segunda-feira, 21 de abril de 2014

PARALELISMOS HISTÓRICOS


É certo que a História não se repete mas há paralelismos históricos que não devemos deixar de ter em conta já que são muitas as comparações que podemos fazer. Para além de notórias diferenças, a começar pela natureza do regime – vivemos em democracia ainda que de baixa intensidade – há factos que actualmente estão a ocorrer em Portugal que nos fazem lembrar o ambiente aqui vivido em vésperas do 25 de Abril de 1974. É notória a degradação da vida política, há uns, poucos grupos económicos que dominam a economia “e vivem de negócios e rendas favorecidos pelo Estado”, a emigração é brutal, a pobreza cresce a olhos vistos assim como a concentração da riqueza num reduzido grupo de famílias, a propaganda intensifica-se para esconder o apodrecimento do regime e até a “caridadezinha” está a fazer o seu caminho mercê da colaboração de gente de bem à altura. 

Melhor do que nós, o prof. universitário Paulo Morais desenvolve este tema na edição em papel do Correio da Manhã do passado sábado, no texto que transcrevemos a seguir.

Em vésperas do 25 de Abril de 1974, o ambiente é de tensão e medo.
Atingiu-se o grau zero da vida política. O Presidente da República, Américo Tomás, é um corta-fitas, limita-se a fazer inaugurações pelo País, acompanhado de sua mulher, Gertrudes. O chefe do governo, Marcelo Caetano, chegou ao cargo prometendo enormes reformas, anunciando a abertura do modelo de administração. Mas ficou refém dos poderes fáticos dominantes e, em particular, dos grandes grupos empresariais. Uma deceção.
O tecido económico é dominado por meia dúzia de famílias que controlam a economia nacional, se alimentam da manjedoura do orçamento e vivem de negócios e rendas favorecidos pelo estado. Os Espírito Santo e a família Mello lideram a lista. Os negócios dependem de mecanismos de cessão de privilégios, dum "condicionamento industrial", de alvarás e licenças, através do qual o poder determina quem pode desenvolver negócios. Os níveis de emigração são galopantes. Todos os anos, mais de cem mil portugueses rumam a outras paragens para fugir da fome e da pobreza. A alternativa é ficarem por cá, trabalhando de sol a sol, a troco dum salário miserável, que nem sequer garante uma sobrevivência com um mínimo de dignidade.
O ambiente social degrada-se. Existe um abismo cada vez maior entre uma multidão de famintos e um pequeno grupo multimilionário. Esta nova aristocracia vive em mansões de milhões, onde se sucedem festas sumptuárias. Mas, em simultâneo, a miséria é crescente. Sucedem-se intermináveis filas nas sopas dos pobres. As senhoras das chamadas famílias "de bem" brincam à caridadezinha, distribuindo bens alimentares pelos famintos. Porque lhes dão comida, arrogam-se o direito de lhes dar sermões, de lhes chamar malandros. O regime disfarça toda esta pobreza e injustiça com os instrumentos de propaganda, onde se destaca a RTP, com os seus atores e cançonetistas do regime, uma informação pró-governamental, o futebol e o fado.
Em 1974, com as Forças Armadas insatisfeitas, as movimentações castrenses são permanentes. Anuncia-se a revolta.
Agora: voltar ao início do texto; substituir 1974 por 2014, mudar nomes (apenas alguns); ler de novo.

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