quinta-feira, 28 de junho de 2012

"SÉTIMA CARTA ÀS ESQUERDAS"


Na sua “sétima carta às esquerdas” (já aqui fizemos referência a outras “cartas”), o Prof. Boaventura Sousa Santos (BSS) usa como temas dominantes a recente Conferência da ONU Rio+20 e a Cúpula dos Povos que tiveram lugar no Rio de Janeiro.

Enquanto na primeira se encontravam “os governos e a sociedade civil bem comportada, incluindo as empresas multinacionais”, a Cúpula dos Povos representava “a expressão da riqueza do pensamento e das práticas que os movimentos sociais de todo o mundo estão a levar a cabo”.

O que ressalta destes dois acontecimentos é que tiveram pouca repercussão na nossa comunicação social, de tal maneira que até os mais atentos para estas realizações quase não deram conta da existência da Cúpula dos Povos. Mas não é por acaso que isto acontece… Acabou mesmo por ficar no ar a ideia de que apenas terá existido a Conferência Rio+20. Por isso, a importância da divulgação do interessante texto que o BSS assina na “Visão” de hoje.


A que esquerdas me dirijo? Aos partidos e movimentos sociais que lutam contra o capitalismo, o colonialismo, o racismo, o sexismo e a homofobia, e a todos os cidadãos que não se consideram organizados mas partilham os objetivos e aspirações daqueles que se organizam para lutar contra tais objetivos. É um público muito vasto, sobretudo porque inclui aqueles que têm práticas de esquerda sem se considerarem de esquerda

E, no entanto, parece tão pequeno. Nas últimas semanas, as esquerdas tiveram a oportunidade de vivenciar a riqueza global das alternativas que oferecem e de identificar bem as forças de direita a que se opõem.

Infelizmente, essa oportunidade foi desperdiçada. Na Europa, as esquerdas estavam avassaladas pelas crises e urgências do imediato e, noutros continentes, os média ocultaram o que de novo e de esquerda pairava no ar.

Refiro-me à Conferência da ONU Rio+20 e à Cúpula dos Povos que e realizaram no Rio de Janeiro. A primeira realizou-se na Barra da Tijuca e a segunda no Aterro do Flamengo. Eram poucos os quilómetros que as separavam, mas havia um vasto oceano de distância política entre elas. Na Barra, estavam os governos e a sociedade civil bem comportada, incluindo as empresas multinacionais que cozinhavam os discursos e organizavam o cerco aos negociadores oficiais. Na Barra, a direita mundial deu um espectáculo macabro de arrogância e de cinismo ante os desafios incontornáveis da sustentabilidade da vida no planeta. Nenhum compromisso obrigatório para reduzir os gases do efeito estufa, nenhuma responsabilidade diferenciada para os países que mais têm poluído, nenhum fundo para o desenvolvimento sustentável, nenhum direito de acesso universal à saúde, nenhuma quebra de patentes farmacêuticas em situações de emergência e de pandemias. Em vez disso, a economia verde, o cavalo de Troia para o capital financeiro passar a gerir os bens globais e os serviços que a natureza nos presta gratuitamente. Qualquer cidadão menos poluído entende que não é vendendo natureza que a podemos defender e não acredita que os problemas do capitalismo se possam resolver com mais capitalismo. Mas foi isso o que os média levaram ao mundo.

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