quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

CORRUPÇÃO RIMA COM NEOLIBERALISMO


Uma ideia recente de auscultar a opinião pública sobre aquilo que se designou como “a palavra do ano” está a ter um resultado previsível mas acima das expectativas. Digamos que de um lote de cerca de uma dezena de palavras, “corrupção” foi a que obteve uma percentagem de votação mais elevada, 60%, largamente à frente da segunda mais votada. Para o comum dos cidadãos, não há qualquer dúvida de que a corrupção é, muito provavelmente, o maior flagelo que nos está a atingir, muito para além de qualquer epidemia. A corrupção é um fenómeno inerente ao próprio capitalismo neoliberal e que não é culpa da acção dos partidos políticos, do mau funcionamento da justiça ou da muito citada transparência, só para darmos alguns exemplos. O que se passa actualmente tem tudo a ver com a submissão do poder político ao poder económico e financeiro que tudo dominam. Manter o statu quo e, se possível reforçá-lo é o objectivo principal destes megapoderes.
O pequeno texto (*) que apresentamos a seguir, foi transcrito do Diário as beiras de hoje e, como que confirma esta nossa curta reflexão.  
Não podemos desligar as escolhas políticas adotadas no mundo nas últimas três décadas destes fenómenos de corrupção que estamos a viver, da degradação de instituições públicas como o SEF, de instituições financeiras e multinacionais envolvidas em esquemas fraudulentos. Isto não se resume à melhoria da transparência, ou à mudança do funcionamento de partidos, ou da justiça.
Não, estes fenómenos estão intimamente ligados a escolhas políticas, á desregulação financeira e à submissão da política a instituições financeiras (bancos, fundos de investimento, offshores, agências de rating), que têm conquistado um verdadeiro e ilegítimo poder político. Sócrates criou o segundo Regime Extraordinário de Regulação Tributária legalizando aquilo que seria a fuga ao fisco de um amigo, abrindo simultaneamente a porta a inúmeros operadores de mercado com contas offshores que aproveitaram para fugir massivamente aos impostos.
Da ENRON ao BES muito foi feito em prol da transparência e da qualidade das instituições, mas o capitalismo financeiro tem sido mais forte. Está na hora de mudar as opções políticas, de domesticar os mercados, de os colocar ao serviço das pessoas.
Hoje, à hora de saída do trabalho dos assalariados, na City londrina corretores de bolsa apostarão como é seu hábito diário centenas de milhares de libras de rendimentos ilegítimos em corridas de cavalos.
(*) Rui Curado da Silva, investigador

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