domingo, 17 de janeiro de 2016

INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO


Vivemos na Idade da Informação e é costume dizer-se que quem controla a informação controla o mundo. É verdade, porque os grandes detentores dos meios de controlo da informação a manipulam conforme os seus interesses a curto ou a longo prazo. Há muitos acontecimentos que, pura simplesmente são omitidos do conhecimento das populações e outros que são empolados para parecerem aquilo que não são, tudo em proveito de uma pequena minoria que por acção ou omissão os manipula. Não tenhamos a mais pequena dúvida de que, todos os dias, somos sujeitos a influências deste tipo, na maior parte dos casos sem darmos por isso.
O binómio informação/comunicação é o tema deste interessante artigo de opinião (*) que transcrevemos do Diário de Coimbra da passada quinta-feira (14/1/2016).
A informação e a comunicação são termos que podem estar sujeitos a uma confusão complexa, sugerindo alguns autores para o primeiro a parte nobre do conteúdo, deixando ao segundo a manipulação e/ou a submissão a interesses políticos ou de mercados.
Nesta perspectiva, caberia à informação os valores e os interesses à comunicação, tese contrariada por outros investigadores, para quem sem a comunicação não seria possível informar, tema este que mereceu um número especial da revista da Universidade Bordeaux Montaigne (La communication au service de l’information?/1995), ano em que lá me diplomei.
Constitui este um tema cada vez mais premente, como o comprova um conjunto quotidiano de blocos de informação que, ora são sonegados nos principais media internacionais ou, então, morrem à nascença, o que em termos informativos significa a sua dissolução temporal.
Exemplos não faltam. Todos nós somos hoje permanentemente confrontados com a violência no outro lado do Mediterrâneo, com os atentados que atingem algumas cidades europeias e a vaga de refugiados que procuram refazer a sua vida numa Europa politicamente já desbalizada. No Médio oriente como noutros espaços geoestratégicos, há os bons e os maus da fita, encontrando-nos nós, ocidente, no primeiro caso – dizem-nos – e um tal estado islâmico (Daesh) e Assad no segundo, já que, entretanto, enterrámos o Sadam no Iraque, o Kadhafi na Líbia e o Mubarack num hospital egípcio.
Mas, nada melhor do que colocar um grande repórter internacional a falar, caso de Renaud Girard no insuspeito FigaroVox (debates, opinião e controvérsias, Julho, 2015), cujo título da informação é esclarecedor: “a França deve deixar de ser o caniche dos Estados Unidos”, questionando-se como é possível que o presidente Hollande continue a fornecer armas, mísseis “Milan” e metralhadoras 127 e 14,5 a um pseudo exercito sírio livre, quando tais armamentos caem, dias depois, nas mãos de grupos terroristas ligados à Al-Qaeda (Al-Nosra) ou à Arábia Saudita (Ahrar Al-Sham).
Destruímos o regime líbio – sublinha a informação do jornalista – sem prever uma solução de substituição, sem garantia de podermos proteger as populações e sem nos interrogarmos que tal ação serviria os interesses franceses, a médio e a longo prazo.
Ora, o que Renaud Girard desconhecia era o conteúdo da comunicação do correio eletrónico da secretária de estado Hillary Clinton, documentos desclassificados em 31 de Dezembro, em que se afirmava que o líder líbio possuía 143 toneladas de ouro e outras tantas em prata, com reservas na ordem dos sete mil milhões de dólares, com o objetivo de vir a criar uma nova moeda para África, sobretudo, para os países francófonos africanos, criando uma alternativa ao franco-CFA, monetizado pelo Banco Central francês e que teria repercussões incalculáveis para a elite financeira-industrial, pelo que Sarkozy tomou a iniciativa de uma brutal intervenção entre Março e Outubro de 2011, apesar de vir no seguimento de uma resolução do conselho de segurança – reunido à pressa – da ONU, mas cujo parágrafo nono estipulava claramente que “serviria para proteger as populações e as zonas civis de ataques”(!).
Numa outra área mas mantendo-se no binómio informação/comunicação, questiono-me sobre o silêncio fúnebre dado a um comunicado do Banco de França, de 24 de Junho de 2014, com apenas dois parágrafos, informando que o BNP-Paribas tinha de pagar uma multa no valor de 8,9 mil milhões de dólares a Washington, por alegadamente ter negociado com o Sudão, a Líbia e Cuba, países que se encontravam sob embargo americano, mas sem que qualquer lei francesa tenha sido sequer beliscada, apenas as transações foram feitas em dólares.
Face a isto o jornalista do FigaroVox, eu ou qualquer outro cidadão, não podemos deixar de nos questionar sobre as razões que a União Europeia não infligiu uma coima à Goldman Sachs (GS) por esta ter ajudado a Grécia a falsificar as suas contas públicas para poder ingressar na zona euro.
Pelos cálculos do jornalista, a GS devia ter pago algo como 15 mil milhões mas, como até hoje nada se passou, opto por concluir aqui esta revista de imprensa.
(*) João Marques, diplomado em Ciências da Comunicação

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