domingo, 23 de dezembro de 2012

TRISTE METÁFORA


Depois do descalabro brutal a que o país foi conduzido nos últimos anos, fruto, no essencial, de políticas erradas de submissão a interesses estrangeiros e, em especial, ao capital financeiro, muitos milhares de portugueses já perderam as suas casas, já se desfizeram de muitos dos seus haveres tais como peças de ouro de valor sentimental incalculável para poderem retardar por alguns instantes o seu próprio colapso financeiro. Mas chega a um ponto em que a ruptura é inevitável.

A toda a hora nos chegam histórias que, todas juntas, vão traçando o caminho do abismo para onde iremos cair. Há poucos dias tivemos conhecimento do abate de milhares de cavalos de raça puro-sangue lusitano porque os seus criadores, não conseguindo vendê-los, também não têm meios para os alimentar. Parece uma metáfora do que está a acontecer com o país, como afirma Nicolau Santos neste pequeno texto que transcrevemos do Expresso Economia de ontem (22/12).


OS CAVALOS TAMBÉM SE ABATEM

Este ano já foram abatidos em Portugal 2803 cavalos de raça puro-sangue lusitano, não por doença, mas porque os seus criadores não conseguem vendê-los e também começam a não ter meios para os alimentar. O abate de puros-sangues é uma metáfora para o país. Estamos a entrar na fase de começar a sacrificar os que nos estão mais próximos, dos animais às pessoas – velhos que são deixados nos hospitais, ou de crianças abandonadas em instituições de caridade, ou dos sem-abrigo que começam a proliferar nas cidades.

Estamos a evoluir da vida minimamente confortável para a pobreza e da pobreza para a indigência. O próximo ano será o da morte da economia. E, como escreveu Pacheco Pereira, do não retorno para milhares de famílias que nunca mais conseguirão voltar a ter os padrões de vida de que usufruíam até há muito pouco tempo.

2013 será o ano da total desesperança, do desespero, da impotência – mas também da indignação e da revolta. Construir algo de bom a partir deste quadro vai demorar décadas.

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