sexta-feira, 4 de julho de 2014

DEGRADAÇÃO DOS CUIDADOS DE SAÚDE


Por muito que o Governo nos queira convencer do contrário, a brutal austeridade que se tem feito sentir em todos os sectores públicos, particularmente no da saúde está a ter consequências dramáticas. Seria impossível que tal não acontecesse porque, como diz o povo, não se fazem omeletas sem ovos. A realidade vem sendo escondida por manobras propagandísticas de diversão mas, a intenção do Primeiro-Ministro ir “além da troika”, como bem realçou, foi aplicada na saúde pública, com todas as letras… O Serviço Nacional de Saúde está, declaradamente, “a perder as suas características de equidade, universalidade e integração” como refere, e bem, no Diário de Coimbra de ontem, Carlos Cortes, Presidente da Secção Regional do Centro da OM.
Não é, pois, por acaso, que está marcada para os próximos dias 8 e 9 de Julho (terça e quarta) uma greve dos médicos, como apoio bem explícito da respectiva Ordem, assim como uma manifestação em Lisboa no próprio dia 8.  
Muito tem sido escrito, falado e debatido sobre a degradação da saúde em Portugal, nestes últimos meses.
Tem havido razões mais que suficientes para este ruído permanente. A começar pelas páginas dos jornais, pelas aberturas dos telejornais ou pelos boletins radiofónicos informativos, passando pelas conversas de rua ou pelas queixas nos próprios hospitais ou centros de saúde.
Todos nós sabemos que o discurso idílico proferido pelos agentes do Ministério da Saúde não tem tradução na realidade diária. Ainda esta semana, a publicação do Relatório da Primavera 2014, pelo Observatório Português dos Sistemas de Saúde, tem um nome elucidativo – “Saúde: Síndroma de Negação”.
Serviços desorganizados por reestruturações hospitalares, Cuidados de Saúde Primários secundarizados, falta de uma verdadeira reforma hospitalar, cascatas de decisões descontextualizadas da realidade nas unidades de saúde, profissionais desmotivados e doentes desprotegidos e desiludidos. Sem esquecer as dificuldades crescentes no acesso à saúde, com o aumento das taxas moderadoras, falta de recursos humanos e técnicos e dificuldades nos transportes. O Serviço Nacional de Saúde está a perder as suas características de equidade, universalidade e integração.
Recentemente, traduzindo estas insuficiências, várias chefias apresentaram a sua demissão (diretores de serviço no Hospital de S. João, no Porto, Diretora Clínica na Universidade Local de Saúde da Guarda, reconhecimento do caos nas Urgências). O próprio Primeiro-Ministro veio dar razão às reivindicações dos diretores demissionários e o Ministro da Saúde apressou-se a responder às denúncias de falta de meios para manter a funcionar convenientemente o hospital de S. João. A falta de médicos denunciada no Algarve – como se isso fosse inédito nesta época do ano – também está a ser apressadamente resolvida.
As organizações médicas têm vindo a alertar os dirigentes do Ministério da Saúde para o verdadeiro colapso que se antevê para o sector.
Mas os silêncios e as intenções soltas nada têm resolvido e só têm servido para agudizar o grave momento que estamos a atravessar.
A sustentabilidade do sector tem sido a desculpa para uma opção política clara de desinvestimento nos hospitais e centros de saúde. O subfinanciamento da Saúde, fruto da crise económica, foi aprofundado, muito além do exigido pela troika, por decisão voluntária do Ministério da Saúde.
Dias 8 e 9 de Julho, os Médicos decidiram lançar um alerta claro ao Ministério da Saúde, ao defenderem a qualidade dos serviços de saúde, ao criticarem os encerramentos previstos de serviços clínicos, ao pedirem condições adequadas para poderem prestar cuidados de saúde de qualidade aos seus doentes.
Dia 8, os Médicos e a população estarão em Lisboa para manifestarem o seu descontentamento e exigirem a dignidade que o sector da saúde merece.
Eu estarei presente nesta causa cívica pela defesa da Saúde!
As sirenes de alarme apitam e ofuscam toso o sector, infelizmente a surdez e a cegueira estão disseminados no Ministério da Saúde.

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