sexta-feira, 29 de junho de 2012

O CONTROLO DA INFORMAÇÃO


Parece uma contradição mas a verdade é que, na”sociedade da informação” e em regimes políticos aparentemente abertos, a informação se encontra rigorosamente controlada. Os poderes fácticos, sejam eles de que natureza forem, filtram a realidade conforme os seus interesses e não permitem que a mesma chegue ao cidadão comum quando e como é mais necessária.

O texto seguinte (excelente) versa exactamente o controlo e a desfiguração da informação. Foi transcrito do “Diário de Coimbra” de ontem (28/6). Apesar de ser um pouco extenso, a sua leitura vale bem a pena.



UM MERO ESCLARECIMENTO

A cadência infernal da informação que, a cada instante, pulveriza o mundo, coexiste com uma incógnita absoluta, a de saber qual a gramática que preside ao seu alinhamento, o modelo que prescreve, no que é divulgado ou temporalmente ignorado pela pressão dos poderosos interesses corporativos ou dos próprios estados.

Nos interstícios deste tempo informativo formatado pelo poder discricionário dos grandes grupos mediáticos – cinco nos Estados Unidos, conhecidos pela sigla “Hollyweb” – o já célebre Murdoch, Sony (Japão), Bertelsmann (Alemanha) ou o “saudoso” Berlusconi, apenas para referenciar o mais óbvio, tudo pode (não) acontecer.

Neste verdadeiro conflito de interesses entre o poder económico/financeiro, os rumores, o diletantismo profissional nos diretos televisivos, a seleção dos atores, o verosímil como simulacro da verdade e a urgência noticiosa que anestesia o conhecimento, entrámos definitivamente numa era com um novo paradigma, o da toxicidade informacional.

Sessenta anos depois da criação da comunidade europeia do carvão e do aço (CECA, Julho 1952), anuncia-se para hoje e amanhã [28 e 29 de Junho] uma cimeira decisiva para a Europa, criando-se enormes expectativas para os milhões de desempregados e famílias remendadas, enquanto, na noite passada, o “prime time” se esgotou no jantar Hollande/Markel e na fase final do Euro-2012.

Portanto, ignorou-se o fundamental, que presidirá a tais decisões. As negociações entre a chanceler alemã, o partido social-democrata (SPD) e os Lander sobre o pacto orçamental e o mecanismo de estabilidade financeira, de forma a garantir a sua aprovação no parlamento e na câmara alta (Bundesrat), onde estão representadas as dezasseis regiões alemãs, na sujeição das deliberações do tribunal constitucional de Karlsruhe, quanto á independência do banco central europeu, que prefigura a trajetória de Merkel.

De igual forma, apresentou-se o duo franco-italiano como defensor de uma política de crescimento, ignorando-se que a palavra tem um significado completamente diferente para o keynesiano Hollande ou para o liberal e ex-Goldman Sachs, Mario Monti.

Face ao voluntariado na sua aplicação – opção irrisória e retirada do debate público – não seria difícil imaginar o que nos diria hoje James Tobin, que há quarenta anos definiu a sua taxa sobre as transações financeiras, logo após fim de Bretton Woods, originado pela declaração de Nixon sobre o fim da convertibilidade do dólar em ouro.

Passando para a síria, foi necessário esperar pela edição de quinta-feira passada do New York Times para o mundo mediático ficar a saber que a CIA, operando na Turquia, tem tido um papel de relevo na distribuição seletiva de armamento aos rebeldes, financiados pelo Qatar e os sauditas, informação esta que era conhecida, desde o final do Verão passado por mim e por todos os que não se conformam com o “oficioso informativo”.

Foi também com grande perplexidade que os media anunciaram a nomeação de Bassma Kodmani, de origem turca, para membro executivo e porta-voz do conselho nacional da oposição síria, esquecendo-se de divulgar que ele foi um dos convidados especiais da última reunião do Clube de Bilderberg que, em 2011, já tinha optado por Christine Lagarde para dirigir o FMI, em detrimento dos governadores dos bancos centrais do México e de Israel.

Como em Copenhaga, Cancun e Durban, a cimeira Rio+20 concluiu-se com um fracasso ambiental e uma vitória das multinacionais, facto reconhecido pelas ONG’s presentes e não poderia nunca ter sido diferente, se a opinião pública soubesse que a síntese do relatório das Nações Unidas (PNUE) foi elaborada por Pavan Sukhev, por estranha coincidência, um alto responsável do Deutsche Bank.

Tudo isto pretende ser, apenas, um mero esclarecimento para os leitores deste jornal. (João Marques, Diplomado em Ciências da Comunicação).

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