sexta-feira, 14 de outubro de 2011

AS POSIÇÕES DO PS

A posição do PS no actual cenário político é patética. Não tem por onde fugir por se encontrar amarrado ao acordo que assinou com os partidos da direita que actualmente estão no governo. PSD e CDS afirmam que o Orçamento de Estado (OE) para 2012 é da responsabilidade do PS. Por sua vez, Seguro não vai para além de afirmações de circunstância até porque já garantiu que não votará contra o OE. Ontem à noite Carlos Zorrinho deu mostras de querer fugir às perguntas dos jornalistas sobre a intervenção do primeiro-ministro. De facto, não tinha nada para dizer.
Aqui e além notam-se tomadas de posição de “socialistas”, mais consentâneas com a área ideológica do partido, embora, na altura crucial tenham apoiado Sócrates na decisão de aceitar todas as medidas impostas pela troika. O texto que a seguir reproduzimos é a transcrição de parte de um artigo de opinião que ontem vinha inserido no “Diário de Coimbra” e que prova o que acabámos de afirmar.

2012, ano da tragédia
Portugal vai conhecer o Orçamento de Estado que irá mudar a vida dos portugueses em 2012. Duma maneira geral não trará novidades, será um documento onde todas as rubricas inscritas convergem para poupança na despesa e aumento na receita. Dito de outra maneira, os portugueses irão pagar mais e ganhar menos. O aumento dos impostos indirectos irá penalizar consideravelmente toda a cadeia alimentar e implicar uma contracção de alguns sectores como a restauração. Em termos práticos, significa menos economia, mais desemprego e maiores problemas sociais. Este modelo que nos vendem como único, parece reduzir as sociedades a uma mera máquina registadora, sacrificando os povos aos interesses obscuros dos especuladores, agravado com as dívidas soberanas dos estados da União. Quem vende dinheiro quer vender mais e assegurar que as garantias são reais. O eixo Berlim-Paris é cada vez mais um duo de interesses na União Europeia, ignorando o resto dos estados membros e fazendo esquecer a existência de Durão Barroso. A Europa está suspensa da partilha de interesses de Merkel e Sarkozy, reabilitando o velho eixo de má memória. Parece que a Alemanha está interessada em fragilizar os países periféricos para fazer emergir todo o seu poder, esquecendo quanto a Europa foi solidária aquando da sua união, no tempo de Helmut Kohl, chanceler do país de 1982 a 1998. E o que é que isto tem a ver com Portugal? São empresas e interesses alemães que se preparam para ganhar a privatização da EDP, da TAP, das Águas de Portugal e de tudo o que possa interessar à Alemanha. Por isso, a Troika exige que privatizemos os nossos anéis, as empresas estratégicas do nosso país, para continuarmos reféns das economias fortes. Para cumprir as exigências da Troika é preciso fazer tudo linha a linha, item a item e, ainda, comer e calar se quisermos ser resgatados financeiramente. É a dupla humilhação.
Portugal deixou de ouvir falar de excelência, de competitividade, de cultura, de ciência, de esperança. O léxico é cada vez mais limitado e a obsessão economicista transformou cada português num mealheiro para o Estado. O resultado desta cruzada é previsível, as insolvências aumentarão exponencialmente, haverá menos dinheiro a circular, as pequenas e médias empresas terão cada vez mais dificuldade em satisfazer as suas responsabilidades e as famílias terão de ser, ainda, mais “criativas”. Mas enquanto 2012 não chega está criada uma atmosfera psicológica que funciona como uma autêntica pena de morte, uma espécie de corredor da morte, feito à medida, para os portugueses se prepararem a tempo e pensarem nas consequências que terão estas políticas nas suas vidas. A Igreja (e refiro-me a todas as ordens que trabalham no terreno) começa a perceber que há uma panela de pressão social que ameaça explodir. Somos um povo sereno, às vezes demasiado pacífico, que faz revoluções com cravos, mas tem outros exemplos ao longo da sua longa história, onde foi menos condescendente.
(…) (António Vilhena, escritor)

O resto do texto é constituído por mais uma crítica à suspensão do prémio de 500 euros aos melhores alunos e ao ridículo fim da gratuitidade das visitas aos domingos, aos museus nacionais.

Luís Moleiro

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