sexta-feira, 11 de maio de 2012

ELEIÇÕES NA EUROPA, UMA NOVA LUZ

De há uns meses a esta parte, entre alguns assumidos “socialistas” que opinam na imprensa escrita, fora dos principais jornais, tem vindo a notar-se uma mudança de posição relativamente às medidas de austeridade a que o Partido de Sócrates e o atual Partido de Seguro foram dando cobertura desde a assinatura do memorando entendimento com a troika. O Tratado Orçamental foi a cereja em cima do bolo. Com a sagacidade que se lhe conhece, Mário Soares já deve ter reparado que as bases do PS não estarão dispostas a aceitar, impávidas, o prolongamento das medidas recessivas e o inevitável crescimento do desemprego. Por isso, sentindo os ventos de mudança que estão a soprar na Europa, veio propor um rompimento com a troika.

O texto seguinte que transcrevemos do “Diário de Coimbra” de quarta-feira (9/5), como podemos constatar, é muito crítico em relação aos “predadores mercados financeiros” e à sua forma de atuação, chegando ao ponto de designar o “mundo da finança” como inimigo de Portugal. Nada que não se saiba mas que tem o seu significado vindo de alguém do PS que já leu com atenção os resultados das eleições em França e na Grécia.


Esperança

Domingo estive na Bastilha. Não por lá ter estado fisicamente, mas porque o meu coração esteve com os milhões de franceses que festejaram a vitória. Festejo porque sou socialista, mas sobretudo porque sou europeu. O poderio económico alemão não pode ignorar os valores, os desafios, a esperança que criaram esta Europa de Nações, que fundamentaram este espaço de paz e de solidariedade. Só a cultura, a coesão, a liberdade, justificam o caminho comum que escolhemos. Os lideres políticos precisam de empenhar os seus povos na construção da Europa, que, se é condição para uma melhor qualidade de vida dos povos, só vingará se estes a reconhecerem como o seu espaço de afirmação. Neste mundo globalizado, a Europa não pode ser um simples espaço económico, sujeito aos predadores mercados financeiros. Também em Portugal, o inimigo é o “mundo da finança”, essa entidade sem rosto, sem legitimidade democrática que nos asfixia, que pretende sujeitar os europeus ao seu único objetivo: a acumulação da riqueza. Por isso, todos nos sentimos franceses, irmanados na esperança de novas políticas europeias que valorizem o crescimento económico e o emprego, que coloquem as pessoas no centro das preocupações. O caminho será naturalmente longo e penoso, porque a preocupação com as contas públicas não pode ser esquecida. Mas finalmente um País, central na construção europeia, afirmou sem margem para dúvidas que existe dívida para além da austeridade, convidou os povos europeus para um novo paradigma, colocando a política como agente principal na decisão.

Em democracia são os cidadãos que escolhem o caminho, compete aos governos garantir aos seus povos o futuro, criar as condições de igualdade e de solidariedade que permitam que todos, particularmente os mais desfavorecidos, se sintam parte desta Europa. Temos de estar atentos, aos que agora mudam de trajetória, pois, como animais ferozes, apenas aguardam uma oportunidade para porem em causa o novo rumo que esperamos se concretize. Por cá, o radicalismo do Gaspar, agora também controleiro do QREN, acérrimo crítico de qualquer política de investimento público, bom aluno da escola de Chicago e das políticas monetaristas do BCE, é uma contracorrente aos bons ventos de França. Esperemos que as novas sensibilidade da União Europeia e do Banco Central, que se anteveem, sejam ouvidas por este governo, obcecado pela austeridade.

Domingo não estive na Praça Sintagma. Não conheço a Grécia mas preocupam-me as dificuldades que o berço da nossa cultura atravessa. Os resultados eleitorais penalizaram naturalmente os partidos que têm responsabilidade na crise. Em democracia, os povos são soberanos e única fonte de poder. Contudo, a instabilidade resultante da pulverização partidária no Parlamento, as prováveis e já confirmadas dificuldades na constituição do novo Governo, as dúvidas sobre os compromissos com a Europa e com o Euro, merecem a nossa atenção. Os responsáveis políticos em Portugal e na Europa devem tomar boa conta da rejeição que políticas de excessiva austeridade podem causar ao nosso projeto comum. Não é importante dizer que não somos a Grécia, pelo contrário devemos afirmar que todos somos Europa, que os povos europeus esperam, exigem e merecem políticas de inclusão e de progresso.

É no combate ao desemprego e às desigualdades sociais, no respeito pela dignidade humana, na luta pela transparência e pela justiça, que regressaremos à Europa dos pais fundadores, que saberemos aproveitar a lufada de ar fresco vinda de França. (Moura e Sá)

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