segunda-feira, 5 de abril de 2010

ENERGIAS E A PANACEIA TECNOLÓGICA

Pé ante pé, a EU pode estará abrir a porta à energia nuclear satisfazendo a gula empresarial e desprezando os perigos que esta forma de produção de energia comporta.
Numa altura em que a propósito do combate ao défice o PEC prevê a privatização de vários monopólios naturais que desarmam o Estado no que respeita à capacidade de decisão, nomeadamente, na área da energia, é importante a leitura e reflexão sobre um texto de opinião da Eurodeputada do Bloco, este fim-de-semana publicado no jornal “Diário as Beiras”.

ENERGIAS E A PANACEIA TECNOLÓGICA
A União Europeia redefiniu o seu sistema energético relativamente à investigação e ao desenvolvimento das tecnologias de baixo carbono. No entanto, este novo paradigma de novo tem muito pouco. Apesar da não clarificação política e financeira, algo ficou bem claro: o combate às emissões poluentes que prejudicam a qualidade do ar e provocam alterações climáticas continua a passar pela esperança que o mercado resolva os problemas que criou.
A panaceia tecnológica continua a ser o caminho apontado, sem uma palavra para a redução do consumo ou para a microgeração.
Do documento saem duas alterações significativas. Pela primeira vez, a energia nuclear é consagrada como uma tecnologia equiparada às de baixo carbono, “segura e limpa”, ideal para o combate às alterações climáticas. Assim, se satisfaz o apetite empresarial pelo nuclear, ignorando os riscos ambientais e humanos que esta tecnologia comporta.
Por outro lado, existe um aprofundamento da aposta nas parcerias público-privadas para o financiamento das tecnologias de baixo carbono. Sabemos assim quem vai pagar: os contribuintes no início e os consumidores no final, que por acaso somos todos nós, duas vezes.
Sabemos também quem menos paga: as instituições privadas, que são as que beneficiam do investimento público, são remuneradas por ele mas que, no final, acabam por monopolizar os lucros.
Em Portugal, o Plano de Estabilidade e Crescimento apresentado pelo governo, prevê privatizar a Rede Energética Nacional (REN) e o que resta do património público na GALP e na EDP.
Depois dos anéis vão-se os dedos. Com a atribuição destes monopólios naturais a privados perdemos capacidade de decisão democrática no que toca à política energética. Perdemos ainda os dividendos gerados por essas empresas e passamos a garantir aos novos donos uma renda de lucro sem risco através das tarifas dos consumidores.
Ficamos com o enigma: se dá lucro e combate o défice, então porquê privatizar? Se não dá lucro por que querem os privados comprar?
Curioso no meio disto é o silêncio da direita relativamente às privatizações que se preparam… O partido de Sócrates está a trabalhar para eles.
Luís Moleiro

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