domingo, 18 de maio de 2014

DEPOIS DA AUSTERIDADE SEGUE… AUSTERIDADE


Ainda que se trate de um país pequeno como o nosso, ninguém de bom senso acredita que uma economia cresça de forma sustentada, baseada apenas numa só refinaria de petróleo. O que sucedeu recentemente é prova disso mesmo, pois bastou que uma parte da refinaria de Sines parasse durante poucas semanas para manutenção para que o PIB caísse 0,7%.
Há males que vêm por bem e este acontecimento tem a vantagem de mostrar que a nossa economia está, como se costuma dizer, presa por arames. Uma qualquer aragem deita tudo a perder.
Um momento de campanha eleitoral não justifica o foguetório atirado pelo Governo, convertendo a mais pura ficção em realidade. Mais uma vez os portugueses se encontram perante um monumental embuste criado pela maioria de direita. A austeridade é para continuar e, tudo o indica, ainda com mais força depois destas eleições para o Parlamento Europeu. No texto que esta semana assina no Expresso Economia, Nicolau Santos aponta, em poucas palavras, os sinais do logro que o Governo eatá a criar. Nada do que dizem está conforme à realidade dos factos.
No momento em que o Governo e os banqueiros que forçaram a vinda da troika para Portugal se preparam para celebrar a sua partida como se fosse um novo 1º de Dezembro (na versão histórico-comparativa do dr. Paulo Portas), abrindo as garrafas de champanhe, eis que a realidade económica e social, que tinha sido escondida debaixo do tapete, entra a cavalo pela porta.
Com efeito, nada pior que embaciar o brilho das comemorações do que a divulgação pelo INE da sua estimativa rápida para o crescimento do PIB no primeiro trimestre do ano, onde se aponta para um recuo significativo de 0,7% relativamente ao último trimestre do ano anterior. Ora a economia portuguesa estava a crescer (taxa de variação em cadeia) desde o segundo trimestre de 2013 (1,1% e depois 0,3% e 0,5% nos dois trimestres seguintes), pelo que esta quebra é preocupante por várias razões.
Em primeiro lugar porque assenta num abrandamento das exportações de bens e serviços (em particular das vendas de combustíveis refinados da Galp que estavam a ser responsáveis em quase 50% pelo aumento das vendas ao exterior), ao mesmo tempo que aceleravam as importações (nomeadamente de veículos automóveis). Em segundo porque este abrandamento da procura externa dirigida à economia portuguesa é mais ou menos generalizado no velho Continente. E, em terceiro, porque estes dados mostram a fragilidade do nosso modelo económico e a inexistência de uma transformação do perfil produtivo da economia durante os últimos três anos.
Aliás, talvez fosse bom olharmos para o dia a dia dos cidadãos para procurarmos as contrapartidas desta vitória, nomeadamente nos sinais da devastação que três anos de ajustamento produziram na saúde económica, mental e social do país. Com efeito, agora, de cada vez que vai a uma farmácia, é usual dizerem-lhe que tem de voltar daí a dois ou três dias porque não existe o medicamento que procura. Se precisa de comprar uma cama, o período de espera varia de dois a três meses. A peça de que o seu carro necessita tem de vir de Espanha, no melhor dos casos, ou de França, ou Alemanha, no pior – e demora duas a três semanas. Com as lentes para óculos acontece a mesma lentidão exasperante na resposta. E vá multiplicando os exemplos. É o regresso à segunda metade dos anos 70 e primeira dos anos 80, onde esta era a (a)normalidade quotidiana. Junte-lhe 10 portugueses que por dia deixam de pagar a renda de casa; mais de 20 mil crianças que tiveram necessidade de acompanhamento psiquiátrico em 2013; o desemprego acima dos 15% e o desemprego jovem acima dos 34%; o corte para metade dos beneficiários do Rendimento Social de Inserção; a diminuição significativa de todo os apoios sociais do Estado; o aumento brutal de impostos e a quebra dos salários e do rendimento das famílias – e o champanhe que alguns beberam no dia 17 terá certamente um travo bastante amargo. Até porque a austeridade vai continuar em 2015.

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