quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Um sistema eleitoral falsificado e enganador II


2 - Como se montou a bipolarização no PS/PSD

Apresentaram-se algumas questões relacionadas com o recenseamento e que evidenciam bem, o programada descuido do mandarinato, mormente aquartelado na mafia bicéfala que vem gerindo a máquina de extorsão de todos quantos trabalham em Portugal. Passa-se, de imediato, para as fórmulas anti-democráticas que vêm sendo usadas para perpetuar uma maioria confortável para o PS/PSD, através de uma das suas alas, agora o PS de Sócrates, antes o PSD com o seu acólito Portas.

Constitui elemento basilar da democracia que os cidadãos sejam iguais no direito de votar (ou não votar) e, se votam, as suas opções não podem ser objecto de aferições diversas.

As democracias de mercado são verdadeiras adulterações da democracia, sob muitos pontos de vista. Algumas já foram explanadas neste blog (1), circunscrevendo-se agora a análise, aos resultados de exercícios aritméticos, que se inserem na linha do que atrás se apresentou.

A estanquicidade dos círculos eleitorais nas eleições para deputados (o distrito) e a aplicação do método de Hondt distorcem os resultados expressos pela vontade dos cidadãos, prejudicando todos os partidos, para o benefício evidente do PS/PSD que, esclareça-se, é o arquitecto do sistema eleitoral.

Os votos dirigidos a partidos, apurados no território português (excluindo, portanto, os emigrantes) elegem 226 deputados e, manda a mais elementar democracia que cada deputado seja eleito pelo mesmo número de cidadãos que elegeram um concorrente de outro partido. Porém, nada disso acontece, no sistema eleitoral luso, como se pode observar no quadro seguinte:

2005

2009

Votos dirigidos a partidos

5.543.089

5.485.231

Nº médio de eleitores por deputado

Total

24.527

24.271

Esquerda

36.209

32.363

BE

45.543

34.818

PCP-PEV

30.876

29.745

Direita

21.934

21.348

PS

21.434

21.548

PSD

22.768

21.103

Direita xenófoba (CDS)

34.596

28.188

· São evidentes as diferenças entre o número de votos médio para eleger os deputados do PS/PSD e os necessários às restantes forças políticas. Esse desequilíbrio entre o PS/PSD e os outros partidos reduziu-se claramente de 2005 para este ano, uma vez que, nos casos do BE e do CDS, o número de deputados cresceu bastante, permitindo assim, um maior aproveitamento dos votos;

· As variações positivas ou negativas – que foram notórias - no número de votos e deputados, para o caso do PS/PSD, mantêm estes sempre em situação favorável e com ligeiras alterações, quanto a número de votos por deputado;

· A segmentação do território por distritos – unidade territorial cuja utilidade se desconhece perante a nomenclatura usada na UE e já transposta em diversas áreas da administração pública – visa isolar os votos não dirigidos ao PS/PSD e torná-los inúteis, em termos de eleição de deputados. Dito de outro modo, o sistema eleitoral, pretende neutralizar muitas centenas de milhar de cidadãos que se não revejam no PS/PSD;

· Essa situação, acompanhada pela polarização dos media em noticias sobre aquelas duas seitas, conduz, em muitos casos a forte distorção do significado do voto expresso. Um cidadão cuja preferência seja por um partido diferente do PS/PSD poderá ser levado a votar num deles, numa lógica de mal menor, tendo em conta a inutilidade prática de votar na formação política que realmente aprecia;

· Assim, existe um reforço implícito à bipolarização empobrecedora, à lógica do voto útil, em detrimento de verdadeiras alternativas, com toda a máquina de propaganda mediática mobilizada para o denegrimento ou desvalorização de quaisquer outras formações políticas que não o PS/PSD. Só a conjugação de uma sofrível cultura democrática com a arrogância dos ocupantes PS/PSD do país, permite como comentadores de serviço, indivíduos tão pouco isentos como Marcelo ou Vitorino;

· Esta concentração de votos favorece ainda o PS/PSD quanto à distribuição dos subsídios estatais, proporcional ao número de votos que recolheram e indexados ao salário mínimo. O cinismo do sistema revela-se, neste contexto, na grande preocupação dos mandarins pela elevação do valor do salário mínimo – base para a elevação do valor dos subsídios aos partidos presentes na AR – e menos com a sua aplicação, pelas empresas, aos trabalhadores (2);

· Para culminar todo este elenco de iniquidades e de manobras anti-democráticas, o PS/PSD recusa os subsídios públicos aos partidos concorrentes que não elejam deputados, como se essa situação fosse merecedora de um anátema, de uma verdadeira expulsão do debate político e democrático.


In Esquerda Desalinhada

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