domingo, 19 de junho de 2016

MARIANA MORTÁGUA SOBRE REFERENDO NO REINO UNIDO



O referendo que esta semana vai ter lugar no Reino Unido pode ditar a saída dos britânicos da União Europeia e constituir um primeiro passo efectivo de um processo de desintegração da Europa que se vem desenhando desde há algum tempo, uma consequência e não uma causa. Ainda que as sondagens apontem no sentido do Brexit (saída) a verdade é que há muitos indecisos e o assassinato de uma deputada do Partido Trabalhista, esta semana, com o factor emocional que gerou, pode fazer pender a balança dos resultados noutro sentido.
O Expresso quis saber várias opiniões sobre esta problemática, entre elas, a da deputada bloquista Mariana Mortágua, e apresentou-as na Revista E. É esse texto da nossa camarada que transcrevemos na íntegra e aqui deixamos, pelo interesse que revela.   
Para escrever este artigo abri os online do costume nas secções “internacional” e “Europa”. Depois de deixar para trás o futebol, lá estavam os títulos: nove em cada dez crianças refugiadas chegam sozinhas à Europa, Hungria aprova nova lei para deter e expulsar refugiados. Tribunal da UE aceita cortes nos abonos de famílias de emigrantes no Reino Unido, euroceticismo em crescendo na UE. Penso que é suficiente. A saída do Reino Unido da UE está a ser preparada sobre algumas das piores razões: um mix de nacionalismo xenófobo e garantias à intocabilidade da City. Mas esta triste evidência não esgota a análise. Alguns dos mais estrondosos erros da história deveram-se àqueles que, entre a coragem de responder às perguntas que importam e a vontade de manter o statu quo, preferiram a última.
Comecemos pela pergunta mais simples; porque cresce a extrema-direita na Europa? Todo o euroceticismo é de direita? A Europa ficará melhor se o ‘ficar’ vencer o referendo?
Ignacio Ramonet escreveu no “Le Monde Diplomatique” sobre a forma como, na História, o medo permanece e apenas muda de lugar. Hoje, o medo da crise, da precariedade e do desemprego encontrou na suposição de uma ameaça extrema o bode expiatório ideal para a extrema-direita. A responsabilidade é das instituições europeias: quando a crise exigia apoio social, vieram a precariedade e a austeridade; quando a deceção exigia mais democracia, vieram a imposição e a humilhação burocrática; quando o drama dos refugiados exigia solidariedade, chegaram o securitarismo e a islamofobia. Não, não é preciso ser um extremista de direita para ser cético sobre esta Europa. À esquerda, a desconfiança aumentou de cada vez que a União Europeia se lançou na sua deriva neoliberal – ou neoconservadora, como alguns preferem.
A expressão do descontentamento generaliza-se, da Grécia à França, e neste referendo britânico como reflexo e não como causa de uma desintegração europeia e da falência da promessa de democracia e Estado social.
Vença quem vencer, o Governo britânico já obteve um acordo europeu. Em nome da “União”, Cameron poderá discriminar estrangeiros na proteção social e manterá a City intocável. É por isso que a Europa já perdeu, num dos processo que marcam o princípio do fim de uma União que não soube servir os seus povos. 

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