sábado, 25 de fevereiro de 2017

A DIREITA EM MANOBRAS DE DIVERSÃO


Francisco Louçã classificava há pouco tempo a gritaria da direita á volta dos SMS trocados entre o ministro Centeno e António Domingues, como uma “garotice” mas, afinal, ela tem, muito provavelmente, razões bem mais profundas. A informação que há poucos dias chegou à opinião pública sobre a ocultação da saída de capitais do país para paraísos fiscais, num montante de quase 10 mil milhões de euros, e, cuja responsabilidade política atinge o ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio, a ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque e, em última instância, o próprio Passos Coelho, configura muito mais do que uma simples “garotice” pois significa um brutal prejuízo para as finanças públicas que, o mesmo é dizer, os bolsos dos contribuintes. Poderemos estar perante um – mais um – inadmissível favorecimento de uma pequena minoria de gente abastada, e em desfavor da maioria dos portugueses.
Nesta altura do campeonato, tendo como pano de fundo o conjunto de desmandos que a direita levou a cabo durante o Governo Passos/Portas, todas as conjecturas são admissíveis para justificarem a actual acção destabilizadora da anterior maioria, incluindo uma manobra de diversão relativamente a ilícitos então cometidos.
Muita tinta ainda vai correr sobre este tema mas, desde já deixamos aqui algumas citações da imprensa escrita que considerámos mais pertinentes.  
Muitos milhares de milhões de euros [saíram para os offshores], de que os dez mil milhões de que se fala agora são apenas uma parte.
(…)
Numa sociedade em que os governantes se indignam com os direitos “adquiridos” dos mais fracos, [é inadmissível que] tenham uma soberana indiferença face a práticas dos mais ricos que roçam a ilegalidade e que prejudicam, e não pouco, a riqueza do país.
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Desde Passos Coelho, furioso e malcriado na Assembleia, até ao passa-culpas do anterior secretário de Estado dos Assuntos Fiscais Paulo Núncio, até ao silêncio da ex-ministra das Finanças que acha que não é nada com ela, todos estão a tomar-nos por parvos.
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Mas há pior: o secretário de Estado quer-nos convencer de algo muito mais grave: é de que não deu por ela que lhe faltavam os números do dinheiro que ia para os offshores.
Pacheco Pereira, Público (sem link)

Se se questiona a existência deste sistema de investimento [em offshores], então acabe-se com ele, uma decisão que apenas pode ser tomada a nível global.
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Tanto o ex-secretário de Estado Paulo Núncio como os ex-ministros das Finanças Vítor Gaspar e Maria Luís Albuquerque, a culminar no ex-primeiro-ministro Passos Coelho, são politicamente responsáveis perante a fuga ao fisco que envolveu a saída de depósitos para offshores.
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Há na classe política portuguesa uma subserviência perante a figura do banqueiro que denota uma real falta de autoridade política e a fraca solidez ética de quem exerce o poder.
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É esta mentalidade que explica as exigências de António Domingues para furar as regras da transparência democrática quando aceitou ir para a presidência da CGD, bem como a conivência do Governo de António Costa na tentativa de contornar a lei.
São José Almeida, Público (sem link)

[Em Portugal] o ajustamento foi uma oportunidade para alterar as relações de poder, e os sacrifícios exigidos á grande maioria, sujeita a uma pressão fiscal insustentável, coexistiram com toda a espécie de manigâncias ao dispor de uma minoria, à qual nunca foram recusadas facilidades fiscais.
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Entre 2010 e 2015, saíram de Portugal para paraísos fiscais 30 mil milhões de euros
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Importa perceber se o não registo de 10 mil milhões foi negligência da Administração ou o resultado de uma decisão governamental.
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Num país descapitalizado e fiscalmente exaurido, a fuga de capitais prova que, de uma forma ou outra, estamos feitos.
Pedro Adão e Silva, Expresso (sem link)

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