quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

“NOVO VOCÁBULO”



O texto seguinte (*) que transcrevemos do Diário de Coimbra de hoje refere-se uma realidade actual, relativamente à qual já todos demos conta e comentámos mas usando outras designações. A sua leitura deve ser feita com muita atenção para que não nos percamos.
Ainda enquanto estudante universitário, recordo-me que um dos meus professores sublinhava que todas as proposições económicas são do tipo “se-então”, pelo que quaisquer soluções passam, sobretudo, pela arte de pensar e não tanto pelo registo alegadamente científico.
Sentido idêntico assumiu i chefe dos economistas de FMI Kaushik Basu ao declarar que “uma coisa que os especialistas sabem é que a extensão do seu conhecimento é muito mais limitada do que pensam os não especialistas, políticos, jornalistas ou o grande público”.
Assim se compreende melhor o famigerado Pacto de Estabilidade, rubricado pelos países do euro, ao sentenciar limites de défices, percentagens de PIB e outras imposições, que (quase) todos nós sentimos na vida quotidiana.
Temos de reconhecer que um dos propósitos desta visão do mundo foi absolutamente conseguida, a da sujeição dos cidadãos, das instituições políticas – veja-se o comportamento submisso da comissão europeia – e dos governos nacionais a uma verdadeira ditadura singular do mercado.
Por aqui e para complicar mais a existência do ainda pacato cidadão, multiplicam-se os escândalos (os contribuintes vão ter de pagar 23,5 milhões de dívidas do Europarque), o conflito de interesses, a colisão entre o público e o privado, os ataques “turcos” à constituição e a sistemática introdução de “boys and girls” nas empresas públicas ou nos mecanismos da administração local ou central e em que a ideologia partidária já só conta para a pequena história.
A palavra inglesa “staff”, conjunto de pessoas que assessora um dirigente e que compõem o quadro de uma instituição, já temo seu equivalente na língua de Camões (stafe), seguindo o dicionário Houaiss.
Neste âmbito, não posso deixar de citar as palavras pronunciadas, no passado domingo, pelo presidente da autarquia de Viana do Castelo e dirigente nacional do partido, o socialista José Costa quando interrogado sobre a qualidade dos administradores dos estaleiros navais: “é uma administração de boys do PS e do PSD, que estão lá há dois anos e meio, provavelmente a jogar às cartas com os trabalhadores e alguns nunca viram um navio na vida”.
Noutras latitudes, alguns sociólogos ou instituições de ensino superior já se dedicaram ao estudo da presença do que designam por “staffers” no seio das organizações. É o caso da Universidade de Sherbrooke (Quebeque, Canadá) que, aliás, irá promover um colóquio internacional destinado a favorecer a integração da ética pelos atores públicos e em que contextos e condições o comportamento ético pode constituir um vetor pertinente de transformação social.
Sem pretender imiscuir-me na programação de qualquer curso desta universidade que, como as outras, já têm problemas que cheguem, eis um tema que tende a fazer implodir as organizações, que se encontra disseminado pelos quatro cantos do país e a que chamarei “stafismo”, vocábulo a necessitar de uma entrada urgente nos dicionários.  
(*) João Marques, Diplomado em Ciências da Comunicação 

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