quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

TRAGÉDIA PALESTINIANA

A tragédia que se abateu sobre o povo palestiniano tornou-se, para seu mal, uma normalidade. Em termos mediáticos já não tem interesse – o pior que poderia acontecer. Numa altura em que é o terramoto haitiano que atrai toda a comunicação social, torna-se importante que haja quem venha lembrar que a situação na Palestina só tende a agravar-se. Todo um povo se encontra em situação desesperada sem que a chamada comunidade internacional mexa uma palha. Daniel Oliveira visitou aquele martirizado pedaço de terra e comenta o que teve oportunidade de observar num texto que assina na edição do “Expresso” de 23/01/2010.

PORQUE PODEM
Os bombardeamentos de Gaza foram há um ano. Estive lá há uma semana. É como se o tempo não tivesse passado. Tirando alguns hospitais, nada foi reconstruído. Reuni com deputados nos escombros do que antes era o hemiciclo do único parlamento com poderes efectivos democraticamente eleito do mundo árabe. Israel, com o apoio do Ocidente, achou que devia enviar uma mensagem clara: preferimos ditadores dóceis à vossa escolha livre. As infra-estruturas fundamentais de um Estado já não existem e quem ficou sem casa vive ainda em acampamentos.
Nada foi reconstruído porque nem sequer toda a ajuda internacional disponível entra. Nem cimento, nem gasolina, nem comida ou medicamentos suficientes. E os palestinianos não podem sair. Estão presos e em morte lenta. O que entra passa por túneis ilegais que ligam Gaza ao Egipto. Armas, é verdade. Mas também tudo o que é necessário para sobreviver. Os egípcios anunciaram que vão fechar os túneis. Mas nem por isso vão abrir as suas fronteiras para controlar o que passa. Porque o bloqueio, que não é apenas israelita, tem objectivos políticos. O Hamas é aliado da Irmandade Muçulmana e a Irmandade Muçulmana é o maior inimigo interno da ditadura egípcia. Há que fazer os palestinianos de Gaza sofrer mais um pouco.
Do lado israelita já nem se perde tempo com argumentos. Separado que está o território que sobrou para os palestinianos, continua-se a construir colonatos na Cisjordânia e a preparar uma qualquer próxima ofensiva a Gaza. A estratégia é simples e de longo prazo: correr com os palestinianos das suas terras. Violam impunemente todas as leis internacionais. Porque podem. Porque os EUA acabarão sempre por apoiar tudo o que façam. Porque os ditadores árabes estão mais preocupados com a sua própria sobrevivência. Porque a Europa não existe. Porque a justiça internacional é uma fraude.

Recolha efectuada por Luís Moleiro

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