domingo, 15 de novembro de 2009

ALTERNATIVA DE ESQUERDA: ALGUMAS REFLEXÕES...


Ser "só" voto de protesto, ser ou não Governo, o que é afinal a tal alternativa de esquerda?

Com o aumento da votações nos partidos à esquerda do PS, nas eleições europeias, alguns chamados opinion makers (sempre os mesmos e sempre ligados ao centrão...) têm vindo a alertar para aquilo que eles consideram como um problema de "ingovernabilidade" se aquele aumento dos votos se mantiver nas próximas eleições legislativas.

No entanto, da parte das esquerdas, incluindo a esquerda do PS, as soluções pós-eleitorais permanecem algo confusas aos olhos das pessoas. Nunca se sabe se estarão, as esquerdas, disponíveis para uma solução de convergência governativa que se torne alternativa a uma direita que já reafirmou que se poderá voltar a coligar e também alternativa à solução da direcção sócratica do PS que continua, algo alheada da realidade, a pedir nova maioria absoluta.

O certo é que, neste país que passou por um processo revolucionário com contornos socializantes, nunca houve uma proposta de solução governativa à esquerda. E seria bom ter presente: para os trabalhadores e para as pessoas que sofrem as consequências da crise económica capitalista, o que é mais importante: votar para se ser oposição ou votar para um governo com novas e outras políticas de sentido democrático e socialista? Afinal são as políticas governativas que acabam sempre por condicionar a vida das pessoas...

Desde o 25 de Abril de 1974, o resultado na maior parte das eleições apontou sempre para maiorias dos partidos formalmente de esquerda representados na Assembleia da República. No entanto, essas maiorias nunca tiveram correspondência ao nível dos governos e muito menos ao nível das políticas globais executadas por esses governos. O que cria sempre uma sensação de inutilidade do voto popular exercido, com consequente reflexo no engrossar dos abstencionistas nas eleições seguintes.

As esquerdas nunca tiveram o seu governo. As esquerdas só conseguiram governos PS com políticas conhecidas por serem aquelas que a direita executaria se fosse, ela mesma, Governo!

As direitas já tiveram os seus governos e não adiaram a execução de políticas de direita e de ataque a conquistas politicas e sociais decorrentes da revolução de Abril.

Porque será que a direita consegue governos com políticas de direita e as esquerdas só conseguem governos do PS com políticas de direita?

É aqui que convém falar na existência de uma maioria social de esquerda que nunca conseguiu reflectir a sua existência, na concretização de um Governo das esquerdas.

A maioria social de esquerda existiu, por exemplo, quando o eleitorado deu a maioria absoluta ao PS de Sócrates CONTRA o que tinham sido os governos de Barroso, Portas e Santana Lopes. No entanto, a direcção do PS não só esqueceu essa maioria social, como adoptou uma posição de virar de costas às outras esquerdas representadas no Parlamento.

Um Governo que emergisse de uma maioria social de esquerda é um Governo que tem de acolher o contributo político de todos os partidos e movimentos com representatividade à esquerda. É um Governo que não busca somente estabilidade por via de uma maioria aritmética parlamentar, mas que consegue definir um programa com políticas que afirmem a alternativa de democracia e socialismo contra o capitalismo e a sua economia de mercado.

Um Governo de convergência das esquerdas tem também de emergir de um processo democrático e social de participação por parte de cidadãos, de grupos sociais, de organizações dos trabalhadores, de organizações de defesa do ambiente, ou seja, supera a mera negociação entre direcções partidárias, embora esta negociação tem também inevitavelmente de ocorrer.

É um processo difícil. É, sim senhor! Mas a conseguir-se, seria, sem dúvida um passo político com reflexos importantíssimos no retorno à capacidade de mobilização popular para transformações políticas, sociais, económicas e culturais com um sentido democrático e socialista!



Autor: João Pedro Freire

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