quarta-feira, 25 de abril de 2012

ALERTA POR ABRIL

Atualmente, comemorar o 25 de Abril e defender a democracia tornou-se um ato de “radicais”. Diga-se, em abono da verdade, que filhos e netos da geração que viveu e fez a revolução ignoram, quase por completo, que estivemos subjugados durante quase meio século a uma ditadura feroz com todas as trágicas consequências que isso significou em termos de condições de vida e de liberdade. Uma elevada percentagem de jovens também desconhece que, durante treze anos, dezenas e dezenas de milhares de militares portugueses estiveram envolvidos numa guerra em vários pontos de África, que provocou milhares de mortos e estropiados. Neste aspeto, há que referir que a escola não desempenhou o papel que devia, nomeadamente no que diz respeito à nossa história recente e à criação de uma mentalidade democrática na nossa juventude. Trata-se de uma inadmissível lacuna que, no futuro, nos pode vir a custar muito caro em termos de liberdade e democracia.
O texto seguinte que transcrevemos do “Diário de Coimbra” de hoje é uma espécie de um alerta para quem desconhece ou já esqueceu os tempos terríveis que felizmente terminaram faz hoje 38 anos.

Festejar ABRIL Sempre
Comemorar Abril não se resume ao formalismo, importante e necessário, das cerimónias oficiais ou às muitas e significativas iniciativas populares. Reconhecendo-se os tempos difíceis que vivemos e os erros de percurso que temos de assumir, comemorar Abril responsabiliza a minha geração por transmitir aos mais jovens as inquietações e os valores que o originaram e que Sophia de Mello Breyner de forma excelente identificou, escrevendo:
“Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e límpido
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo”.
Quando a taxa de desemprego atinge, nos jovens, 35%, quando as dificuldades económicas conduzem ao abandono escolar, quando os jovens são “convidados a emigrar”, naturalmente que se questionam sobre as suas perspetivas de vida, que procuram a luz ao fundo do túnel que lhes indique o caminho do futuro.
Mas importa recordar o muito que foi feito na saúde, na educação, na segurança social. No início da década de 70 existiriam cerca de 40000 estudantes no ensino superior, sendo que hoje esse número terá sido multiplicado por dez. Uma geração preparada terá necessariamente de, com esforço e determinação, construir o Portugal do séc. XXI.
Recordar Abril é não esquecer a injusta guerra colonial que durante uma dúzia de anos condicionou toda a nossa vida. É lembrar as famílias que viviam antecipadamente angustiadas com a perspetiva da ida dos seus filhos para uma guerra sem sentido, combater em terras distantes por interesses que não eram seus, matar e morrer sem qualquer causa. Diariamente aguardavam notícias sempre atrasadas no correio, sempre receando o que mais temiam.
Os jovens do meu tempo hipotecaram os melhores anos naquela luta injusta e que sabíamos perdida. Muitos optaram por sair do País, ponderados os custos e os sacrifícios desta opção, que corresponderia a anos de ausência. Foram anos de medo e de sombra, quando não existia uma informação livre, quando o silêncio era regra (não estivesse algum esbirro escutando). Recordo a Guiné onde o nosso limite de movimentos era o arame farpado que limitava o quartel. (Moura e Sá)

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