segunda-feira, 11 de julho de 2011

LIXO

Vira casacas foi uma expressão que se vulgarizou muito no pós-25 de Abril. Todos aqueles que estavam atentos à realidade nacional da época, de que se destacava a omnipresença de uma polícia política e de um largo número de denunciantes, conhecidos na gíria por “bufos”, começaram a ficar atónitos no dia 26 de Abril de 1974 quando verificaram que quase toda esta gente se tinha esfumado, quase por milagre. Partidários de um regime fascizante viraram democratas de primeira água de um dia para o outro. Até passaram a dar lições de democracia àqueles que sempre lutaram por ela.
Desde que uma agência de notação financeira baixou a classificação da nossa dívida para “lixo” que os seus mais ardentes defensores se transformaram inexplicavelmente nos seus maiores detractores. Guardadas as devidas distâncias, a situação actual lembra, vagamente, o que aconteceu nos dias subsequentes à Revolução dos Cravos. Com a diferença de que, os mesmos comentadores especializados que olhavam com desprezo aqueles que manifestaram, desde sempre, a sua indignação perante as agências de notação financeira, são agora os mesmos que as criticam ferozmente, com a maior cara de pau. A propósito, até o Presidente da República avisava de que seria contraproducente para o país atacar as agências de rating.
A esquerda a sério, sempre denunciou o papel destas organizações e vê agora completamente justificadas as suas desconfianças. Daniel Oliveira está entre os que há mais tempo previram publicamente o que está a acontecer. Não admira, por isso, a coerência que agora mantém nos textos que escreve sobre o tema, como hoje podemos constatar no excelente artigo de opinião que assina no blog Arrastão e no “Expresso” online. Começa assim:
“Há exactamente um ano, quando a Moody's descia o rating da dívida portuguesa e uns poucos manifestavam a sua indignação, a esmagadora maioria dos economistas e comentadores especializados mostraram o seu desdém: andávamos a queixar-nos de quem apenas analisa factos e emite opiniões em vez de tratarmos de nós. Um grupo de economistas - daqueles que, por não alinharem pela propaganda oficial, raramente falam nos media - apresentou uma queixa à Procuradoria Geral da Republica em que se mostrava como estas agências manipulam de forma deliberada e em interesse próprio os mercados. Ficaram quase sozinhos.”
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Luís Moleiro

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