quinta-feira, 20 de junho de 2013

OS RICOS NÃO PAGAM A CRISE



Na voragem dos dias, uma catadupa de informação nos chega, passando muitas vezes despercebida apesar da sua importância. É certo que se trata de tal quantidade que dificilmente seremos capazes de assimilar ainda que estejamos perante informação determinante para o nosso modo de vida colectivo.

O projecto Rendimento Adequado em Portugal (RAP) é certamente do conhecimento de um número ínfimo de portugueses mas tem grande importância “quer para a medição da pobreza quer para a discussão pública da adequação dos valores mínimos para as transferências sociais em Portugal”. O objectivo principal do projecto RAP é responder à questão: “qual é o nível de rendimento que permite um nível aceitável de vida em Portugal?”

Num seminário realizado há poucos dias no Instituto Superior de Economia e Gestão em Lisboa, destinado a fazer o balanço do primeiro ano do RAP, uma das conclusões apresentadas foi a de que “a crise não chega aos ricos” como se pode ler no seguinte texto que retirámos da edição impressa do Público de 18/6/2013.

 

Análise às despesas das famílias confirma que "a crise não chega aos ricos"

Com a crise iniciada em 2008 a proporção do orçamento familiar destinada a suportar a alimentação baixou 27%. Mas isto apenas na faixa da população mais pobre. Já no grupo dos mais ricos não houve alterações de monta. Um dos elementos da equipa do projecto Rendimento Adequado em Portugal (RAP) analisou os inquéritos às despesas familiares entre 2005-2006 e 2010-2011. E ontem apresentou alguns resultados.

Entre os mais pobres (aqui definidos como os agregados que fazem parte dos 20% que menos gastam globalmente), Susana Brissos detectou alterações muito significativas na forma como o orçamento familiar é distribuído - com o peso das despesas com a habitação a subir substancialmente (como se tivesse havido uma transferência directa dos custos com alimentos e afins para os relacionados com a casa). Já nos agregados mais ricos, assinala "a enorme estabilidade dos coeficientes orçamentais da despesa total", o que, conclui, parece "confirmar a máxima popular de que "a crise não chega aos ricos"".

Esta foi uma das análises apresentadas no Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa, num seminário destinado a fazer o balanço do primeiro ano do RAP - um projecto que se destina a quantificar montante necessário para viver dignamente em Portugal. O RAP inclui investigadores de três instituições universitárias, é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e tem como investigador principal José António Pereirinha.

Entre Junho e Outubro foram entrevistados 68 adultos com diferentes perfis de três concelhos do país. Os resultados das entrevistas são claros: para as pessoas viver dignamente é mais do que garantir a subsistência física. É sentir-se seguro, ter acesso à cultura e ao lazer, integrar a sociedade - poder ir ao café até, como exemplificou um entrevistado. Será em função das respostas que se calculará quanto custa viver dignamente em Portugal - esse é o passo que se segue. Um cálculo que pode mudar a forma como se define a pobreza - em Portugal entende-se que está em risco de pobreza quem tem menos de 420€/mês para viver.
 

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