sábado, 28 de janeiro de 2012

OS PORTUGUESES NÃO TRABALHAM POUCO

Só quem está completamente fora da realidade do país pode pensar que os portugueses trabalham pouco. Os números só vêm confirmar as evidências. Sabe-se, por exemplo que os nossos trabalhadores são muito apreciados nos países para onde emigram. Seria um paradoxo que fossem mais aplicados no estrangeiro do que em Portugal. É óbvio que não é isso que acontece. Para além de outros factores, também parece claro que a qualidade dos nossos empresários é inferior à que os nossos compatriotas encontram em muitos países. Ou seja, em termos comparativos, os trabalhadores portugueses têm uma qualidade superior à dos empresários.
Não nos parece que o Governo desconheça esta realidade. O que sucede é que, com base em ideias falsas, se está a aproveitar a situação gerada pela crise para baixar ainda mais o custo do factor trabalho através do aumento do número de horas de trabalho não pago e da anulação de direitos há muito conquistados. É a agenda ideológica a funcionar.
O texto seguinte é da autoria do jornalista Nicolau Santos e vem inserido no caderno Economia do “Expresso” de hoje. Nele se analisa um estudo realizado pelo Eurostat sobre a duração do trabalho na União Europeia. Vale a pena lê-lo.

TRABALHAR POUCO E MAL
“O Governo quer pôr-nos a trabalhar mais, já que essa será uma das causas da falta de competitividade da nossa economia. Mas será mesmo assim? Um estudo realizado pelo Eurostat sobre a duração do trabalho anual nos países da União Europeia a 27 demonstra que na categoria “trabalhadores assalariados” a tempo completo, Portugal surge em 14º lugar no número de horas de trabalho efectivo realizado (6º lugar na zona euro, atrás de Malta, Grécia, Eslováquia, Chipre e Alemanha). E os países com menos horas de trabalho são a Finlândia e a França. Quanto aos trabalhadores assalariados a tempo parcial estamos em 17º lugar entre os 27. Ou seja, Portugal surge nestes indicadores a meio da tabela. E o estudo conclui que não é possível estabelecer qualquer relação entre crescimento económico e número de horas trabalhadas (países com maiores níveis de crescimento tiveram reduções significativas do número de horas trabalhadas – caso da Irlanda -, e vice-versa – caso da Grécia). Conclusão: antes do governo tomar decisões com base em ideias feitas, convinha ter a certeza se elas são correctas. Pelos vistos, o nosso problema não é trabalharmos pouco. É trabalharmos mal. E essa é uma questão que só se resolve com melhor gestão e um enquadramento institucional mais favorável.”

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