terça-feira, 20 de abril de 2010

A Escola Caviar

Quando Daniel Oliveira escreve sobre Educação fico com calafrios equivalentes aos que senti, outrora, quando lia certas coisas do Miguel Sousa Tavares ou do Rangel, versão Emídio.

Com Daniel Oliveira ainda é pior porque ele acumula uma leitura desajustada da realidade das escolas, reflexo – quiçá – de algum trauma mal resolvido da infância ou adolescência (faltou-lhe uma boa secundária da margem sul nos anos 70 para enrijar a pele? ou a dele foi mais melhor boa porque era anda anti-fascista?) com um lirismo digno de fazer chorar as pedras da calçada, não negando eu que ele tem as melhores intenções, daquelas que tornaram o Inferno um lugar repleto no mau sentido (sim, porque o Inferno até pode ser acessível e desejável por razões apetecíveis e mesmo válidas).

Pelos vistos, Daniel Oliveira visitou uma escola privada e, claro, ficou seduzido pela disciplina, pelo rigor, pela criatividade, pela liberdade, por tudo aquilo que ele e os que pensam como ele no plano teórico ajudaram a não existir no nosso sistema público de ensino.

A minha escola

Conheci uma escola parecida com aquela onde gostaria de ter estudado. O oposto do que as carpideiras do regime, que se dizem “politicamente incorrectas”, defendem. Eles querem a do passado. Nós precisamos da do futuro.

(…)

A escola pública que imagino, por ser para todos, incluindo para os que não têm famílias que valorizem a formação ou têm apenas poucas condições para o estudo em casa, nunca poderia ser exactamente assim. Mas podia ter isto como ideal.

Se os portugueses conhecessem alguns dos melhores sistemas de ensino público por esse mundo fora perceberiam que os mais ferozes críticos da nossa escola vivem num atraso doloroso. A resposta aos problemas no nosso ensino não está na velha escola fria e implacável. Não perdemos nada com a sua morte. Porque era preguiçosa não inovava. Porque era defensiva não se expunha à criatividade dos alunos. Porque não promovia a liberdade desresponsabilizava. Porque era mais castradora criava cidadãos acríticos. O problema não é o que perdemos, é o que ainda não temos. Ainda não chegámos à nova escola. Aquela onde se aprende a aprender. E a gostar disso.

O meu problema com a nossa escola pública não é ter perdido o velho gostinho do atingamente. É ainda sobrar nela demasiado desse sabor.

Daniel Oliveira é um doutor -a pesar de gostar imenso de sublinhar que não o é – nestas matérias, tem um saber feito de imensa observação, argúcia, vibração. Gosta de falar numa escola “estimulante”, onde se “aprende a aprender”, nessa espécie de paraíso terreno que ele encontro numa escola privada estrangeira em Portugal.

Que ele visitou.

A escola que ele gostava que tivesse sido a dele.

E eu acredito.

Porque a escola-caviar é bem mais agradável do que a escola-pescadinha de rabo na boca com que milhares – muitos – de professores e alunos lidam no seu dia a dia.


Concordo com o exposto - Fernando Oliveira

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