quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

OPINIÃO XIII

Democracia truncada
Relativamente ao actual Governo, assim como ao partido que o sustenta e ao seu chefe máximo, pode-se afirmar, sem margem para dúvidas, que enganaram muita gente durante muito tempo mas não vão enganar toda a gente durante todo o tempo. Aliás, já há muitas pessoas a exprimirem abertamente aquilo que se vinha dizendo à boca fechada sobre a difícil relação do Primeiro-Ministro com a verdade.
Não é possível que uma série de peripécias em que ele está envolvido se resumam a “campanhas negras”, “assassinatos de carácter”, manobras de propaganda de alguma central de desinformação proveniente de uma nova “Moscovo” ou tudo o que a fértil imaginação de alguns papagaios do regime têm inventado.
Nada fica esclarecido para além da superficialidade, restando a ideia de que o que vem ao conhecimento público é apenas a ponta do iceberg que constitui cada trapalhada que envolve a pessoa do Primeiro-Ministro. Há sempre alguma coisa que não é dita, que fica por elucidar para deixar a opinião pública na dúvida.
Mas, escândalo atrás de escândalo é notório que a confusão vai ficando cada vez mais enovelada. Nasce a ideia de que a teia que vem sendo urdida nunca chega a desenrolar-se completamente.
Poucos já duvidam que Sócrates vai ser recordado como o governante que, em regime democrático tentou controlar a principal comunicação social do país. Sejamos claros: não se vislumbra que esteja em perigo a liberdade de expressão – não se bloqueia o Facebook, o Twitter ou sinal da rede de telemóveis – mas fica claro que há uma tentativa de manipulação do grosso da informação que chega à maioria das pessoas. Se o Governo tiver gente da sua confiança política nos principais jornais e estações de televisão, o que resta são trocos para se apresentarem como exemplos de pluralismo e de liberdade de imprensa.
As dificuldades financeiras constituem uma tremenda condicionante para muitos órgãos de comunicação social. A sua sobrevivência depende, muitas vezes, da publicidade paga pelo Estado ou por empresas onde o Estado tem uma palavra a dizer. Se houver uma restrição drástica das receitas provenientes dessa publicidade é fácil estrangular qualquer empresa que caia em desgraça. Muitos, mesmo a contragosto, acabam por se submeter aos desígnios do poder, por uma questão de sobrevivência.
Suspeitamos – para não fazermos uma afirmação mais peremptória – que é isto que se passa a nível local, onde há autarquias que vão aguentando financeiramente jornais e pequenas rádios a troco da interferência na sua linha editorial.
Sem meios de comunicação social independentes do poder político e económico, temos uma liberdade de expressão condicionada e, portanto, uma democracia fortemente mutilada.

Luís Moleiro

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