domingo, 25 de março de 2012

FMI RECONHECE ERRO

Curiosamente, é o próprio FMI que, embora revelando alguma contradição, reconhece que as medidas impostas à Grécia e a Portugal não são adequadas. Trata-se, no fundo, de uma chamada de atenção indireta para o que está a acontecer em Portugal, onde estamos a servir de cobaias para a receita do FMI que ainda não deu provas de eficácia em lado nenhum. É o que revela Nicolau Santos no pequeno texto que podemos encontrar no suplemento “Economia” do Expresso de 24/3/2012.

O FMI OU HÁ OUTRO CAMINHO
Restaurar a competitividade de um país (sem moeda ou indexada a uma moeda forte) através de uma desvalorização interna está provado que é um caminho difícil com muito poucos sucessos. Pensa o leitor que esta é uma afirmação feita por um opositor da troika e do caminho seguido por Portugal? Engana-se. Trata-se de uma caixa que acompanha o relatório da comissão do FMI sobre a Grécia, que aposta aliás no esforço de desvalorização interna. Só que a referida caixa, intitulada “Experiência internacional de desvalorizações internas” contradiz completamente a recomendação do relatório. E fá-lo sublinhando que as experiências conhecidas demonstram ser necessário a existência de vários fatores para que um processo destes tenha sucesso: economias abertas, com elevada mobilidade dos fatores e um elevado grau de flexibilidade dos preços e salários. Um baixo rácio da dívida pública, um Estado Social reduzido e circunstâncias externas favoráveis são também muito importantes num processo que será sempre “necessariamente doloroso”. Como é óbvio, conclui que “muitas das condições de sucesso faltam na Grécia”.
Um dos casos analisados é o da Argentina em 1998-2002, experiência que mostra que “uma economia pode ser lançada numa espiral recessiva, cujo ajustamento através da desvalorização interna se mostra impossível, sendo o único caminho para uma eventual recuperação declarar um default e abandonar a indexação cambial”. Após abandonar o programa do FMI, “bastou um trimestre para a economia embarcar numa recuperação rápida e sustentada”.
O documento demonstra que o caminho que estamos a seguir será sempre muito doloroso e o seu sucesso altamente improvável, devido às nossas más condições de partida. Podemos ignorar isto e persistir na atual orientação. Mas agora já ninguém pode dizer que não foi avisado.

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