quinta-feira, 13 de setembro de 2012

DE REPENTE...

De repente parece que toda a gente tomou consciência da gravidade das medidas que o Governo Passos/Portas tem vindo a tomar e que, para além de não resolver nenhum dos problemas provocados pela crise, vem ainda agravar alguns que já antes existiam. De um ponto ao outro do espectro das forças políticas e das organizações sindicais e patronais surgiu uma quase unanimidade em relação à reprovação das medidas de austeridade anunciadas pelo primeiro-ministro e seus acólitos. Até Mário Crespo deve estar a sentir dificuldades em recrutar quem o vá ajudar na sua cruzada pró-governo que todos os dias leva a cabo na SIC Notícias…

Um dos três componentes da troika nacional está a descolar a toda a velocidade numa tentativa de fazer esquecer aos portugueses as suas responsabilidades na assinatura do chamado memorando de entendimento que abriu a porta ao descalabro que agora se verifica. Referimos ontem um exemplo e hoje temos outro para ilustrarmos a pressa com que os “socialistas” se querem demarcar da troika estrangeira. João Proença que deu a mão a Passos Coelho e Portas já fala em greve geral. Também este texto, da autoria de um escritor “socialista”, que aqui vamos transcrever, fala no mesmo tom.

 
Greve geral, já! (*)

Portugal tornou-se irrespirável. Há um ambiente poluído que atravessa as vidas dos portugueses comprometendo a sua dignidade. Sente-se em todos os lugares um descontentamento manifesto que cresce à medida que este governo de direita aperta o garrote. As cinturas dos portugueses são as mais elegantes da Europa, graças a um primeiro-ministro que teima em “roubar” os seus cidadãos. Ainda a procissão não saiu de S. Bento e já se ouve o Professor Marcelo Rebelo de Sousa dizer que o homem não está preparado”, diga-se, para ser primeiro-ministro. Quando o Professor Marcelo diz isto, é porque na caserna afecta ao governo o verniz estalou.

A partir de agora acabaram-se os compromissos com a governação. A UGT deve rasgar o Pacto Social, interpretar o descontentamento dos trabalhadores portugueses e preparar-se para uma dura luta que deve ter o seu apogeu numa greve nacional de tempo indeterminado e com consequências. Este governo não pode fazer tudo o que quer, refugiando-se atrás da Troika, camuflando a impreparação e disfarçando uma agenda escondida de destruição do estado social, valendo tudo o que é serviço público, desmantelando a organização do estado. Ainda tem a maioria parlamentar que lhe permite continuar a desgovernar Portugal, mas essa maioria já não reflete o país real. A maioria dos portugueses estão contra este governo e, por isso, o senhor presidente da república deve tirar as devidas ilações: temos um governo que já não tem legitimidade política. O que se irá passar nos próximos tempos será catastrófico para os portugueses. Milhares de desempregados – caminhamos em passo acelerado para os 20% –, miséria por todo o lado, assaltos e violência descontrolada. A juntar a tudo isto teremos menos polícia, menos professores, menos médicos, menos tudo… Resta moribundo, esquartejando o país e chantageando os portugueses: ou esta receita de empobrecimento ou o caos. Fala-se muito de uma remodelação governamental, ou seja, mudar os nomes e os cromos para deixar tudo na mesma. A solução não passa por mudar o ministro da economia por outra cara mais rosada, ou mandar para o Brasil o Relvas, deixando no seu lugar outro “mafarrico” da banda desenhada, ou ainda, trocar Crato por outro qualquer gestor liberal sem memória. A solução passa pela inflexão das políticas desastrosas para as famílias portuguesas. O país de tanga de que falava Durão Barroso continua de tanga com Santana Lopes. Virem dizer que a culpa é do governo de José Sócrates é um exercício que já não pega. As próximas semanas são determinantes para evitar uma crise política. Ou o governo arrepia caminho ou nada será como dantes. A agitação social será uma resposta inevitável para que o governo saiba que, em Portugal, há um povo que resiste, que não é manso nem sereno. Os sindicatos e os partidos da oposição devem erguer uma barragem para evitar uma catástrofe de consequências sociais irreparáveis.

Esta é a hora de erguer a voz, de sair à rua, de fazer oposição activa dentro e fora do parlamento. Vivemos o maior ataque aos nossos direitos desde o 25 de Abril de 1974, legitimado em nome da democracia. A voz do povo é soberana, a sua vontade move montanhas. Por isso, acredito que o povo vai sair à rua para exigir o que tem direito. Não há governo sem vergonha que resista por mais legitimado que esteja por uma maioria parlamentar. É preciso dizer que o CDS, parceiro da coligação não é santinho. Paulo Portas sempre tentou passar entre a chuva e não se molhar. Mas é cúmplice deste governo. Portas está mais interessado em ser ministro do que em defender os portugueses. Dá-lhe jeito, este jeitinho de estar bem com deus e com o diabo. O caminho é um protesto audível nas ruas em nome de Portugal, contra os vendilhões do templo. O caminho é uma greve geral para salvar Portugal.

(*) António Vilhena, escritor, “Diário de Coimbra”

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