sexta-feira, 10 de maio de 2013

DESTRUIÇÃO DE EMPREGO, UMA CALAMIDADE


Os dados que ontem vieram a público sobre o crescimento do desemprego são impressionantes, quase inacreditáveis. Esta catástrofe social, há muito que vem sendo anunciada por imensa gente que não concorda com as políticas que este Governo vem seguindo desde que tomou posse. Aquilo que poderia parecer, a alguns, apenas uma dramatização da oposição veio paulatinamente a concretizar-se, até, com contornos ainda mais negros do que os previstos. É impressionante como foi possível que, em apenas um ano tenham sido destruídos 230 mil postos de trabalho. O maior génio do mal não seria capaz de congeminar tamanha crueldade em tão pouco tempo mas o nosso Governo, pela mão da troika nacional Passos/Portas/Gaspar conseguiu um crime impensável em tempo record.

Muitas leituras podem ser feitas sobre os mais recentes valores do desemprego – esta que aqui deixamos foi retirada do Público de hoje e tem uma leitura fácil.


Desemprego: a Economia a desfazer-se (*)

Em apenas um ano, segundo os dados do INE, agora publicados, para o primeiro trimestre, foram destruídos 230 mil postos de trabalho. O desemprego, por sua vez, aumentou “apenas” 130 mil pessoas. O que aconteceu então aos restantes 100 mil indivíduos que separam os dois números? Muitos emigraram, como está patente na redução de mais de 72 mil ativos entre os 25 e os 34 anos. Outros, a minoria, tornaram-se inactivos. Outros ainda, desencorajados a procurar trabalho.

Esta destruição de postos de trabalho num ano é impressionante. É a maior de sempre, num ano, registada pelo INE. A destruição do aparelho produtivo tem, não apenas este efeito conjuntural, mas um efeito estrutural profundo. São aprendizagens que se perdem. São ligações a mercados que se destroem. São dimensões humana e social que se agravam, catalisando o pessimismo nacional e as expectativas paralisantes que dominam a sociedade portuguesa.

Esta destruição do emprego já alastrou aos trabalhadores efectivos das empresas. Não são apenas a parte variável e ajustável do custo de trabalho que está a diminuir (os denominados contratos a prazo, os recibos verdes e demais precários). Os contratos sem termo diminuíram, num ano, quase 190 mil pessoas. Apenas o trabalho informal e de pequena duração subiu, o que prova o desespero social em que se encontra o País.

O País assiste assim à sua destruição económica. De acordo com a teoria económica que suporta estas intervenções, não há nestes dados nada de mal e de anormal. Mesmo que todas as estimativas saiam furadas e revistas a preto. Até há beleza, como disse um responsável governamental esta semana. A deslocação (nome eufemístico para a emigração) do fator trabalho é vista como normal e até positiva.

Nestes modelos, países, pessoas em territórios, e, nestes, afetividades, culturas e relações sociais não existem. Um País pode desaparecer, e as pessoas deslocarem para o Centro e o Norte da Europa, que a situação é vista como ajustamento e normalidade no modelo de intervenção. Acrescenta-se aqui, normal para os outros, não para si, os decisores, os seus empregos, as suas facilidades, as suas networks e lealdades, e, inclusive, as suas relações com o poder económico e financeiro dominante.

O País assiste assim à redução significativa da sua taxa de emprego. Na População entre os 24 e 64 anos, como é medida a taxa de emprego na UE, na estratégia UE 2020, definiu-se uma meta de 75%. Em 2012, Portugal estava em 66,5%. Face a 2011 desceu 2,6 pontos percentuais em apenas um ano. Em 2008, Portugal chegou a ter 73,1%, acima da média europa.

Em suma, há uma destruição impressionante do emprego e do aparelho produtivo nacionais. A Europa define metas. Umas contam. Outras não, como a taxa de emprego. Muito difícil, assim, acreditar que seja possível manter a União Económica e Monetária. Mas acredita-se que a força desta realidade negra irá alterar este caminho sem saída.

(*) Francisco Madelino

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