terça-feira, 8 de novembro de 2011

SEGURO DE VIDA

Quando um partido dito de esquerda recebe múltiplos e rasgados elogios da direita é sinal de alarme para os seus militantes e simpatizantes. O Governo PSD/CDS deu pulos de contente com a promessa – sem condições – de abstenção do PS na votação do Orçamento de Estado (OE) para 2012 que esta semana vai ter lugar. Pela voz do partido maioritário – não vá o diabo tecê-las – não têm faltado elogios à posição já assumida pelo Partido de Seguro. E o caso não é para menos pois a direita acaba de adquirir um valioso seguro de vida. O inebriante Miguel Relvas é dos que mais se têm destacado a tecer loas à decisão “socialista”. Mas outros seguem-lhe o exemplo pelo que se deve tratar de estratégia partidária. Ainda ontem à noite, no frente-a-frente do Jornal das 9 da SIC Notícias que, neste caso, devia antes chamar-se lado-a-lado, Carlos Zorrimho, líder parlamentar do PS, e Ângelo Correia apresentavam sorrisos de orelha a orelha quando comentavam a prometida abstenção dos “socialistas” no OE. Ângelo classificava mesmo o voto do PS de “inteligente, justo e útil”. Por outro lado e, no mesmo dia, José Canavarro, deputado do PSD por Coimbra e Presidente da Comissão de Segurança Social e Trabalho afinava pelo mesmo diapasão, em artigo de opinião, afirmando “que o PS tem de ser um parceiro para o futuro de Portugal e que as relações entre o Governo e o PS têm de ser aprofundadas”. Há uma clara vontade de corresponsabilizar o Partido de Seguro pelas decisões tomadas porque, quando se der o descalabro, as culpas atingirão todos por igual. A expressão de Canavarro de que “o PS é demasiado importante nesta fase tão complicada do nosso país para estar de fora da solução macro, do que poderá ser o nosso país no final deste período tão difícil” contém a dose q.b. de veneno que poderá arrastar o PS para o precipício. Se este partido continuar a não reagir aos aplausos e saudações da direita, vai passar a confundir-se com os mais radicais defensores do neoliberalismo e deixa, de todo, de ser alternativa de poder porque os eleitores sempre preferem o original às imitações sem qualidade.

Luís Moleiro

Sem comentários:

Enviar um comentário