sexta-feira, 6 de maio de 2011

ATENÇÃO REDOBRADA!

Temos de concordar que a encenação à volta das gravosas medidas que a “troika” nos impôs e que vão traduzir-se, a médio prazo, em 13% de desemprego, entre outras desgraças sociais, foi perfeita, digamos mesmo profissional.
A máquina de propaganda do Governo foi atirando para a opinião pública informações supostamente provenientes do interior das “negociações” que convenceram muitos portugueses da inevitabilidade de, entre outras calamidades, ficarem sem o 13º e 14º meses quer de ordenados quer de pensões de reforma e de despedimentos em massa na função pública, para só darmos dois exemplos. Como isso não aconteceu da forma como foi dito, querem agora os porta-vozes do neoliberalismo lusitano persuadir-nos de que, do mal, o menos. A falta de contraditório para muitas falsas afirmações que estão a ser veiculadas transforma-as em verdades incontestáveis. Tudo isto, a juntar ao acriticismo do nosso povo, faz o caldo perfeito para transformar os contestatários da austeridade imposta em inimigos públicos por excelência. Um deles é certamente José Manuel Pureza como se pode constatar pelo texto seguinte. As referências locais são exemplos a juntar a tantos outros bem conhecidos por toda a gente.

Saudades
“Ainda vamos ter saudades do PEC IV”, sentenciou José Sócrates. Pois eu digo-lhe, a partir de Coimbra, que não vamos ter saudades nenhumas.
Não tenho saudades, nem vou ter do país do ramal da Lousã sem carris nem travessas nem do país do canal de metro esventrando a baixinha para ficar corredor vazio até às calendas. E sobretudo não tenho saudades do país da falta de honestidade pública que é o da sucessão de governos do PS e do PSD que foram prometendo, eleição após eleição, a concretização desse projecto e adiando-a sempre logo a seguir.
Não tenho saudades, nem vou ter, do país que atirou milhares de estudantes para fora do ensino superior por não terem bolsas de estudo com que suportar as propinas e os custos de deslocação e alojamento.
Não tenho saudades, nem vou ter, do país que degrada serviços públicos como os correios para depois os privatizar, do país que encerra extensões de centros de saúde porque não há médicos de família suficientes, nem do país que adia obras de recuperação de escolas.
Não tenho saudades, nem vou ter, do país que faz ligação directa dos bancos da universidade às caixas de um supermercado ou ao desemprego e em que ainda se condena o trabalhador a pagar uma parte do seu despedimento entretanto posto em saldo.
E sobretudo não tenho saudades do país cujo Primeiro-Ministro acha que eu terei saudades da condenação a envenenamento lento quando outros me condenaram ao fuzilamento.”
(José Manuel Pureza, deputado do BE)

Luís Moleiro

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