma alternativa mais viável, com mais hipóteses de eleger uma oposição ao partido Xuxialista, temos de explicar a essa gente que isso é mais do mesmo....Temos muito para fazer e as alegrias descontroladas não costumam ser boas conselheiras...há muito trabalho pela frente e tem de ser bom trabalho....



abraços blokistas
saúde e socialismo "do bom!".


Fernando Gregório

segunda-feira, 8 de junho de 2009

E se fossem outras eleições?

Quantos deputados o BE elegeria no Algarve se estes resultados ocorressem em legislativas?

PS - 3
PSD - 3
BE - 1
CDU - 1

E quais seriam os resultados se fossem autárquicas (para Portimão)?

Câmara:

PS - 3
PSD - 2
BE - 1
CDU - 1

Assembleia Municipal:

PS - 7
PSD - 6
BE - 4
CDU - 2
CDS/PP - 2

(aos quais se juntariam, claro, os presidentes de junta)

Diga-se que o BE estaria mais perto de elegar o 2º deputado à AR, o 2º vereador ou o 5º deputado municipal do que de eleger menos do que o apresentado acima.

Os resultados foram tirados daqui e tratados depois usando o método de Hondt.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

EM VEZ DA EUROPA



Nos últimos quinze anos, o modelo social europeu foi minado por dentro e por fora, através de uma insidiosa convergência entre o neoliberalismo imposto pelos EUA e as elites econômicas e financeiras europeias, desejosas de se verem livres da regulação estatal forte e dos custos das políticas sociais.

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Boaventura de Sousa Santos








Num período em que os governos nacionais se mostram reféns do modelo de (des)regulação neoliberal e da pequena elite financeira que causou a profunda crise econômica e social em que nos encontramos, o próximo ato eleitoral bem poderia ser a vez da Europa. Pelo seu voto, os cidadãos europeus teriam a oportunidade de se manifestar a favor de uma outra política e de um outro modelo econômico e social.

Esta oportunidade pareceria particularmente imperdível para os portugueses, em cuja memória está bem vincada a profunda transformação, em larga medida positiva, por que passou a sociedade portuguesa em resultado da adesão à União Europeia. Porque não é assim? Porque é que as próximas eleições, longe de serem a vez da Europa, têm lugar em vez da Europa? Porque é que, em vez da Europa, o que vai a votos é tão só a resignação ou a revolta dos cidadãos europeus perante as políticas dos governos nacionais?

Porque é que o provável alto grau de abstenção será uma mistura envenenada e paradoxal de altos níveis de resignação e de altos níveis de revolta?A resposta é complexa mas os seus traços principais são os seguintes. A UE é hoje um fantasma da Europa.

Existe em vez da Europa em que os cidadãos europeus acreditavam e para ocultar a verdadeira dimensão da “substituição”. Um exemplo apenas. A UE foi um dos mais fascinantes processos plurinacionais contemporâneos, inspirado numa lógica de inclusão social transnacional, assente num círculo virtuoso entre altos níveis de competitividade e de proteção social, portadora de uma concepção avançada de cidadania em cujo cerne se alojavam os direitos econômicos e sociais dos trabalhadores.

Foi este, em suma, o célebre modelo social europeu.Nos últimos quinze anos, este modelo foi minado por dentro e por fora, através de uma insidiosa convergência entre o neoliberalismo imposto pelos EUA e as elites econômicas e financeiras europeias, desejosas de se verem livres da regulação estatal forte e dos custos das políticas sociais.

Paulatinamente, os cidadãos europeus foram sendo “convencidos” de que o Estado era um problema e que o mercado era a solução, que a segurança social era insustentável, que a educação e a saúde públicas eram cerceadoras da autonomia do cidadão-consumidor, que os imigrantes eram um fardo e um fator de insegurança, que, no plano internacional, a Europa devia deixar de ser uma alternativa à globalização predadora protagonizada pelos EUA para ser um seu parceiro incondicional.

Tudo isto se foi convertendo na obsessão pela contenção do déficit orçamentário, condensada no Pacto de Estabilidade e Crescimento que nos legou uma cultura de travagem da economia real e de destravada aceleração da economia de casino da alta finança.

Foram estas políticas europeias que geraram a crise e que, ao converterem os governos nacionais em mini-europas, os deixaram com pouca margem de manobra para reagir quando a crise estalou.

Nos últimos anos, Durão Barroso foi a imagem mais fársica desta Europa-em-vez-da-Europa e, por isso, o Plano Barroso para enfrentar a crise não podia deixar de ser um embuste: dos 400 bilhões de euros anunciados para ajudas às políticas de resposta só 35 bilhões eram dinheiro fresco; o resto era dinheiro já afetado aos planos nacionais. Podem os cidadãos europeus acreditar numa Europa que, ao manter Durão Barroso, mostra mais dificuldades em se libertar da herança Bush que os próprios EUA?

Nestas eleições, os cidadãos vão ter de esperar pela vez da Europa. A Europa da solidariedade e da interculturalidade; da democracia de alta intensidade; do controle público e participativo dos setores-chave, como o setor financeiro e da energia; da defesa; do direito ao ambiente, à saúde e à educação e do direito ao trabalho com direitos; da política de imigração anti-racista; da política de investigação e de desenvolvimento tecnológico ao serviço dos cidadãos; da política externa assente na cooperação fraterna com os países do Sul global e na recusa da imposição unilateral e da guerra.

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Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Debater a experiência Venezuelana






Um retrato honesto da experiência venezuelana






Livro analisa conquistas e limites do processo político venezuelano. Em "A Revolução Venezuelana", Gilberto Maringoni desvenda o enigma oculto sob a campanha midiática anti-chavista: como é possível que um caudilho supostamente tão desastrado mantenha altíssimos índices de apoio popular durante tanto tempo? Para o autor, é errado reduzir, como insistem os detratores da experiência venezuelana, o prestígio de Chávez à bonança petroleira da última década. O artigo é de Igor Fuser.
Igor Fuser (*)









Na lista dos demônios da mídia empresarial, o posto número 1 pertence, disparado, a Hugo Chávez, com sua boina vermelha e língua ferina. Raramente se passa um dia sem que alguma publicação da chamada “grande imprensa” despeje regulares doses de veneno contra o presidente venezuelano, apresentado como louco, fanfarrão, ditador ou incompetente.
Essa cantilena se mantém há mais dez anos. Para ser exato, desde o início de 1999, quando o antigo coronel iniciou, após sua chegada ao governo, a transformação de um dos países de estrutura social mais iníqua no planeta – mais de 50% dos habitantes na miséria, em contraste com os lucros nababescos das exportações de petróleo – em uma referência mundial para todos os que cultivam os valores da justiça e da igualdade.
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O livro de Gilberto Maringoni (A Revolução Venezuelana, Editora Unesp, 2009) merece ser saudado com um antídoto perfeito contra a manipulação informativa que, na imprensa brasileira, atingiu as raias de uma lavagem cerebral. Jornalista e historiador, Maringoni fala de um tema que conhece em primeira mão.
Viajou várias vezes à Venezuela e lá entrevistou quase todos os nomes que valiam a pena no tumultuado enredo político local – dos caciques da oposição conservadora, como Teodoro Petkoff, às figuras mais graduadas do regime esquerdista, entre as quais o próprio Chávez, além das mais variadas fontes na esfera acadêmica.Com dados confiáveis em mãos, o autor desvenda o enigma oculto sob a campanha midiática anti-chavista: como é possível que um caudilho supostamente tão desastrado mantenha altíssimos índices de apoio popular durante tanto tempo? É errado reduzir, como insistem os detratores da experiência venezuelana, o prestígio de Chávez à bonança petroleira da última década.
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A Venezuela já viveu outros períodos de alta dos preços do petróleo, sem que a população tivesse tido acesso a mais do que umas magras migalhas do banquete. A marca da gestão chavista é algo que as primeiras gestões municipais petistas defendiam no Brasil e que, lamentavelmente, diluiu-se no lodaçal dos compromissos com as classes dominantes: a inversão das prioridades em favor das multidões oprimidas, ainda que ao preço do confronto aberto contra as elites privilegiadas.
Na Venezuela, os gastos sociais aumentaram de 8,2% do PIB, em 1998, para 13,6% em 2006. Os índices de pobreza caíram de 55,1% para 27,5%.
O salário mínimo se elevou numa escala sem precedentes em qualquer outro país do chamado Terceiro Mundo e milhões de venezuelanos passaram a ter acesso a uma infinidade de benesses antes inalcançáveis – desde serviços essenciais, como assistência médica e dentária, aos ícones do consumo descartável, como telefones celulares.
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Nesse cenário em que a mudança passa do plano da retórica para a existência cotidiana, torna-se fácil entender porque Chávez foi vitorioso em todas as freqüentes consultas eleitorais que promoveu, com apenas uma exceção.
O grande mérito de Maringoni é que ele não se limita a salientar as conquistas do processo político venezuelano, mas também aponta, sem medo de entrar em polêmica com os defensores mais entusiastas do chavismo, os limites do festejado “socialismo do século XXI”. Concretamente: após dez anos de “revolução bolivariana”, o velho modelo de desenvolvimento dependente latino-americano, erigido com base na exportação de produtos primários (no caso, o petróleo), permanece inalterado.
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Os ganhos desse modelo, é verdade, passaram a beneficiar, pela primeira vez, a maioria da população, sobretudo depois que Chávez retirou a estatal Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA) das mãos da camarilha que a controlava, enquadrando a empresa sob o controle público. Mas o caminho ainda está no seu início: “O Estado continua ineficiente, lerdo, corrupto e avesso às interferências populares”, escreve o autor. Mesmo que seja prematuro falar em uma verdadeira revolução na Venezuela, é inegável que o governo de Chávez mudou a face política daquela sociedade e, em certa medida, de toda a América do Sul.
A influência venezuelana se faz presente em todo um conjunto de países onde, pela primeira vez, o poder de Estado passa a ser exercido em benefício das maiorias.
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Como afirma Maringoni, referindo-se à época de ofensiva conservadora mundial pós-1989: “A Venezuela é, com todos os problemas, o país onde mais se avançou, nesse período, na contestação ao neoliberalismo e no questionamento do poder global dos Estados Unidos.” Aí reside a explicação para o ódio que Chávez desperta entre os donos da mídia brasileira e internacional. Ele é, de fato, um sapo difícil de engolir.(*)




Igor Fuser é jornalista, professor na Faculdade Cásper Líbero, mestre em Relações Internacionais e doutorando em Ciência Política na Universidade de São Paulo.



Título: A Revolução Venezuelana

Autor: Gilberto Maringoni

Número de páginas: 200Formato: 10,5 x 19 cm

Preço: R$ 20

CHE

Não quero nunca renunciar à liberdade deliciosa de me enganar!
Humildemente subescrevo
F gregorio

A “MINORIA” QUE É TEMIDA

Faço parte de uma minoria maioritária. Faço parte da “espécie” feminina.

É obviamente uma maioria pois não há dúvidas que em termos estatísticos somos em maior número em comparação com o género masculino. E, somos consideradas uma minoria pela forma como homens (e até algumas mulheres) pensam, agem, reagem e tratam as mulheres a nível relacional. Há quem pense ainda que as mulheres querem ser “tratadas” e “protegidas” pelos homens como se estas fossem galinhas dentro de capoeiras à espera que o seu Senhor e Dono venha lançar umas quantas maçarocas de milho.

Como boa “minoria”que é qualificada na mente de muitos, é alvo de discriminação, é espezinhada, violentada, ofendida, minimizada, e sobretudo ignorada e subestimada nas suas diversas capacidades. Tratam as mulheres com ar de compaixão e complacência como se fossem mais fracas, incapazes de raciocinar, agir, defender-se a si mesmas, acreditando até que as suas emoções (que pensam erradamente serem diferente da emoção que existe dentro dos corpos dos homens) são o fruto de determinadas oscilações ou desequilíbrios provenientes dos dias de menstruação, que vulgarmente dizem “os tais dias” como se fosse um segredo vergonhoso ter um ciclo menstrual que dá origem ao berço da vida.

Toda esta forma de minimizar a mulher é fruto de uma cultura que vem lá de trás, e os historiadores bem sabem melhor do que eu o que deu origem a este comportamento estereotipado e discriminatório. A verdade é que vejo o homem com medo e receios infundados perante a inteligência, e pragmatismo objectivo das mulheres. Vejo em muitos deles uma forma insegura de lidar com as mulheres, fruto de um medo, pavor mesmo de perder o dito poder e controlo até nas suas casas.

Dizem alguns desde que nasci que sou feminista…. Ora machista como muitos é que não serei concerteza. E nada pior que uma mulher machista que ao ter os seus filhos transmite os seus valores e princípios recalcando os seus próprios direitos enquanto mulher – daí, nascem e nasceram grandes machistas homens que nunca foram tão piores como as suas ricas mãezinhas.

Percebe-se o machismo nos olhares, nas palavras, nas meias palavras, nos comportamentos, nas atenções que nos lançam ….. gosto de igualdade mas creiam que ainda gosto mais de respeitarem a minha diferença enquanto mulher… gosto de cavalheirismo, gosto que me abram a porta do carro, agradeço quando me convidam e pagam um jantar, fico contente por me defenderem enquanto ser humano… só não gosto que pensem que sou uma incapaz e que sou menos forte psicologicamente só porque uso uma vagina em vez de um falo.

Sou mulher. Encontro em mim um mundo cheio de flores, árvores, colinas, montanhas, rios, mares, castelos, palácios e céus sem limite, onde dificilmente encontro o entendimento deste meu mundo por parte dos homens. Faço parte do aglomerado de Seres Humanos que dão a respiração, sangue, carne com alma, a vida a outros seres no acto de parir. Sinto em mim o que há na maioria das mulheres, sinto a poesia e a politica que abraço por ser profundamente realista, frontal, empreendedora, objectiva, pragmática e capaz de aproveitar a minha sensibilidade para melhor captar os que sofrem e têm dificuldades diversas.

O romantismo que manifesto e aprecio em mim, nada empurra a minha objectividade e capacidade de força bruta (mental) para lidar com os problemas que surgem pela vida fora. Encara-se esta vivência como um desafio, e não como um muro alto inultrapassável, e num ápice a mulher torna-se “El Torero” enfrentando de frente os cornos do touro.

Muitas são exactamente como eu, mas tal como pedras preciosas em estado bruto, por motivos de socialização ou de cultura envolvente, ou por algum outro motivo ao qual sou alheia, não conseguem ainda perceber e utilizar as suas potencialidades e exercer os seus direitos, deixando assim os Homens falarem e agirem por elas, até na política.

Mas, na política como na vida social em geral, quem melhor que uma mulher para falar das mulheres? Quem melhor do que uma mulher para dizer o que sente, pensa e quer ou precisa? Será que os homens são os mandatários ideais? Será que alguém lhes passou uma procuração a nível político para defenderem os meus direitos e eu não dei conta?

Repare-se… na política pouco se fala dos direitos das mulheres quer pelas mulheres, quer pelos homens. O discurso das mulheres é pouco e até bastante fraco, resumindo-se a meia dúzia de temas, sobretudo o da violência doméstica que muito temos que trabalhar, … mas este tema mais uma vez transforma a mulher numa pobre vítima incapaz de se defender do “vilão do macho”. Resume-se a mulher á vítima que infelizmente várias vezes efectivamente o é. Mas a mulher é bem mais que isto… e só uma mulher entende realmente as “coisas” de outra mulher, e consequentemente tem capacidade e até legitimidade para a defender! Pois uma mulher representa outra mulher com verdadeiro sentido de paridade.

Nada tenho contra os homens que falam e protegem os direitos civis, humanos e outros das mulheres…mas sei, tenho a certeza, que são somente um clone, um espelho pouco translúcido daquilo que a mulher realmente é e precisa.

Quero uma política activa que se imponha diante dos que têm liderado a política nacional, os homens. Quero uma acção política mais realista diante dos reais problemas que as cidadãs portuguesas sentem diariamente. Quero ser representada por mulheres, e quero eu representar outras. Quero um partido que não me diga que uma mulher ou outra tem de fazer parte deste ou de outro cargo político “só” porque há necessidade de existir a tal paridade. Quero um partido que me diga: Anabela, precisamos de ti, e de outras como tu, porque és uma mulher que entende de política e sobretudo dos problemas das mulheres como tu….que entende o povo, pois também tu és povo, e mulher.

Tenho a sorte de fazer parte de um partido onde sinto o respeito, carinho e até amor pelas mulheres. Sinto-me pertencente a um núcleo do BE que me acarinha e dá força para eu trabalhar com todos, sejam eles homens ou mulheres. E agradeço essa forma humana e natural com que sempre me senti tratada pelos meus companheiros/as.

Faço parte de uma “espécie”, faço parte de tanta coisa que me realça como mulher que sou. E em nome de todas as “Guerrilhas Urbanas” no Feminino, tal como a minha amiga e camarada Luísa Penisga um dia nos categorizou juntamente com a companheira Augusta de Carvalho, apelo a todos que chamem as mulheres ao poder na política, não por uma necessidade de norma interna no partido, mas sim porque nos respeita, precisam e admiram.

Termino declarando em som e tom suave (tal como se gosta de ouvir uma Senhora falar – malditos estereótipos!) que nasceu aqui uma facção do Bloco de Esquerda em Portimão, nasceu o BEF – Bloco de Esquerda Feminino.


Anabela do Cabo Morais

1 de Junho 2009