terça-feira, 7 de janeiro de 2014

HISTÓRIA DE UM IMPOSTO



Muitos ainda recordarão a promessa do então candidato “socialista” Francois Hollande, nas últimas eleições presidenciais francesas, de taxar fortemente as grandes fortunas.
Recentemente foi feito um grande alarido à volta de um imposto de 75% que os muito ricos iriam pagar em França. Este valor foi usado pela propaganda da direita francesa para criticar fortemente o governo e para este exibir um enorme foguetório reclamando uma medida de justiça fiscal quando, tudo espremido, se conclui que os verdadeiramente “muito ricos” continuam a escapar-se por entre as malhas da rede. Em toda a França, a nova taxa supostamente de justiça fiscal vai abranger um escasso milhar de pessoas, dando um ar de esquerda ao PS gaulês e ludibriando, de caminho a esmagadora maioria do povo. Lá como cá, com “socialistas” deste calibre não se chega a lado nenhum em termos de uma mais justa distribuição da riqueza.
A história da criação do imposto sobre os franceses muito ricos é contada, com laivos de ironia, por José Vítor Malheiros, numa parte do texto que assina no Público de hoje.
O Presidente francês François Hollande conseguiu há dias ver finalmente aprovada, depois do chumbo pelo Conselho Constitucional de uma primeira versão da lei, uma das medidas emblemáticas da sua campanha eleitoral: um imposto de 75% a ser pago pelos ricos. Bom, não exactamente de “75%”, mas sim de 75% sobre a parte do salário que exceda um milhão de euros por ano, o que é um pouco diferente. Bom, e o imposto não é exactamente de 75%, mas sim de cerca de 50%, só que a “carga fiscal” chega a 75% se se somarem também as contribuições para a Segurança Social. Bom, e o imposto não é exactamente um imposto que vise uma mais justa distribuição da carga fiscal mas uma medida provisória que deverá vigorar durante dois anos e que, por isso, se chama “contribuição excepcional de solidariedade”. Bom, e o imposto também não é exactamente sobre os mais ricos porque ele incide apenas sobre rendimentos do trabalho e não sobre rendimentos do capital e os verdadeiramente ricos, como sabemos, não vivem do seu salário. Ah, e as empresas podem assumir à sua conta o pagamento do novo imposto se preferirem não o fazer incidir sobre os salários dos trabalhadores – o que deve acontecer em muitos casos já que, nestas empresas, as decisões cabem precisamente aos assalariados com os salários mais altos, o que significa que estes contribuintes terão o privilégio de alienar as suas perdas fiscais se o quiserem fazer e de as “socializarem” em parte fazendo-as pagar pelas suas empresas (accionistas, clientes, outros trabalhadores). Mas nada disto impediu Hollande e o Governo e os socialistas franceses de venderem o imposto como uma medida de justiça fiscal, a direita de a criticar como um confisco inaceitável e o mundo dos negócios de criticar o “socialismo” da medida por atentar contra a saúde financeira das empresas e contra a competitividade da França.
Há em tudo isto algum descaramento. Descaramento do Governo francês, antes de mais, por apresentar este imposto, que afectará uns escassos mil cidadãos, como uma medida central do seu programa de justiça fiscal e um resgate da riqueza injustamente acumulada pelos “mais ricos” enquanto os verdadeiramente “muito ricos” continuam a escapar-se por entre as malhas da rede. Também por cá Passos Coelho considera que os “ricos” são os pensionistas que ganham 600 euros e os assalariados que ganham 1500.

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