segunda-feira, 6 de maio de 2013

O CONTROLO DA INFORMAÇÃO


O controlo da informação é um poderoso instrumento de poder e, quem o detém domina o mundo. Nos tempos que correm, mais que nunca, esta é uma verdade inquestionável que todos os dias comprovamos com exemplos cada vez mais fortes.

Mesmo quem procura diversificar as suas fontes de informação sente-se muitas vezes ludibriado com as notícias que lhe chegam, todas no mesmo sentido, mas todas igualmente incompletas e deturpadas em relação à realidade dos factos. Não devemos imaginar que situações destas acontecem por acaso, se tivermos em conta os muitos interesses em jogo em cada momento. O que se passa actualmente, no que diz respeito às recentes eleições na Venezuela, é um exemplo perfeito da mistificação da realidade do que se passa no terreno, por parte da comunicação social, em especial a televisiva. Por isso, resolvemos transcrever do Diário de Coimbra (5/5/2013) o seguinte texto, cujo autor nos merece todo o crédito, relativamente à situação que se está a viver na Venezuela.


Uma Venezuela em chamas (*)

A Venezuela vive dias quentíssimos, tudo parece decidir-se a ferro e fogo, num aís dividido em metades desiguais, sem capacidade para a tolerância. Vista da América latina, é uma realidade completamente diferente, daquela que os media europeus descrevem. Os acontecimentos do Primeiro de Maio são um exemplo eloquente.

De um lado, está o candidato derrotado nas eleições presidenciais, Henrique Capriles, que pretende fazer a Nicolas Maduro aquilo que Hugo Chavez nunca lhe consentiu. Em poucos meses, perdeu duas corridas eleitorais, o que parece ser insuficiente para que saiba retirar daí as respectivas consequências. Talvez tenha sido por essa razão que Maduro lhe chamou um “burguesinho, chorão e fascista”. Na Europa, chamar fascista a alguém é qualquer coisa que saiu da moda, já não se usa, apesar de muitos o justificarem. Na América Latina, as coisas são diferentes e aqueles que ainda se lembram do que sofreram com as ditaduras usam o vocábulo, sem qualquer tipo de pejo.

Capriles conta com o apoio dos grandes interesses económicos, sobretudo petrolíferos. A obediência que lhes deve exige uma luta insana contra Nicolas Maduro, o homem que, de facto, ganhou as eleições presidenciais. Capriles quer vencer numa instância sem lei, aquilo que perdeu nas urnas, mesmo que o preço dessa luta seja uma convulsão de proporções imprevisíveis. E a Venezuela está, de facto, à beira disso.

O líder da Mesa de Unidade Democrática serve-se dos seus mais fiéis seguidores, em combates de uma violência indescritível, para depois usar as suas dramáticas consequências, em acções de propaganda, externa e interna.

Tudo começa, geralmente, pela convocatória de manifestações contra o poder instituído, consideradas pelos jornais e televisões europeus como “não autorizadas”. Isto é, tenta passar-se a ideia de que as manifestações foram proibidas pelo poder. A realidade é bem diferente. Muitas vezes, os pedidos de autorização para esses protestos são assinados por instituições sem existência jurídica e chegam depois de esgotados todos os prazos legalmente estipulados. Noutros casos, nem sequer é feito o pedido, tal como estabelece a lei do país. É evidente que, zelando pela ordem pública, o Governo usa os meios legais de dissuasão, para impedir essas manifestações. Resumindo, pode dizer-se que são manifestações não autorizadas, porque a autorização não foi requerida.

Mas as diatribes de Henrique Capriles vão muito mais longe. Pediu a recontagem dos votos, vontade que lhe foi indeferida, porque não era devidamente justificada. A partir daqui prometeu impugnar as eleições, junto do Supremo Tribunal de Justiça mas, na mesma declaração, acrescentou que “tudo isto vai terminar nas instâncias internacionais”. A dúvida é razoável: se acha que o assunto vai terminar nas instâncias internacionais – ele não disse quais – porque razão perde tempo com o recurso ao Supremo Tribunal? E que instâncias internacionais terão legitimidade para se imiscuírem num processo que diz apenas respeito à Venezuela? Por tudo isto se percebe que Capriles quer ganhar a Venezuela, fora da Venezuela.

Na sessão parlamentar evocativa do Primeiro de Maio, os homens de Capriles foram longe de mais nas provocações. No início da sessão, um grupo deles disse não reconhecer Nicolas Maduro, como Presidente da República. Queria, obviamente, boicotar a sessão parlamentar, podendo admitir-se que teria algum direito para o fazer. Mas assim sendo, só lhe restava uma possibilidade: retirar-se do hemiciclo. Mas não foi isso que aconteceu. Os provocadores decidiram manter-se nas suas cadeiras de deputados e usar o parlamento para uma arruaça. Aos insultos, que eventualmente foram recíprocos, seguiram-se as agressões físicas, andaram mosquitos por cordas e, no final, foram apresentados objectos contundentes que não costumam ser adereços parlamentares.

Nicolas Maduro terá de usar os meios de dissuasão permitidos pela lei que Capriles já exorbitou há muito tempo. O problema precisa de uma solução de músculo.

Pouco depois de se sentirem as primeiras medidas de Hugo Chavez tentei acalmar o alarme da direita portuguesa que se começava a estender aos portugueses residentes no país. Conversei sobre o assunto, com um destacado quadro do PSD que não escondeu a sua principal preocupação: ”ele anda a comprar votos e o apoio popular, com os lucros do petróleo”. Perguntei-lhe se achava mal que Chavez matasse a fome a milhões de venezuelanos, com o dinheiro do petróleo. Sem hesitação, respondeu-me afirmativamente. Voltei à carga: “mas você prefere que esse dinheiro mate a fome à pobreza, ou que vá para as petrolíferas?” Também desta vez a resposta foi rápida: “prefiro que vá para as petrolíferas”. É por isso que existe na Venezuela um tal Henrique Capriles.

(*) Sérgio Ferreira Borges.

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