segunda-feira, 7 de novembro de 2011

DUPONT E DUPONT

Finalmente tudo se está a compor internamente com a unificação da nossa troika. Para quê fingir diferenças se PS, PSD e CDS quase não se distinguem, no que diz respeito a factores estruturantes da nossa vida colectiva? Depois de se afirmar chocado com o Orçamento do Estado (OE) para 2012 eis que, Seguro perde (?) uma oportunidade de ouro para demarcar o PS das posições extremistas do Governo, muito para além das medidas propostas pelo Memorando de entendimento. Até porque o voto “socialista” não teria qualquer influência na aprovação do OE. Aprová-lo, sem condições, dá-nos a exacta medida do PS actual. Está tudo dito!
O texto seguinte é o excerto de um artigo de opinião significativamente intitulado “Tó Tó Zé Seguro!”, publicado no Diário de Coimbra de domingo (6/11/2011) e o seu autor é um militante do PS, Sérgio Borges.

(…) Sendo o Orçamento tão mau, como se diz – sobre isso, não tenho dúvidas – indo além das imposições da troika e esbulhando rendimentos a funcionários públicos, como é que se percebe que, no momento da verdade, o PS diga NIM?
Seguro acaba de se mostrar um líder repleto de ambiguidades, sem clarividência, de pensamento anémico que, perante uma questão decisiva, vem dizer que, afinal, o orçamento não é mau, nem é bom, antes pelo contrário.
Outra dúvida: que benefício traz para o país e para a situação dramática que atravessamos a abstenção do PS? A meu ver, nenhuma e serve apenas para manter o status que vigora entre os dos partidos que, sem margem para dúvidas, conduziram Portugal à situação de ruína. E, pelo que está à vista, reincidem nos mesmos erros, nem conseguem aprender as lições do passado recente.
O voto no orçamento é fundamental, para mostrar ao eleitorado uma estratégia alternativa, para convencer os portugueses de outras possibilidades que sacudam a amargura. Mas Seguro, lamentavelmente, não percebeu isso. Seria com o voto contra no Orçamento que ele provaria que tinha outras apostas para apresentar aos portugueses, mesmo condicionadas pelo memorando da troika. Não o vai fazer num qualquer diploma menor que venha, por exemplo, regulamentar o uso de bicicletas em parques de campismo, ou qualquer outra inanidade do género. Quem deliberadamente falha penaltys, muito dificilmente chegará ao golo por outra via.
É claro que se vai justificar, falando de um PS responsável, de uma oposição responsável, isto é, vai repetir a retórica que vimos ouvindo, há mais de 20 anos. Eu acho exactamente o contrário. Com esta abstenção do PS mostrou-se claramente irresponsável, mais empenhada em defender os obscuros egoísmos do centrão e da fauna que o povoa, que os supremos interesses de Portugal. Mais, mostrou ao seu eleitorado, maioritariamente pertencente à classe média, que, na realidade, não pode confiar ao PS a defesa dos seus interesses.
Depois disto quem garante que o PS não acabe por viabilizar o devastador projecto de revisão constitucional do PSD? As razões são exactamente as mesmas e, para desgraça do líder, a única garantia existente é a aparente oposição de Francisco Assis. Mas se ele mudar de opinião, corremos o risco de Seguro se deixar influenciar pela maior consistência intelectual de Assis.
A política portuguesa está cheia de Duponts. Cada partido tem os seus e, o PS e o PSD também não se conseguem distinguir. Imitam-se, copiam-se, plagiam-se, cooperam na desgraça, a tal ponto que se torna impossível a distinção, o uso da inteligência discriminatória, por parte do eleitorado. Entre um Dupont e um Dupont, não há escolha possível.
Entre muitas outras, já há algumas conclusões que se podem retirar, desta intenção socialista. Por exemplo, o PS não vai apoiar as lutas dos sectores assalariados, contra a austeridade esquizofrénica com que este governo os está a castigar. Como é certo que o PS não se vai opor ao plano de privatizações do PSD, inscrito este orçamento. Apesar de ter prometido o contrário.
O PS está desorientado, sem estratégia, à deriva, sem um projecto que o credibilize e recomende para a governação. António José Seguro parece aquele estudante que chumba mesmo antes de ir a exame
(…)

Sem comentários:

Enviar um comentário