sábado, 25 de fevereiro de 2012

DEMOCRACIA, COISA DE RADICAIS?

A democracia parece um regime fora de moda tendo-se transformado mesmo numa fantochada. Há chefes de governo que não se submeteram ao voto popular e as decisões determinantes para a vida dos povos são tomadas à sua revelia e contra os seus interesses.
Há medidas de austeridade impostas de fora, a partir de entidades que não têm legitimidade para o fazer e levadas a cabo por burocratas exclusivamente determinados a cumprir uma agenda ideológica que só conduz ao empobrecimento dos povos e à degradação das estruturas sociais.
O texto seguinte é assinado por Daniel Oliveira no “Expresso” de hoje (25/2) e constitui uma chamada de atenção para o “golpe de Estado” que estamos a viver “à escala europeia”.

SEMENTES DE VIOLÊNCIA
Lucas Papademos indignou-se com os motins em Atenas: “A violência e a destruição não têm lugar em democracia”. Nigel Farage, um deputado eurocéptico do Reino Unido perguntou: Qual democracia? Ele nem sequer é um primeiro-ministro eleito. A Grécia é governada por três burocratas estrangeiros. A violência e a destruição a que assistiram no domingo acontece porque os direitos democráticos foram retirados aos gregos. E que mais podem eles fazer? Espanha, com Valência em ‘estado se sítio’ devido a uma violenta repressão policial sobre estudantes, soube que as suas leis laborais iriam ser alteradas através de uma conversa informal entre o seu ministro das finanças e o comissário europeu Olli Rehn. É nas idas a despacho com burocratas que ninguém elegeu que o futuro dos Estados é decidido. Em penas uma semana, uma brutal reforma estava feita, aprovada e em vigor. Sem negociações ou concertação social. Outra conversa informal, entre Vítor Gaspar e o ministro das finanças alemão, foi filmada pela TVI. Nela, Wolfgang Schäuble, sem ter consultado nenhuma instituição europeia, dizia, complacente, que se os deputados e a opinião pública alemãs aceitassem, talvez as regras do ‘resgate’ de Portugal fossem alteradas. A Europa é uma coisa sua, de que ele dispõe como entende. O jornalista que nos mostrou como se decidem as coisas na União foi suspenso dos corredores de Bruxelas. Por exigência do ministro alemão.
Estamos a viver um golpe de estado à escala europeia. Não é apenas o assalto aos dinheiros públicos e o ataque aos direitos sociais. A democracia representativa transformou-se numa encenação sem qualquer valor real. Vários estados europeus são governados por burocratas sem legitimidade democrática e ao sabor dos humores de um único governo. Nos países em crise os governos impõem a austeridade de forma explícita e a violência é, para quem se manifesta e para quem reprime, a única forma de diálogo que sobra. A liberdade de imprensa é desprezada sem que ninguém se incomode.
Não é apenas meio século de bem-estar e paz social que está em causa. É a democracia. Os irresponsáveis que governam este continente em desagregação têm de voltar aos livros para aprenderem com os anos 30. As sementes da violência e da intolerância já estão lançadas. Agora é esperar que floresçam candidatos a tiranetes que prometem aos povos mão firme, o resgate da sua independência e o fim da miséria e do caos.

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