quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A TRAMA NEOLIBERAL

A lógica da doutrina neoliberal identifica-se à volta do princípio “menos Estado melhor Estado” mas tem uma enorme dificuldade em explicar como é possível que a promoção da desigualdade social através da incapacitação dos Estados “no desempenho das suas funções de protecção dos cidadãos contra riscos colectivos e de promoção do bem-estar social” venha a ser benéfica para a grande maioria das populações.
Não é por acaso que os meios de comunicação social, praticamente todos, detidos por grandes grupos económicos estejam enxameados de comentadores catequizados pelo neoliberalismo que, a toda a hora, propagandeiam as virtudes do sistema que ora domina o planeta. Acreditam que uma perfídia, à força de ser repetida até à exaustão se converte em realidade inquestionável.
Por outro lado, o que é óbvio pela sua natureza é fácil de entender. Por isso mesmo, os comentadores anti-sistema aparecem numa quantidade suficientemente pequena para que a sua opinião se dissipe na avalanche dos contrários e perca o poder de influência ainda que contenha manifestas evidências.
Um exemplo do óbvio é o excelente artigo de opinião do prof. Boaventura Sousa Santos que a “Visão” traz hoje. Vale a pena lê-lo com muita atenção e até ao fim. Começa assim:
“A democracia política pressupõe a existência do Estado. Os problemas que vivemos hoje na Europa mostram que não há democracia europeia porque não há Estado europeu. E porque muitas prerrogativas soberanas foram transferidas para instituições europeias, as democracias nacionais são hoje menos robustas porque os Estados nacionais são pós-soberanos. Os défices democráticos nacionais e o défice democrático europeu alimentam-se uns aos outros e todos se agravam por, entretanto, as instituições europeias terem decidido transferir para os mercados financeiros parte das prerrogativas transferidas para elas pelos Estados nacionais. Ao cidadão comum será hoje fácil concluir (lamentavelmente só hoje) que foi uma trama bem urdida para incapacitar os Estados europeus no desempenho das suas funções de protecção dos cidadãos contra riscos colectivos e de promoção do bem-estar social. Esta trama neoliberal tem vindo a ser urdida em todo o mundo, e a Europa só teve o privilégio de ser “tramada” à europeia. Vejamos como aconteceu.”
LER MAIS

Luís Moleiro

Sem comentários:

Enviar um comentário