segunda-feira, 3 de julho de 2017

TRAGÉDIAS COMO CONSEQUÊNCIA DO FUNCIONAMENTO SELVAGEM DOS MERCADOS


O anterior Governo de maioria PSD/CDS, ideologicamente conotado com o que de mais radical existe no neoliberalismo dominante mostrou pela sua prática uma defesa acérrima do “funcionamento selvagem dos mercados”. Privatizar tudo o que mexe foi o lema de Passos Coelho e Portas, inimigos figadais do 25 de Abril. Levariam esta tendência ao extremo não se desse o entendimento à esquerda que conseguiu colocar um travão na fúria privatizadora e recuperar alguns rendimentos para os cidadãos mais desfavorecidos.
Exemplos recentes de tragédias como a dos incêndios que ceifaram dezenas de vidas, ou o ciberataque à escala mundial a que podemos juntar a completa desregulação da actuação dos drones vêm provar que sem uma forte intervenção do Estado, o funcionamento do sistema capitalista torna-se uma selva onde os mais fracos são dizimados pelos mais poderosos.
O texto seguinte é a transcrição de um artigo se opinião de Nicolau Santos do Expresso Economia do passado sábado, onde aquele jornalista chama a atenção para a necessidade de “limitar os resultados perversos do funcionamento selvagem dos mercados”.
Hayek e os seus filhotes sempre viram o Estado como um empecilho à iniciativa privada e a sua agenda tem sido o desmantelamento de todos os instrumentos que os governos possam utilizar para limitar os resultados perversos do funcionamento selvagem dos mercados. A globalização e a financeirização da economia mundial são a pedra de toque dessa estratégia, diminuindo em inúmeros domínios as soberanias nacionais e a capacidade de os Estados defenderem os seus interesses. Em Portugal, os organismos públicos de pensamento estratégico foram, pouco a pouco, fragilizados ou extintos ao longo dos anos. Durante o período de ajustamento e o consulado do Governo PSD/CDS esta tendência foi acelerada e agravada drasticamente.
Vem isto a propósito de tragédias. Em Pedrógão Grande, todos os dedos acusadores apontam para o Estado e para o Governo, que terão seguramente muitas responsabilidades. Mas é conveniente lembrar que só 2% da floresta são públicos e que o sistema de comunicações de emergência que colapsou nasce de um banco privado que é um caso de polícia, o BPN, e que 40% do capital privado desse sistema de comunicações são de duas entidades, uma falida e outra à beira disso, do universo SLN, dona do tal BPN.
O mercado livre é o melhor que há. Deixado à solta é completamente irresponsável. É por isso que os Estados não podem nunca abdicar de intervir nos mercados
A próxima grande tragédia está à vista (e longe vá o agouro): a queda de um avião comercial devido a um drone. Desde o início do ano vamos em onze (!) incidentes reportados com drones, obrigando os aviões a desviar-se para não colidir com eles. Ora os drones são comercializados por privados e usados por privados. Mas se o Estado não entra a matar e pune duramente quem os usa de forma irresponsável, não será o mercado que vai regular estes comportamentos imbecis e perigosos. E se houver a tal tragédia (longe vá o agouro) vamos lembrar-nos muito de quem se bateu ferozmente para não se construir um novo aeroporto internacional longe de Lisboa.
Outra tragédia: o segundo grande ciberataque mundial. Ele ocorre essencialmente num sistema operativo, o Windows, que é utilizado a nível mundial. É um sistema privado, que também é utilizado por muitas entidades públicas. E por isso as suas vulnerabilidades colocam em causa os dados confidenciais de milhões de cidadãos. Ora, mais uma vez, se não são os Estados a intervir nesta matéria, obrigando ao reforço drástico da segurança dos sistemas operativos, os ciberataques vão tornar-se cada vez mais frequentes e qualquer cidadão pode ser alvo de processos kafkianos que poderão destruí-lo pessoal e profissionalmente.
Conclusão: o mercado livre é o melhor que há. Deixado à solta é completamente irresponsável. É por isso que os Estados não podem nunca abdicar do seu papel de intervir nos mercados. E é por isso que as ideias dos filhotes de Hayek têm de ser combatidas a cada novo dia.

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