quarta-feira, 31 de maio de 2017

A PROPÓSITO DE UM CASO RECENTE...



Há poucos dias , numa escola deste país, duas jovens beijaram-se de forma apaixonada. Tomara que todos os males do mundo se resumissem a situações destas.

FRASE DO DIA (560)


A Europa alemã soa a austeridade, ao mesmo Tratado Orçamental e ao mesmo Pacto de Estabilidade, onde mais integração significa apenas mais controlo sobre os nossos orçamentos.

UMA BOA GUERRA É SEMPRE UMA ANESTESIA


Ainda que com atraso de um dia, não poderíamos omitir aqui o excelente texto da responsabilidade de Francisco Louçã que transcrevemos do Público de ontem.
Todo o mundo conhece as manobras de diversão, leia-se guerras, que frequentemente são utilizadas por presidentes dos Estados Unidos da América para desviar as atenções de sérios problemas internos ou pessoais. Uma das situações mais conhecidas e recentes teve a ver com o caso Mónica Lewinsky que quase levou à destituição do presidente Bill Clinton. Pois bem, todos recordam que Clinton mandou bombardear a Líbia como manobra de diversão em relação ao escândalo em que se viu envolvido.
Como muito bel afirma Louçã neste texto, “em qualquer cenário, o militar é um produto vendável e uma boa guerra é sempre uma anestesia”. Mostrar músculo funciona sempre e esta é a receita aplicada tanto por Trump como por Merkel e Macron sendo ainda mais apetecível por estes já que se encontram à beira de eleições…
Se isto e aquilo, a França entra à bomba, avisou Macron diante de Putin. Estamos por nossa conta e cá nos arranjamos, explicou Merkel depois da reunião da Nato com Trump (a imagem mostra-a com um canecão de cerveja, mas era campanha eleitoral). As duas fanfarronadas foram muito bem recebidas, temos líderes, conclui aquela opinião que vive ansiosa por sinais de autoridade.
Talvez devêssemos parar para pensar um minuto sobre estes sinais.
Foi assim que Trump ganhou as eleições, não foi? Conclusão, isto funciona mesmo. As promessas podem variar (um muro contra os mexicanos, bombardear o Irão ou erradicar a Coreia do Norte), mas resultam sempre. No caso dos Estados Unidos, nem é a primeira vez que colocar galões no ombro de um presidente lhe resolve uma crise, foi assim com o triste George Bush, mas foi também assim que Clinton tentou desviar as atenções do seu processo de impeachment, bombardeando a Líbia.
Em qualquer cenário, o militar é um produto vendável e uma boa guerra é sempre uma anestesia. Por isso, hoje tudo na mesma, só que em muito maior: com Trump, temos na Casa Branca mais militares (“Mad Dog” Mattis, Kelly e McMaster) e mais dirigentes de empresas do complexo militar (Lockheed, Rayheon, Honeywell, Boeing, Halliburton, Chertoff). Com Trump, o orçamento militar cresce mais 50 mil milhões de dólares, ou o mesmo que a totalidade do gasto militar da França. Com Trump, decuplicaram as vendas de armas nos primeiros cem dias: de 700 milhões com Obama passou-se para 6 mil milhões com o novo presidente. Com Trump, está em curso a maior operação de rearmamento da história, o contrato com a Arábia Saudita.
A equação é evidente: quanto pior for a situação interna nos Estados Unidos ou quanto mais fragilizada estiver a presidência Trump, maior é o risco de operações militares fora de portas. Até agora, e passou pouco tempo, Trump já multiplicou os bombardeamentos com drones, lançou uma “mãe de todas as bombas” no Afeganistão e uma mão cheia de Tomahwaks na Síria, tudo para impressionar, hesitando agora sobre o que atacar, se a Coreia do Norte se o Irão. Mas a equação não se engana: se houver crise interna, teremos guerra externa.
Claro que já ouço as vozes avisadas: isso é nos Estados Unidos, país de cobóis, na Europa é diferente. Sim, é diferente. Mas diferente em quê? Já ninguém se lembra, Hollande também andou a fazer o tour de África pelos aquartelamentos franceses e pela história das suas batalhas coloniais. Que vale então a proclamação de Macron? Vale exactamente um trumpismo: ele tem eleições dentro de duas semanas. O que vale a de Merkel? Idem, as eleições são no outono.
A militarização da Europa, facilitada pelo Daesh e pelas carnificinas como a de Manchester, é portanto uma estratégia política e eleitoral. Segue os passos de Trump. Se ignorarmos a prosápia que apresenta a Europa como o centro da sageza e os EUA como o faroeste, verifica-se que o contraste estratégico é nenhum. A motivação é também a mesma: se não se resolvem os problemas da hegemonia social, se os regimes vão tremendo por terem perdido os alicerces, a militarização é a resposta mais simples e mais imediata. O militar é só a força do político sem força. A guerra é só a política sem meios. A militarização da Europa é por isso útil para Macron e Merkel e é necessária para a convergência possível onde só se criou a divergência perigosa. Vamos portanto ter mais deste trumpismo elegante e europeu, que ainda nos pedem que aplaudamos. Ver todos os dirigentes europeus a abanarem a cabeça prometendo gastar mais em armas, como se isso tivesse o mais pequeno efeito na protecção das populações contra atentados terroristas, é assustador: apresentam-nos a medida mais incompetente para não lutarem contra o problema, querem enganar-nos e lançar-nos na espiral de uma nova corrida aos armamentos como se a militarização das nossas sociedades fosse a resposta para o século XXI.
Ora, esta mistura de ignorância e atrevimento é fraca quando parece musculada. Dizia Napoleão, sabedor destas coisas, que as baionetas servem para tudo menos para nos sentarmos em cima delas. É uma lição de poder. Talvez os nossos exuberantes líderes europeus se devessem lembrar dessa lição.

terça-feira, 30 de maio de 2017

MORREU EX-DITADOR MANUEL NORIEGA



Morreu o ex-ditador do Panamá, Manuel Noriega, um antigo aliado dos Estados Unidos que se vai juntar no Pátio da Fama da CIA a Bin Laden e Saddam Hussein.
Noriega foi recrutado pela agência norte-americana CIA ainda nos anos 1950. Décadas depois, caiu em desgraça quando se revoltou contra os seus antigos patrões.
Não tendo sido flor que se cheire, a verdade é que, apenas depois de colocar em causa a hegemonia americana no Panamá, foi acusado de tudo e do seu contrário… Acabou por estar preso até ao final da sua vida.  
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TOLERÂNCIA ZERO PARA BANQUEIROS (e banca). AGORA E SEMPRE!


Nicolau Santos, Expresso Economia (27/05/2017)

FRASE DO DIA (559)


Em 2015, o SwissLeaks expôs dezenas de milhares de contas secretas, abertas no banco HSBS na Suíça, que serviam para de tudo um pouco, de financiamento do terrorismo à fraude fiscal.

OS ACTUAIS BONS RESULTADOS


Ainda que com algum atraso, vamos deixar aqui a transcrição de um artigo de grande qualidade assinado por Domingos Lopes na edição de domingo do Público online.
O tema em apreço tem a ver com as políticas de empobrecimento dos portugueses levadas obsessivamente a cabo pelo governo Passos/Portas, sob o pretexto de que não havia alternativa às imposições da troika e como a actual maioria de esquerda conseguiu provar que essa alternativa existia apesar das restrições a que ainda estamos sujeitos pelas chamadas “regras europeias”.
É natural que a direita ande neste momento desorientada e sem discurso que explique o actual sucesso, depois de terem vaticinado as maiores desgraças que cairiam sobre os portugueses, resultante das políticas de um governo ancorado à esquerda.
Não podendo a direita negar o sucesso da actual maioria, agarrou-se á única bóia de salvação que lhe resta – os actuais bons resultados devem-se às politicas levadas a cabo pelo governo Passos/Portas. Presunção e água benta, cada um toma a que quer…
Houve um tempo (aliás recente) em que uns tantos cavalheiros e umas tantas damas do alto do poder diabolizaram a vida dos portugueses semeando pobreza e tornando os ricos mais ricos. Prometeram que a vida nunca mais seria como dantes e que as populações tinham vivido acima das possibilidades e deveriam pagar no purgatório terrestre a desgraça de não se saberem governar.
Antes da chegada destas damas e destes cavalheiros ao poder, as cidades, as vilas e até aldeias estavam cheias de televisões, painéis a convidar os portugueses a gastarem o mês que ainda não tinham recebido e a pagarem em “éne” prestações o último eletrodoméstico, o telemóvel e as férias nas Caraíbas. Foram muitos os que confiaram nos paraísos anunciados.
Nesse tempo “rigoroso” para os portugueses, todos os dias Passos, Portas, Maria Luís, Cristas e seus camaradas magicavam no que tinham de fazer para castigar os estouvados que, com menos de 500 euros mensais, rebentaram com a economia portuguesa... quiçá em gajas e copos.
Eram feitos cortes brutais na saúde, na educação, na justiça e inventaram-se impostos que incidiam sobre os rendimentos dos “pecadores” que se atreveram a ir no canto das sereias do sistema financeiro indígena e mundial. O que fazia falta era desanimar a malta e empobrecer e de certo modo conseguiram fazer esmorecer o ânimo dos portugueses. Que o digam as depressões que se instalaram.
Vieram eleições (sim, eleições) e quem se esquece de Passos, Portas e Cavaco a maldizerem o Parlamento por escolher a solução do acordo à esquerda? Foram tempos de despautério, pois Cavaco sabia que Passos não formaria Governo, mas indigitou-o.
Ao lado destes músicos da desgraça alinharam comentadores e mais comentadores e um conjunto de tocadores de marchas funerárias a dizer que vinha aí o diabo e nunca por nunca a “gerigonça” seria solução. O último argumento — Bruxelas não deixaria.
Meu deus! O que foram fazer os portugueses. Todos os dias eram dias de desgraça. Abençoados pelo Sr. Schäuble e por um tal Sr. holandês (copiador de teses alheias), aqui na terra lusitana cada dia era um dia de ofensa aos donos disto tudo e contra os quais nada se poderia fazer porque estava escrito “amarás o teu Deus (o mercado) e só a ele obedecerás”…
Ai jesus! Passos continuava de pin ao peito a visitar unidades económicas como se estivéssemos num intervalo de uma sessão de cinema e viesse a segunda parte do empobrecimento e ele continuasse a ser primeiro-ministro.
Ralhava — sim, ralhava — todos os dias por se desmantelar as reformas que tanto custaram a fazer. Todos os dias ralhava, ele e a própria Cristas, contra o que se passava na TAP, nos transportes, na educação, na justiça (contra o mapa judiciário), na economia e por aí diante. E anunciava tristeza pela CGTP não fazer manifestações, ficando por explicar por que razão as não fazia o PSD.
Sempre com ar de zangado pelos disparates do “despesista Costa”, “refém das esquerdas radicais”, Passos anunciava tremendas tempestades e chegou a vaticinar a vinda do Além do chavelhudo por ocasião do inverno. Que medo. O capitão Passos não desarmou e até hoje continua a cantar a canção “ó tempo volta para trás” de Tony de Matos. Não tendo o chavelhudo obtido licença para sair do inferno, veio de Bruxelas o levantamento das sanções por défice excessivo (também há regedores na UE) e de repente parece que tudo mudou.
Num país fofinho, cheio de afetos, começou a procissão de saber quem fez mais pela saída do défice excessivo a que os regedores tinham condenado Portugal. E no país onde é tudo boa gente, o senhor Presidente felicitou este Governo e o outro, sendo que este Governo foi empossado pelas esquerdas para fazer o oposto do outro que, entretanto, passou todo este tempo a apontar o caminho da desgraça pelo Governo de Costa estar a desmantelar o que Passos tinha feito.
Passos, com aquela cara de cinco tostões mal ganhos (não lhe sai da cabeça o empobrecimento competitivo), face ao fim do défice excessivo veio declarar que sim senhor, mas vendo bem as coisas não senhor, porque este desfez o que o outro fez e isso vai pagar-se. Faz lembrar a estória do lobo que comeu a ovelha.
O CDS congratulou-se, mas, há sempre um mas, é preciso continuar as reformas… ok. Quais? Aquelas contra os quais foi empossado este Governo. Mas nem Álvaro Santos nem Maria Luís se importam com a vontade popular. O que conta são os mercados. Porém, nunca foram, nem vão a votos! Olha a lata, pedir aos mercados que respeitem a vontade dos humanos. Isso é o mesmo que pedir aos jihadistas que abdiquem da sharia. Só a vontade dos deuses conta. Só os grandes sacerdotes sabem o que os novos deuses querem e exigem aos pobres mortais. 
Algo se passa no país lusitano: excesso de défice por falta de vergonha estrutural.