segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

ÉTICA EMPRESARIAL

Está na moda atribuir aos políticos – todos sem excepção – os males de que Portugal padece. A chamada “classe política” tornou-se aos olhos de muitos portugueses pouco melhor que um bando de criminosos. Até parece que os restantes cidadãos são todos incapazes de enganar quem quer que seja ou de aproveitar a primeira oportunidade para se locupletarem à grande. Sabemos como é…
Os senhores do capital estão frequentemente a dar lições de ética aos políticos. Mas, mal de nós se, alguma vez tomassem as rédeas da governação.
O senhor Alexandre Soares dos Santos, presidente do Grupo Jerónimo Martins tomou, recentemente, duas decisões que, no mínimo, devem ser consideradas eticamente condenáveis. A primeira diz respeito à decisão de antecipar os dividendos do grupo para contornar as alterações fiscais em 2011. A segunda, foi a decisão de poupar os consumidores à subida do IVA nos supermercados Pingo Doce. Só que o fez à custa dos seus fornecedores que foram obrigados a suportar o aumento…
Nada que não se esperasse. Mas é muito importante denunciar.

Luís Moleiro

GERAÇÃO AFLITA

Segundo o insuspeito Instituto Nacional de Estatística há quase 100 mil jovens, até aos 25 anos, desempregados. Mas isto, pelo que se vê, não diz nada aos fazedores de opinião do regime. A alguns só falta dizer que não tem trabalho quem não quer, tantas são as formas de insultarem os jovens cuja situação é devida, pelo menos em parte, à geração dos que agora se encontram no poder. Na verdade, é esta a realidade.
Se escutarmos com atenção os anseios da “geração quinhentos euros”, podemos facilmente constatar que eles se sentem muito mal não só com sua situação imediata como com a falta de perspectivas de futuro. É de elementar bom senso que os nossos governantes prestem atenção a esta gente, muitos deles com sólida formação académica, que conhecem a realidade e não se deixam embalar pela máquina de propaganda socrática. A falta de esperança no futuro, de toda uma geração, pode constituir um barril de pólvora social, de consequências imprevisíveis, apesar da conhecida complacência dos portugueses.
No seguinte texto (Expresso de ontem), Daniel Oliveira critica, e bem, aqueles que quase ridicularizam os jovens pela precária situação de vida a que muitos chegaram.

BRIGADA DO REUMÁTICO
“É assim que António Ribeiro Ferreira caracteriza os jovens precários: “A tal geração dos parvos que, coitados, se fartam de queimar os neurónios nos bancos das escolas, passam o ano com faltas e sem exames, têm cursos da treta suportados pelos contribuintes e, ainda por cima, são uns escravos que vivem em casa dos papás”. Vicente Jorge Silva, padrinho da “geração rasca”, recordou que também é precário e tratou do sermão: “A preservação da liberdade paga-se com a precariedade”. Já para Pacheco Pereira, “as reivindicações dos ‘precários’ são no fundo exigências de entrada na função pública”. Para Ribeiro Ferreira viver em casa dos pais até aos 30 é um privilégio. Para Vicente Jorge Silva deve ser sinal de liberdade. E para Pacheco Pereira há uma geração de potenciais boys.
A guerra entre novos e velhos diz-me pouco. Os pais da ‘geração quinhentos euros’ sabem que não há liberdade nenhuma na vida dos seus filhos. Que não há liberdade num call center ou numa empresa de trabalho temporário. Que não há liberdade na independência adiada à espera de um emprego que dure pelo menos um ou dois anos, num salário que não chega para pagar uma renda de casa, na precariedade que transforma a decisão de procriar numa irresponsabilidade. Não é uma geração inteira que não sabe em que país vive. É a elite dessa geração. Ribeiro Ferreira até acha que os cursos de hoje são ‘da treta’, quando não há dado que não confirme que o ensino superior actual é bem melhor que o do seu tempo. Vicente Jorge Silva até acha que a sua precariedade é comparável à de quem, tendo mais qualificações do que ele (e do que eu), recebe 500 euros por um trabalho estupidificante. E Pacheco Pereira espera dos jovens “menos prosápia”, “menos revolta” e mais “esforço”.
O que impressiona não é a arrogância instalada. É a leveza que leva esta gente, que faz opinião, a nunca viver para lá do seu próprio umbigo. E o que assusta é que esta elite, quase toda da mesma geração, que decide o nosso futuro. Se não sabem dos problemas como podem acertar nas soluções?”


Luís Moleiro

sábado, 26 de fevereiro de 2011

QUEM É QUE SE SEGUE?...




PACTO DE SILÊNCIO?

Numa palestra que proferiu no final da semana passada na sede de Coimbra do PSD, o deputado Pacheco Pereira (PP) afirmou que, na quarta-feira dia 16 de Fevereiro, Portugal esteve à beira da bancarrota quando o Governo lançou no mercado mil milhões de euros da dívida pública. Nessa emissão “houve enormes dificuldades antes do Banco Central Europeu (BCE) desatar a comprar dívida para nos salvar o pescoço”. Para reforçar a sua afirmação, o deputado do PSD recordou as reuniões que o P.R. teve em dois dias com todos os banqueiros nacionais, as conversas com o presidente da Comissão Europeia e com o Ministro das Finanças quando o país estava em “plena crise económico-financeira”.
Perante afirmações tão graves, o Diário de Coimbra foi saber a opinião do reputado economista, José Reis, Director da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, que desvalorizou a situação afirmando que apenas “houve menos procura na compra da dívida que o Governo colocou no mercado”. De qualquer maneira, José Reis não deixou de afirmar que a situação que se vive actualmente é “muito séria”.
A verdade é que, curiosamente, as afirmações de PP não tiveram qualquer eco na comunicação social a nível nacional, tendo em atenção a gravidade de que se revestiam.
Entretanto, numa conferência promovida pela Fundação Inês de Castro e que ontem teve lugar no Hotel Quinta das Lágrimas, Marques Mendes (MM) confirmou as declarações de PP reafirmando que no dia 16 de Fevereiro o nosso sistema financeiro ficou bloqueado e, se não tivesse havido uma intervenção do BCE, ficaríamos em grandes dificuldades. Mas, quem estava presente ficou com a ideia de que também MM procurou desvalorizar a situação.
Juntando tudo o que se vai ouvindo com o que fica por dizer, a sensação que resta é que algo nos está a ser escondido, numa espécie de pacto de silêncio tácito que envolve políticos de vários quadrantes e comunicação social.
A única forma de não sermos apanhados desprevenidos quando o cataclismo chegar é redobrarmos a atenção para o que se vai passando à nossa volta.


Luís Moleiro

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

ZECA ACTUAL (1)

Passaram ontem 24 anos sobre o falecimento de José Afonso. Curiosamente, muitos dos poemas de intervenção por ele escritos durante a ditadura continuam completamente actuais.
Os vampiros aí estão de novo, agora com roupagens democráticas quais lobos com pele de cordeiro. Este disfarce torna-os ainda mais perigosos que antes.
A propaganda do regime vai-se encarregando de nos convencer da inevitabilidade do cumprimento das regras por eles definidas. Os lampejos de esperança em mais justiça social que o 25 de Abril de 1974 nos trouxe, há muito que se esfumaram. Agora é a ideologia neoliberal e os seus braços armados como o mercado e o capital financeiro que ditam como se devem processar as nossas vidas em todas as suas vertentes.
Tudo vira negócio privado: a educação, a saúde, a segurança social, a distribuição de água e electricidade, o saneamento básico, etc, com o evidente prejuízo dos que têm menos posses.
Quem contesta esta ideologia, mesmo de forma moderada, é, no mínimo, apelidado de radical e extremista, enfim, um elemento perigoso para a sociedade.
No fundo, a democracia está a desaparecer. O pensamento está formatado e já começou a sentir-se receio de exprimir publicamente, ideias contrárias às do regime. As razões não são as mesmas do tempo em que o Zeca escreveu “Os vampiros” mas a verdade é que, quem já saboreou a liberdade sente agora um evidente retrocesso. Não somos presos por delito de opinião mas podemos ver o nosso emprego em perigo por participarmos numa greve, sermos preteridos num qualquer concurso por alguém que tem cartão de um partido do regime, sentirmo-nos perseguidos no nosso local de trabalho por contestarmos o chefe ou vermos o projecto de uma casa reprovado sem razão aparente. Não há coincidências…


OS VAMPIROS
No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas pela noite calada

Vêm em bandos com pés veludo
Chupar o sangue fresco da manada
Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

A toda a parte chegam os vampiros
Poisam nos prédios poisam nas calçadas
Trazem no ventre despojos antigos
Mas nada os prende às vidas acabadas

São os mordomos do universo todo
Senhores à força mandadores sem lei
Enchem as tulhas bebem vinho novo
Dançam a ronda no pinhal do rei

Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

No chão do medo tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos na noite abafada
Jazem nos fossos vítimas dum credo
E não se esgota o sangue da manada

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhe franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

ZECA ACTUAL (2)

Uma espécie de homenagem simbólica a José Afonso é o texto de opinião que o escritor Manuel António assina hoje no JN. Versos do poema “Os vampiros” são trabalhados por este escritor, como só ele sabe fazer, numa alusão à situação que vivemos actualmente. As suas palavras devoram-se de forma deliciosa como se de um manjar se tratasse.



Vampiros e eunucos
"Há 24 anos, feitos ontem, morreu José Afonso. Entretanto, vindos "em bandos, com pés de veludo", os vampiros foram progressivamente ocupando todos os lugares de esperança inaugurados em 1974, e hoje (basta olhar em volta) os "mordomos do universo todo/ senhores à força, mandadores sem lei", enchem de novo "as tulhas, bebem vinho novo" e "dançam a ronda no pinhal do rei", tendo, em tempos afrontosamente desiguais, ganho inaceitável literalidade o refrão "eles comem tudo, eles comem tudo/ eles comem tudo e não deixam nada"".

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POUPANÇAS À MACÁRIO

Em boa verdade nem queria acreditar na notícia divulgada hoje, segundo a qual o Eng. Macário Correia propõe que seja encurtada de um mês a vigilância das praias da capital do Algarve – primeira quinzena de Junho e última quinzena de Setembro. Ao contrário do que ele próprio afirma, a medida tem um claro carácter economicista no sentido de serem poupados uns euros à custa da segurança dos utentes das praias. A prova disto é que o Presidente da Câmara Municipal de Faro nem sequer conseguiu arranjar uma desculpa minimamente credível para a medida que propõe. O facto de as crianças estarem em período escolar no início de Junho e no fim de Setembro não colhe.
Tão disparatada justificação não resiste a duas ou três questões:
- Nos fins-de-semana as pessoas não vão à praia em virtude do período escolar das crianças?
- Os adultos que frequentam as praias não necessitam de segurança balnear?
- Sendo ao Algarve o destino, por excelência, de muitos estrangeiros – até para lá da época balnear oficial – não constituirá a medida anunciada um autêntico tiro no pé?
Sabendo-se que muitos portugueses começam a frequentar a praia ainda em Maio e continuam para lá do fim de Setembro, se alguma medida houvesse a tomar numa região como o Algarve, seria o prolongamento do período de vigilância das praias. Ainda que servisse para salvar uma vida em dez anos já se justificava.
Finalmente uma nota cómica que é a garantia de Macário Correia de que ninguém vai estar “impedido de se banhar na praia” fora da época balnear. Ficamos todos descansados… por enquanto.
Moral da história e reflexão sobre o futuro: caso o PSD venha a formar governo, será que Macário continuará a opor-se à introdução de portagens na Via do Infante e a outras medidas anti-sociais que poderão já estar na mente dos principais dirigentes do partido?

Luís Moleiro

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

SINAIS DE FOME

1.Os principais canais de televisão abrem, frequentemente, os seus telejornais com notícias de assaltos a ourivesarias ou máquinas multibanco que envolvem quantias avultadas e são praticados por grupos de profissionais do crime. São situações que fazem as delícias de alguns meios de comunicação social que exploram até á exaustão o sensacionalismo mais desbragado. Têm o seu significado mas esse raramente é referido.
A edição on line de um jornal regional referia hoje que um homem de 38 anos foi detido, em flagrante delito, a furtar pregos de uma linha de comboio. É de referir que a dita linha se encontra desactivada para obras. No momento da detenção, o larápio tinha em sua posse um total de 775 pregos assim como algumas ferramentas para levar a cabo o furto. Como se sabe, o ferro (material dos parafusos) é pouco valioso mas facilmente comercializável. Os 200 Kg apreendidos renderiam, por isso, uma quantia pouco avultada.
O que tem significado nesta história é que um furto deste tipo, com os riscos que corre, não pode ser levado a cabo senão para colmatar necessidades básicas, eventualmente comida. Não é suposto que alguém ande a acarretar para casa parafusos de ferro de uma linha de comboio, um material pesado, pouco valioso e de difícil transporte senão na intenção de obter algum dinheiro para satisfação de carências fundamentais.

2.Estão a chegar a alguma imprensa denúncias de associações de apoio com a APAV segundo as quais há cada vez mais famílias a retirar idosos dos lares para que possam beneficiar das suas pensões de reforma. Trata-se de uma realidade que prolifera a coberto da penúria nos apoios sociais e do aumento da insustentabilidade económica das famílias. É mais um exemplo que deve dar que pensar àqueles que acham que os apoios sociais só servem para fomentar a preguiça nos cidadãos…


Luís Moleiro

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

AMIGOS ( AGORA INDESEJÁVEIS) PARA SEMPRE




Provérbio português: "Com quem te vi com quem te comparei"

sábado, 19 de fevereiro de 2011

ATENÇÃO AO TRABALHO SÉRIO!

Assiste-se actualmente a um evidente divórcio entre as populações e a impropriamente chamada “classe política”.
Em abono da verdade, é bom que se diga que esta situação vem sendo alimentada por alguma comunicação social que aproveita, por vezes, de casos polémicos para os explorar até à exaustão. Ao contrário do sensacionalismo, a publicitação do trabalho sério não vende jornais nem tempo de antena.
Também não é menos verdade que muitos políticos, depois de eleitos, rapidamente esquecem quem votou neles tratando, sobretudo, dos seus interesses particulares e esquecendo, com o maior desplante, as promessas feitas durante as campanhas eleitorais
É preciso que fique claro que nem todos se podem catalogar assim mas, aqueles que efectuam um trabalho sério e empenhado passam injustamente despercebidos. Entre estes está, com certeza, Marisa Matias, eurodeputada do BE que, sem alardes, se encontra, há meses, envolvida na elaboração de uma directiva-quadro sobre medicamentos que, salvo erro, se destina ao combate à sua falsificação.
É ela que, no texto seguinte, nos descreve os trâmites por que passa a estruturação de um documento desse tipo.

Directiva-quadro: como se faz a coisa
“Fechei esta semana uma directiva-quadro sobre medicamentos. Não é sobre o seu conteúdo que me proponho escrever, mas sobre o modo como estas leis de aplicação obrigatória em toda a União se fazem por estes lados. Aproveito a posição de ter “estado por dentro” para partilhar essa experiência convosco.
A coisa começa por uma “comunicação” da comissão europeia sobre o assunto em causa, à qual se lhe segue um “relatório” redigido no Parlamento Europeu. Por outras palavras, a iniciativa legislativa começa sempre no “poder executivo” – a comissão Barroso.”(…)

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MOÇÃO DE CENSURA

TEXTO INTEGRAL DA MOÇÃO DE CENSURA A APRESENTAR PELO BLOCO DE ESQUERDA NO DIA 10 DE MARÇO DE 2011


MOÇÃO DE CENSURA N.º 2/XI
MOÇÃO DE CENSURA AO XVIII GOVERNO CONSTITUCIONAL
EM DEFESA DAS GERAÇÕES SACRIFICADAS

Ao longo do ano e meio do seu mandato, o XVIIIº Governo adoptou uma política económica e social que tem atingido essencialmente os trabalhadores sem emprego e os jovens da geração mais preparada que o país já formou, que são marginalizados das suas competências para se afundarem num trabalho sem futuro. Existe hoje mais de um milhão de trabalhadores em situação totalmente precária, incluindo uma parte significativa sendo paga a troco de falso recibo verde, e promessas do Programa de Governo, como o fim dos recibos verdes no Estado, foram clamorosamente violadas. Ora, uma economia de exploração de salários mínimos é um cemitério de talentos e uma democracia amputada das melhores qualificações.
Esta Moção de Censura recusa por isso o gigantesco embuste da distribuição equilibrada dos sacrifícios e sublinha que o emprego e o salário têm sido destruídos pela cruel insensibilidade social que corrói a economia em nome da ganância financeira, e propõe uma ruptura democrática que evite a destruição implacável dos trabalhadores mais velhos pelo desemprego e dos mais novos no altar da precarização.
De facto, ao reduzir o apoio aos desempregados, o Governo deu um passo na sua estratégia agressiva quanto ao mercado de trabalho. O subsídio de desemprego passou a ser apresentado como um custo e não como um direito que decorre do próprio desconto do trabalhador, como um prejuízo e não como um acto de justiça. Agora, o Governo vai mais longe, procurando impor a redução da indemnização pelo despedimento, para o embaratecer e facilitar.
Deste modo, durante o seu mandato, apesar de ter perdido a sua maioria absoluta, o governo ignorou os sinais dos eleitores. Promoveu o agravamento da crise social com o aumento dos impostos, a queda do investimento público, a redução de salários, a degradação dos apoios sociais com a retirada do abono de família e de outras prestações a centenas de milhares de famílias, o aumento dos preços de medicamentos e outros bens essenciais e o congelamento das pensões.
Esta orientação conduz o país para o abismo da recessão. Agrava as dificuldades da economia em vez de lhes responder. Condena uma parte da população ao desemprego estrutural permanente, em números que a democracia portuguesa jamais conheceu. Reduz os rendimentos de trabalhadores e pensionistas. Esta política condena o país ao império do abuso.
A chantagem dos mercados financeiros, incluindo da finança portuguesa, que impõem juros em redor dos 7% ao refinanciamento a dez anos da dívida soberana, aprofunda as dificuldades da economia. Mas o governo respondeu a esta pressão favorecendo a finança ao agravar a transferência dos salários e dos impostos para os juros e, ainda, permitindo que os grandes bancos privados não paguem o IRC de lei. Esta situação é portanto insuportável. O país está endividado e a política orçamental precipita maiores custos de endividamento e restrições ao investimento, à produção e ao emprego.
Ora, um factor suplementar que agrava a crise actual é a forma como o governo tem desprezado os grandes combates democráticos pela qualidade dos serviços públicos do Estado Social, pela economia do emprego e contra a agiotagem financeira. Esta insensibilidade social é a causa da falta de confiança numa governação desgastada, que foge à responsabilidade, cultiva o favorecimento e provoca o apodrecimento da decisão política.
Exige-se por isso um novo caminho, com uma viragem da política económica para o combate à recessão. Exige-se a solução do défice fiscal para corrigir o défice orçamental, a solução do investimento criador de emprego e promotor de exportações e de substituição de importações, a solução da recuperação da agricultura para promover a soberania alimentar, a recuperação da procura interna com a defesa dos salários, a valorização das pensões e o combate à precariedade em nome da vida das pessoas.
O Governo, apesar de ter sido suportado por uma grande maioria parlamentar nas mais importantes decisões económicas, não responde às grandes prioridades nacionais, que são o combate ao desemprego, pobreza e precariedade, antes agrava as condições do trabalho para facilitar os despedimentos e portanto os salários baixos, seguindo a orientação do FMI que recomenda a desprotecção dos rendimentos e dos contratos dos trabalhadores. Esta resposta agrava as desigualdades na sociedade portuguesa e é por isso imperativo, em nome de uma política que se comprometa com a defesa das gerações sacrificadas, derrotar as medidas que promovem o desemprego e a precariedade e convocar a democracia para que decida as soluções para o país. Assim,

A Assembleia da República, ao abrigo do artigo 194º da Constituição da República Portuguesa, delibera censurar o XVIII Governo Constitucional.

As Deputadas e os Deputados do Bloco de Esquerda


In Esquerda.net

MOÇÃO DE CENSURA? SIM! SIM! SIM!

A direita dos interesses esfrega as mãos de contente com as medidas anti-sociais que o Governo tem vindo a tomar à boleia da crise. Direitos dos trabalhadores e conquistas sociais adquiridos ao longo de décadas estão a ser laboriosamente destruídos por um governo apoiado num partido com nome de esquerda. O PS está a fazer o trabalho sujo que convém à direita e esta espera, recostada num cadeirão, o momento ideal para lhe retirar o tapete que, encapotadamente, vai permitindo a sobrevivência de um governo moribundo – mesmo apoiado numa bem oleada máquina de propaganda – aos olhos da maioria dos portugueses.
Por isso é de aplaudir a coragem política do BE ao apresentar, sem qualquer espécie de hipocrisia, uma moção de censura que, se não tiver outro efeito, serve para separar o trigo do joio, ou seja, aqueles que efectivamente se opõem às malfeitorias que o Governo Sócrates está a levara cabo e os que, disfarçadamente as apoiam.
O texto seguinte que é assinado por José Manuel Pureza, deputado do BE, vem muito a propósito, foi transcrito do jornal “Diário As Beiras” de ontem.

Censura
“A política quer-se clara. E o momento que o país vive exige-o em dobro. O apodrecimento da situação do país desafia todas as forças políticas a mostrar sem tacticismos os seus propósitos.
Para a vida concreta das pessoas, a crise é isto: o afundamento da economia, o ataque nunca visto contra o salário, a desconsideração dos pobres e desempregados, a hipoteca de uma geração condenada a estudar para a escravidão.
Tacticismo é encarar esta realidade e decidir que é melhor que o governo arda em lume brando e atacar só quando as sondagens garantirem uma vitória. Tacticismo é fingir que direita e esquerda criticam o governo pelas mesmas razões e não clarificar posições mesmo que isso não dê maioria.
A moção de censura anunciada pelo Bloco de Esquerda diz sem subterfúgios ao que vem. O país é (dês)governado por uma hipermaioria PS-PSD, que se entende para os PEC, para o Orçamento e para a ofensiva sem precedentes contra os direitos sociais e os serviços públicos. Mas essa maioria finge que não o é. E a culpa morre solteira todos os dias. Houve até quem alegasse que a subida dos juros da dívida era responsabilidade… do Bloco!
É uma moção que, em nome de quem está a pagar o desgoverno da coligação PS-PSD, quer parar esta ofensiva mas que não se equivoca, não estende a passadeira ao extremismo liberal de direita. Vai perder? Não, já tem pelo menos uma essencial vitória: a pressa e o tom com que a direita veio em apoio de Sócrates são o rosto desse sucesso do Bloco.”

Luís Moleiro

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

À MANEIRA DE OUTROS TEMPOS?...

O oportunismo e calculismo político do maior partido da oposição estão a conduzir o país para um beco sem saída. Há razões de sobra para uma censura política ao Governo, com todas as consequências que daí poderão advir. O que não poderá acontecer é que os portugueses estejam à espera do momento em que o PSD entenda, por conveniência própria, que chegou a hora de dizer “não” aos desvarios que Sócrates e a sua equipa estão a cometer.
Um dos últimos episódios desta triste saga tem a ver com o apuramento final dos resultados das últimas eleições presidenciais. As irregularidades detectadas, como o sumiço de dezenas de milhares de eleitores e de votos nuns locais e o seu inexplicável “aparecimento” noutros, são dignas de países onde a democracia é uma miragem e as instituições que a gerem funcionam aos solavancos. Dá pa ra imaginar a bronca que seria se a diferença do número de votos entre o candidato vencedor e o 2º classificado fosse pequena…
A este propósito vale a pena ler o texto que o escritor Manuel António Pina ontem publicava ontem publicava no JN.
Luís Moleiro