sexta-feira, 5 de junho de 2015

ASFIXIAR O SNS (1)



A situação em que se encontra a saúde em Portugal tem sido tema de muitos artigos de opinião porque se vem assistindo a uma degradação sistemática da qualidade dos serviços públicos nesta área e, só não atingimos ainda patamares mais baixos devido ao empenhamento dos profissionais da saúde “até à exaustão”, em defesa do SNS.
Os aspectos mais brutais dos cortes efectuados no SNS não se fizeram sentir de imediato com a implementação das medidas de austeridade mas agora não há maneira de os esconder dada a sua dimensão e as consequências que estão a atingir.
O texto seguinte (*) é uma de três partes de um artigo de opinião que transcrevemos do Diário de Coimbra de 3/6/2015 em que se enumeram os “alarmes da asfixia financeira a que este Governo/Ministro da Saúde tem sujeitado as estruturas, a organização e os profissionais do SNS”.
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem conseguido sobreviver aos “cortes brutais” que este Governo/Ministério da Saúde lhe tem imposto, devido ao empenho exemplar dos profissionais de saúde que têm lutado até à exaustão para defender o SNS, e ao esforço dos doentes que se viram obrigados a procurar resposta nos privados. De todos os lados chegam alarmes da asfixia financeira a que este Governo/Ministro da Saúde tem sujeitado as estruturas, a organização e os profissionais do SNS. Tudo isto tem a ver com opções políticas liberais do governo e que estão a conduzir ao progressivo desmantelamento do Estado Social em Portugal. A saúde em particular tem estado sujeita a uma política cega de “cortes brutais” no seu financiamento, e como é do conhecimento geral este governo quis ir além das restrições impostas pela troika, impondo ao SNS um financiamento anémico que se reflectiu na qualidade dos serviços prestados e na diminuição da capacidade de resposta: diminuição do número de camas hospitalares a nível nacional (fecharam cerca de 4000 camas, colocando Portugal abaixo da média da União Europeia e da OCDE); diminuição do número de camas de cuidados continuados; encerramento cego de serviços clínicos; acesso a medicamentos inovadores comparticipados praticamente vedado (de 257 medicamentos submetidos a autorização de introdução no mercado, entre Janeiro de 2009 e Novembro de 2014, apenas 9% ficaram acessíveis e comparticipados para os cidadãos); diminuição do número de profissionais que formavam as equipas das urgências e outras; proibição de contratação de profissionais de saúde para colmatar estas saídas em massa; diminuição de material médico e cirúrgico o que provocou atrasos na programação dos serviços de cirurgia e medicina; redução de horários de funcionamento, ou mesmo encerramento de unidades de saúde de cuidados primários, o que obrigou muitos doentes a deslocações penosas, ou mesmo desistirem de ir ao médico. Nesta obsessão pelos “cortes brutais” nem a criação de novas Unidades de Saúde Familiar (modelo de funcionamento de grupos de centros de saúde bem sucedido e amplamente aconselhado, mesmo pela Troika) escapou à fúria de estrangulamento do SNS, perderam-se anos que são difíceis de recuperar.
(*) João Rui Gaspar de Almeida, Presidente da Delegação da Fundação Portuguesa do Pulmão

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