sábado, 7 de abril de 2012

EXTREMISMO ABSOLUTO

O fanatismo ideológico do Governo PSD/CDS está a atingir proporções tais que, nem sequer respeitam o deus mercado a quem diariamente veneram mas que não querem deixar funcionar. Acima de tudo, colocam a destruição de setores estratégicos da nossa economia, a qualquer preço, mesmo que daí advenha grande prejuízo para o Estado português e, nem sequer esteja no acordo com o memorando da troika. É o que agora se passa com a venda da Cimpor ao grupo brasileiro Camargo Correia, sendo que a Cimpor é só “a maior empresa industrial portuguesa”.
Episódios como este, pouco divulgados (e ainda menos discutidos) são na comunicação social portuguesa, em especial mas televisões. É preciso esconder os golpes baixos, divulgando-os apenas quando estiverem consumados e, mesmo assim, camuflados pelas mentiras dos porta-vozes do regime. Por isso, é importante que se divulguem o mais possível, as situações mais escabrosas que vão aparecendo à luz do dia, trazidas por pessoas cuja posição ideológica não deixa quaisquer dúvidas. É o que se passa com o texto seguinte que constitui um excerto de um artigo de opinião (“26 humilhantes minutos”) de Nicolau Santos inserido no suplemento Economia do “Expresso” de ontem.

“Vinte e seis minutos foi quanto demorou a Caixa Geral de Depósitos (CGD) a divulgar um comunicado apoiando a OPA da Intercement (grupo Camargo Correia) sobre a Cimpor. São seguramente os 26 minutos mais humilhantes da história da CGD. O seu conselho de administração foi tratado como o simples amanuense de uma repartição pública pelo acionista Estado que, através do Governo (ministro das Finanças e António Borges, consultor do executivo para as privatizações), lhe impôs a decisão de vender e a que preço, sem querer saber a sua opinião. Ora, há dois anos, a CGD disse que não vendia por €6,5; agora vende por €5,5. Na altura deu a mão ao empresário Manuel Fino; agora deixa-o cair. Aliou-se à Votorantim; a gora a Votorantim troca-a pela Camargo Correia. A CGD terá ainda estudado apoiar uma tomada de posição de Pedro Queiroz Pereira, o que também caiu.
Note-se, além do mais, que o acordo com a troika impõe que a CGD venda as suas participações – mas o caso da Cimpor tinha sido excluído dessa obrigatoriedade. Mais ainda: no acordo social por dez anos que assinou com a Votorantim, a CGD fê-lo para assegurar os interesses nacionais, porque a Cimpor não é uma empresa qualquer: é a maior empresa industrial portuguesa, a mais internacionalizada e um centro de tecnologia e de engenharia nacionais. Vitor Gaspar e António Borges passaram a ferro tudo isto, sem nenhuma oposição da CGD.
Por isso, Fernando Faria de Oliveira, José Matos e Nogueira Leite estarão a sentir o quê depois da humilhação a que foram sujeitos? A sua dignidade profissional, o seu passado, as suas convicções não os levam a dar um murro na mesa e a pedir a demissão? Ou admitem que este procedimento defende os interesses da Caixa, pela qual são responsáveis?
Quanto a Vitor Gaspar e António Borges, que rezam diariamente loas aos mercados e depois não os deixam funcionar, mostraram mais uma vez ao que vêm: desmantelar qualquer posição que o Estado detenha na economia, ao contrário do que o primeiro-ministro Mario Monti está a fazer em Itália. Dizem que assim a economia ficará mais eficiente e competitiva e que os preços descerão. Vamos esperar sentados para ver esse milagre.

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