quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

OE: A FACTURA


Os mais avisados entre nós sabiam que o aumento salarial, acima da inflação, que beneficiou os funcionários públicos no ano passado tinha como finalidade captar os votos desse sector. Uma vez ultrapassadas as eleições, há que repor a situação anterior. O seguinte texto de Daniel Oliveira, publicado na edição do “Expresso” de 30/1/2010, analisa, de forma muito precisa, esta situação.

Os do costume

As campanhas eleitorais valem o que valem. O investimento público esteve no centro do debate político antes das últimas eleições. Seria isso que dividiria a direita e o PS. Cá está o Orçamento de José Sócrates, com um corte no tão amado investimento do Estado. Mas há coisas em que a campanha vale a pena. Na última, os funcionários públicos viram, de forma surpreendente, o seu salário aumentado acima da inflação. Agora, que já votaram, devolvem o que receberam. Terão de esperar pelas próximas eleições.

Dirão, com razão, que é preciso ir buscar o dinheiro a algum lado. Algumas ideias. Mesmo depois do melhor ano da bolsa portuguesa dos últimos 12, ficou mais uma vez de fora dos objectivos do Governo a taxação das mais-valias bolsistas. Uma medida prometida pelo PS há quinze anos que esbarra sempre em interesses poderosos. São muitos milhões que ficam por pagar.

Outra boa forma de poupar seria reduzir drasticamente as parcerias público-privadas. Como garantiu ao “Jornal de Negócios” o juiz jubilado do Tribuna de Contas, Carlos moreno, o Estado não tem, nem parece querer ter, força para resistir ao poder daqueles com quem negoceia. O truque, que empurra as despesas de hoje para o futuro, é quase sempre ruinoso. Um exemplo: o que já pagámos pela ponte Vasco de Gama dava para construir esta e mais duas. E, por fim, não seria mau reduzir a quantidade impressionante de ajustes directos que tantas vezes escondem relações opacas e reduzem a concorrência.

Sim, o rigor é necessário. Para começar, podia-se mudar as regras de funcionamento que desbaratam dinheiros públicos. O que já começa a fartar é ver que, na hora de pagar, a factura chega sempre aos mesmos endereços. E isentos de qualquer sacrifício ficam também os do costume.

Recolha efectuada por Luís Moleiro

Sem comentários:

Enviar um comentário