sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O PODEMOS


No texto que assina no número de ontem (13/11) na Visão, o Prof. Boaventura Sousa Santos descreve, de forma sucinta como surgiu o novo partido espanhol Podemos que ameaça agora a hegemonia dos partidos tradicionais espanhóis, ao ponto de estar a causar pânico na direita mais reaccionária do país vizinho. O fenómeno político que constitui o Podemos não surgiu de repente mas teve uma gestação que demorou anos, partindo de bases completamente novas.
O texto, apesar de curto, é muito interessante porque nos dá uma visão geral das bases em que assenta o Podemos, o que permite antever não se tratar de um fenómeno passageiro, caso mantenha as suas linhas programáticas iniciais.
Eis, então, um excerto do artigo.
Para entender o Podemos, é preciso recuar ao Foro Social Mundial, aos governos progressistas que emergiram na America Latina na década de 2000, aos movimentos sociais e aos processos constituintes que levaram esses governos ao poder, às experiências de democracia participativa, sobretudo a nível local, em muitas cidades latino-americanas a partir da experiência pioneira de Porto Alegre e, finalmente, à Primavera Árabe. Em suma, Podemos é o resultado de uma aprendizagem a partir do Sul que permitiu canalizar criativamente a indignação nas ruas de Espanha. É um partido de tipo novo, um partido-movimento assente nas seguintes ideias: as pessoas não estão fartas da política, mas sim desta política; a esmagadora maioria dos cidadãos não se mobliliza politicamente nem sai à rua para se manifestar, mas está cheia de raiva em casa e simpatiza com quem se manifesta; o activismo político é importante, mas a política tem de ser feita com a participação dos cidadãos; ser membro da classe política é algo sempre transitório e tal qualidade não permite que se ganhe mais que o salário médio do país; a internet permite formas de interacção que não existiam antes; os membros eleitos para os parlamentos não inventam temas ou posições, veiculam os que provêm das discussões nas estruturas de base; a política partidária tem de ter rostos, mas não é feita de rostos; a transparência e a prestação de contas têm de ser totais; o partido é um serviço dos cidadãos para os cidadãos e por isso deve ser financiado por estes e não por empresas interessadas em capturar o Estado e esvaziar a democracia; ser de esquerda é um ponto de chegada e não um ponto de partida e, portanto, prova-se nos factos. Exemplo: quem na Europa é a favor da Parceria Transatlântica para o Investimento e Comércio não é de esquerda, mesmo que militante de um partido de esquerda.
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