sexta-feira, 24 de maio de 2013

AUSTERIDADE CRIMINOSA



A criminosa política de austeridade imposta pela Alemanha e seguida pela Comissão Europeia tem vindo sucessivamente a arrasar Estados e Povos. A tal ponto que, depois dos sitos periféricos do sul – Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha – chegou a vez das economias pujantes do centro da Europa, como surpreendentemente aconteceu com a Holanda onde “no curto espaço de três semanas, tudo parece desmoronar-se. Quem o diz é a imprensa internacional, de matriz neoliberal, como, por exemplo, o “The Economist”. Num artigo recente, a revista escreve que as dívidas das famílias atingem os 250 por cento do rendimento disponível, o dobro da Espanha. O crédito malparado disparou e os preços do imobiliário desceram 16,6%, em cinco anos, prevendo-se que esta queda aumente em sete por cento, até ao final do ano.

Os alarmes já soaram, nos bancos, que têm investidos mais de 650 mil milhões de euro, no sector imobiliário. Os investidores só conseguem as remunerações acordadas com os fundos para investimentos anteriores a 1999. Nos mais recentes, os juros de rendimento caíram a tal ponto que já se compara a situação, com o Subprime, iniciado nos Estados Unidos, em 2007. Todos os dias aumenta o número de hipotecas imobiliárias que ficam por pagar. O Estado já teve de resgatar um banco.

A colecta fiscal deu também um enorme trambolhão, fruto do encolhimento da economia. Para 2013, prevê-se mais uma queda que o FMI prevê que seja da ordem dos 0,5 por cento. Mas outros analistas dizem que será maior.

Como principal consequência, o desemprego já subiu para 8,1 por cento, com tendência a aumentar, como reconhece o primeiro-ministro Mark Rutte.

Ele tinha um plano de austeridade, avaliado em 16 mil milhões de euros, que pretendia aplicar em quatro anos. Mas perante o mau desempenho da economia, parece desorientado, receando que a receita não seja a mais apropriada.

Rutte atribui o crescimento do desemprego á crise no sector imobiliário que, praticamente travou a construção. Mas os analistas, mesmo os holandeses, dizem que há outras causas, incluindo os incentivos fiscais dados por este Governo ao sector financeiro que reduziram o investimento na economia produtiva, para valores que já não se viam há 18 anos.

Em 2012, a Holanda registava um saldo positivo da balança comercial de 67 mil milhões de dólares. Mas os dados do primeiro trimestre deste ano apontam para uma quebra acentuada, porque os seus principais clientes pertencem à zona euro e estão também em retracção. A crise, afinal, também existe no Norte, para desespero da senhora Merkel. E não há uma Senhora de Fátima que valha aos holandeses” (*).

Como se percebe, no fundo, as causas da austeridade vão sempre dar, em última instância, ao capital financeiro cujas mordomias não podem ser tocadas – o Estado holandês já teve de resgatar um banco, obviamente, com o dinheiro dos contribuintes. É em todo o lado a mesma coisa – as populações a servirem de carne para canhão do capital financeiro. Ainda são poucos os exemplos? Até quando irá esta situação durar?

(*) Sérgio Ferreira Borges, Diário de Coimbra (19/5/2013)

Sem comentários:

Enviar um comentário