sexta-feira, 22 de maio de 2015

RENOVAÇÃO COMUNISTA APOIA SAMPAIO DA NÓVOA JÁ NA PRIMEIRA VOLTA DAS PRESIDENCIAIS?


Cipriano Justo é um conhecido dirigente da Renovação Comunista. O artigo de opinião que hoje assina no Público pode constituir um excelente indicativo sobre o apoio que aquela organização política assim como outras que lhe são próximas se prepararão para dar a Sampaio da Nóvoa já na primeira volta das eleições presidenciais. É bom irmos fazendo as leituras de tomadas de posição deste tipo que, não são de tão pouca importância como poderá parecer à primeira vista.
Considerando que o actual Presidente da República chega ao fim do seu mandato carregando consigo um dilúvio de críticas decorrente da cobertura que incondicionalmente deu às medidas do Governo, é compreensível que, no limiar de um período eleitoral em que os dois órgãos de soberania vão ser escrutinados em momentos muito próximos um do outro, as candidaturas à Presidência da República acabem por seguir uma lógica política equivalente à que se está a verificar com a aceleração da campanha para as eleições legislativas.
E a interpretação que deve ser dada a este fenómeno é a de que os portugueses desejam conhecer desde já quem pode estar em melhores condições para substituir os intérpretes das políticas que nos trouxeram até aqui.
Se quanto às eleições legislativas a principal exigência era conhecer o que eventualmente vai distinguir a coligação governamental da oposição, sobretudo naquilo que vai ser prioritário durante todo o mandato do próximo governo — e no que diz respeito ao Partido Socialista essa exigência está em grande medida satisfeita —, já quanto às eleições presidenciais foi a incerteza que dominou o quadro da concretização das potenciais candidaturas.
Em abono do apelo de uma corrente de opinião que se tem vindo a impor na vida política, defendendo o aparecimento de novos actores políticos a disputar posições nas várias esferas da governação do país, o exemplo da decisão de Sampaio da Nóvoa, sendo de saudar, é sobretudo a manifestação de que existe, fora dos circuitos partidários, quem também saiba interpretar as exigências de certas conjunturas históricas, sem que para o efeito tenha de se apresentar caucionado com o lastro de uma vida político-partidária recheada de cargos. Neste caso, além do seu currículo profissional, Sampaio da Nóvoa apresenta-se como o candidato que retoma o esquecido exercício da eloquência, tão necessária para mobilizar as capacidades indispensáveis à reconstrução de um país em que as pessoas, no dizer de Herberto Helder, já não se queixam “de nada do mundo senão do preço das bilhas gás”.
Não é que a eloquência de Sampaio da Nóvoa se manifeste numa espécie de desprendido “gesto largo, liberal e moscovita”; percebe-se que é antes a tradução de um pensamento estruturado no qual estão sempre presentes os valores da solidariedade e a necessidade de equacionar e influenciar soluções que, estando já identificadas, aguardam a sua concretização. E para quem lhe aponta a ausência de um pensamento político é ler, por exemplo, a entrevista que deu ao jornal i, publicada na edição de 2 de Maio, na qual a certa altura faz uma sofisticada interpretação da política de educação de Nuno Crato: “Quando Nuno Crato diz que 'o importante é o Português e a Matemática', ninguém discorda, mas ele está a utilizar isto como uma metáfora que na verdade ressoa à metáfora organizadora da escola salazarista do 'ler, escrever e contar'. Quando se diz isto, não se está a dizer que o Português e a Matemática são importantes, está-se a dizer outra coisa: que tudo o resto é irrelevante. E foi isto que organizou a escola salazarista.”
É por todas estas razões que as organizações partidárias de esquerda deveriam ajustar os seus cálculos. Aos aspectos tácticos, há que considerar que a candidatura de Sampaio da Nóvoa reúne os critérios necessários e suficientes para que, logo na primeira volta das eleições, derrote o candidato da direita. No plano substantivo e no plano simbólico, este não é um objectivo que deva ser politicamente desvalorizado. A derrota da direita, de maneira a não alimentar veleidades políticas nos próximos anos, tem como condição ficar numa expressiva minoria na Assembleia da República e ver o seu candidato a Presidente da República derrotado na primeira volta.

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