quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O FLAGELO DA POBREZA


Numa altura em que a coligação de direita assim como todas as forças que a suportam não conseguem aceitar terem ficado em minoria na Assembleia da República, é muito importante que se vá recordando aos portugueses a situação em que o governo Passos/Portas deixou os nossos cidadãos e o país.
A comunicação social, muito controlada pelos mesmos interesses que suportaram o Governo agora apeado do poder, mostra-se pouco aberta a debater e revelar a pobreza que cresce em Portugal, fruto das lamentáveis e desastrosas políticas levadas a cabo pela maioria de direita.
A cortina de fumo que se quer levantar sobre os resultados eleitorais vai servindo para esconder aos portugueses a verdadeira realidade em que o país se encontra.
Por isso mesmo é muito importante aproveitar uma ou outra fresta que permita ao cidadão anónimo exprimir a sua indignação pelo que vê à sua volta, sem precisar de outra informação para além dos seus órgãos dos sentidos. Está neste caso o texto seguinte que transcrevemos do Diário de Coimbra de ontem, parte de um artigo de opinião (*) com o significativo título “A pobreza é um flagelo”.
Cerca de dois milhões de portugueses vivem em risco de pobreza, ou seja, têm rendimentos mensais inferiores a 411 euros por mês, ou menos. Um estudo mostra que houve um recuo de 10 anos, nas condições de vida das famílias.
A desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres aumentou nos últimos anos, revela um relatório do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre as condições de vida. O rendimento dos mais ricos era, em 2013, superior em 11 vezes o rendimento da população com menos recursos.
Este é o país que temos depois de anos de austeridade, ao gosto do capitalismo selvagem.
E são as crianças e os idosos os mais atingidos pelas políticas de austeridade, aplicadas pelos governos, obedientes e submetidos à troica.
De 2011 para 2013, a taxa de risco de pobreza aumentou. Atinge quase metade do país. A perda de apoios como pensões de sobrevivência, os cortes nas reformas e em outros apoios sociais, que eram os suportes das famílias, aumentaram as situações de pobreza.
E os tão apregoados sinais de recuperação económica, que ninguém vê, não servem para suavizar o flagelo social que se vive.
E são as crianças e os idosos as principais vítimas. São muitas crianças que chegam às escolas mal alimentadas.
Para acudir e tentar disfarçar este flagelo, o Estado optou por uma política de assistencialismo e de caridadezinha, desprezando os direitos das pessoas e das famílias e os deveres do Estado em acudir aos mais necessitados.
A situação de quase abandono em que os idosos vivem é de desumanidade. São os mais pobres desta Europa.
Portugal falhou no combata à pobreza. “Temos um nível de prestações sociais inferior à média da União Europeia e, mesmo assim, sofreu uma fortíssima redução nos últimos quatro anos”.
O debate sobre a pobreza tem de voltar ao debate político, tornando-se um dever dos próximos governos.
A prolongada crise económica arrastou enormes dificuldades, tirando às famílias o dinheiro necessário para as despesas correntes, nomeadamente com a saúde e a educação dos filhos.
Portugal é dos países mais pobres e desiguais da OCDE, com 1% dos portugueses senhores e donos de 21% da riqueza total do país. Um fosso de desigualdades entre ricos e pobres, um dos países mais desiguais e com maiores níveis de pobreza da OCDE.
E neste país de pobres temos um grupo de gente escandalosamente rica. O presidente da EDP a ganhar 1644 euros por dia. No mínimo, porque o Sr. Presidente da EDP ganha 600 mil euros por ano, mas pode chegar a 1,9 milhões de euros, com prémios de produção e outras regalias.
E os restantes administradores executivos da EDP, com remunerações anuais de 480 mil euros, podem ultrapassar os 1,5 milhões, com prémios e outras regalias.
E o que faz essa gente tão bem paga?
Perante estas obscenidades, estas afrontas à justiça, o presidente da Caritas Internacional, o cardeal Óscar Maradiaga, um dos mais próximos conselheiros do Papa Francisco, critica a austeridade que tem “a economia como Deus”, alertando que “a economia é para o Homem e não o Homem para a economia”. E acrescenta que “se entendermos a austeridade como um ajuste da economia, temos de a combater, de a rejeitar, porque esses ajustes não beneficiam os povos. Servem para produzir mais pobreza. A economia é para o Homem. Não é o Homem para a economia”.
E o Papa Francisco diz: “rezo a Deus para que nos conceda mais políticos que levem verdadeiramente a peito a sociedade, as pessoas, a vida dos pobres”. Por sua vez, o arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, diz que em Portugal não haverá silêncio enquanto houver pessoas sem as condições básicas para sobreviver.
Que o grito de justiça vença o silêncio.
(*) Manuel Miranda

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