domingo, 15 de fevereiro de 2015

SOMOS MANIPULADOS


“Quem controla a informação controla o poder” é uma expressão cada vez mais consentânea com a realidade. Por isso, não causa qualquer admiração que o poder tente filtrar a informação que chega aos cidadãos colocando gente da sua confiança em postos chave da comunicação social. Se os pivots e os comentadores dos telejornais são os que são e não outros, não é por acaso. A verdade oficial deve ser inculcada na população, custe o que custar. Sendo assim, o cidadão comum que é “obrigado” a consumir a informação que lhe entra casa adentro deve ter o cuidado de a confirmar em várias fontes para não ser enganado. No que diz respeito à imprensa escrita a situação é idêntica.
Um dos sectores mais importantes da imprensa escrita é o que diz respeito à área económica. Ainda há pouco tempo um profissional da comunicação social escrevia que 90% dos jornalistas da área económica são ideologicamente próximos do Governo. Se esta afirmação for totalmente verdadeira, podemos imaginar que tipo de informação nos chega, ainda que tenha origem no mais honesto dos profissionais…
Para quem puder andar distraído, o seguinte texto de Pacheco Pereira que transcrevemos da última edição da revista Sábado é extremamente revelador… Uma leitura que se recomenda.
O “jornalismo” económico em Portugal caracteriza-se por não ser jornalismo. Há alguns jornalistas económicos que não merecem aspas? Há sem dúvida, mas são a excepção da excepção. E eles são os primeiros a saber que o são e como são verdadeiras as afirmações que aqui faço. Até porque fazer jornalismo na imprensa económica é das coisas mais difíceis nos dias de hoje. Fica-se sem “fontes” sem a simpatia dos donos e dos anunciantes e pode-se ficar sem emprego.
A maioria da imprensa “económica” fá-lo entre páginas e páginas feitas por agências de comunicação, artigos enviados por auditoras e escritórios de advogados, fugas “positivas” de membros do Governo. Quase tudo é pago nessa imprensa, mas esse pagamento não é o salário normal do jornalismo, mas o seu “modelo de negócio”, “vender comunicação” como se fosse jornalismo. É pago por empresas, associações de interesses, agências de comunicação e marketing, por sua vez empregues por quem tem muito dinheiro para as pagar.
O público é servido por “informação” que não é informação, mas publicidade e comunicação profissionalizada de agências, dos prémios de “excelência” disto e daquilo, destinados a adornar a publicidade empresarial, páginas encomendadas por diferentes associações, grupos de interesses e lóbis, nem sempre claramente identificados, anuários em que só se pode estar se se pagar, organização de eventos que parecem colóquios ou debates mas não são.
Um cidadão que não conheça estes meandros pensa que o prémio é competitivo e dado por um júri isento, que as páginas especializadas são feitas por jornalistas e que quem é objecto de notícia é-o pelo seu mérito e não porque uma agência de comunicação “colocou” lá a notícia, que um anuário é suposto ter todos os profissionais ou as empresas de um sector e não apenas as que pagam para lá estar, e que um debate é para ser a sério, ter contraditório e exprimir opiniões não para a propaganda governamental ou empresarial. O acesso ao pódio nesses debates é cuidadosamente escolhido para não haver surpresas, e os participantes pagam caro para serem vistos onde se tem de ser visto, num exercício de frotteurisme da família das filias.

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