sexta-feira, 19 de abril de 2013

CORRER PARA A CALAMIDADE


Como muita gente de boa fé foi avisando nos últimos anos, encontramo-nos actualmente a correr para a calamidade económica e social. Esses avisos que pareciam na altura exagerados, verificamos agora, que só pecavam por defeito. O pior é que os nossos governantes, quais mandatários de uma força de ocupação estrangeira, em vez de recusarem mais medidas que venham aumentar o sofrimento do seu povo, aceitam até com agrado doses reforçadas dessas medidas. Trata-se de um grupo de fanáticos incompetentes cujas acções roçam a mais pura malfeitoria da mais feroz das ditaduras. Cada dia que permaneçam à frente dos destinos de Portugal é um dia a menos para a nossa queda no abismo.

O texto seguinte, que transcrevemos do Diário de Coimbra de hoje, parte de uma situação real para generalizar ao que se passa por todo o país.


Austeridade e desemprego – situação explosiva (*)

Mãe deixou de comer para alimentar o filho, criança de dois anos. O menino ainda não tem idade para entender que a mãe passa fome por ele. O frigorífico está vazio. As prateleiras sem nada. Estão assim desde que o marido perdeu o emprego, na constrição civil. A mãe desempregada. Logo que souberam que estava grávida, mandaram-na embora da pastelaria onde trabalhava. Como não tinha contrato, nada recebeu.

As contas ficam por pagar. A electricidade foi cortada. Nem sempre há dinheiro para comprar gás. Devem dois meses de renda.

Há fome. Por vezes nem o sabor de um bocadinho de pão ou sopa chega a boca. Têm algumas ajudas de famílias vizinhas, também essas com a pobreza em casa.

Esta é a história de uma vida, mas há muitas assim pelo país.

Os números do desemprego são dramáticos, uma calamidade. Perto de um milhão os registados. São muitos mais, porque fazem limpeza aos ficheiros para tapar a verdade. Os mais jovens emigram, à procura de trabalho, para fugir à pobreza.

O Presidente da República lamenta. Os ministros lamentam. A desgraça continua a alastrar e os dramas das pessoas crescem.

E continuam a falar na criação de emprego, mas fazem mais desempregados.

A austeridade vai ao bolso das pessoas. Destruíram o poder de compra das famílias. As fábricas fecham e o desemprego alastra. As empresas estão sem clientes.

Uma sociedade reduzida à pobreza.

Mas não faltam teóricos a falar que é necessário reduzir os salários. Nessa sanha querem diminuir o salario mínimo nacional, já de si uma miséria.

E nessa linha, aparecem ministros do governo, o ilustre António Borges, Belmiro dos mercados e outros patriotas que acumulam ordenados e lucros num País empobrecido.

E nesta corrida para a calamidade social enchem-nos os ouvidos de reforma estruturais. E as reformas estruturais são todas a tirar ao trabalhador. Aumento dos impostos, menos tempo a contar para indemnização por despedimento, aumento dos horários de trabalho, menos dias de férias e menos feriados, menos por horas extraordinárias, taxas para a Segurança Social para o trabalhador e menos para a entidade patronal. Salários mais baixos e reforma reduzidas. São estas as reformas estruturais.

E os grandes pensadores das reformas estruturais estão a pôr quem trabalha em regime de escravatura, para atrair investimentos para a economia crescer e criar empregos. Para mais competitividade.

Ilusão e ignorância. Cinismo e má fé. Eles sabem as maldades que estão nessas reformas estruturais. Cumprem recados da Troika.

Se de verdade querem reduzir custos de produção para dar mais competitividade e concorrência, desçam os custos com a electricidade que são custos pesados na indústria, a banca conceda empréstimos a taxas mais baixas, os produtos que circulam nas estradas circulem sem portagens e paguem menos de combustível. Assim, os custos de produção minguavam e os investidores podiam vir.

Não é por esse lado que nos levam. Por aí tudo vemos subir.

As lamentações são palavras de circunstância, sem sinceridade.

Esta corrida para o abismo já não é só de Portugal. Esta desgraça anda pela Europa.

Já chegou ao Luxemburgo, um paraíso com tradição de bom acolhimento para muitos portugueses.

Por la encontraram trabalhadores portugueses a receberem salários de 350 por mês. Situações de autêntica escravatura. Palavras do sindicato luxemburguês.

Recrutados por empresários sem escrúpulos, “as pessoas chegam a trabalhar 14 horas por dia, de segunda a sábado, e às vezes domingos e feriados, para receberem muito abaixo do salário mínimo no Luxemburgo”, refere o responsável sindical daquele país.

Assim andamos nesta Europa desorientada e esquecida da sua tradição cultural, agora governada por políticos fracos, medíocres, carreiristas.

(*) Manuel Miranda

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